ARTIGO, por Sandra Comodaro: A reforma do Código Civil, avanços e desafios

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"A reforma é passo na direção certa, mas não é solução mágica. Dependerá de como será debatida"
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  • "A criação de um livro dedicado ao Direito Civil Digital reconhece que nossa vida online tem valor patrimonial e afetivo"
  • "O Código Civil precisa evoluir, mas sem perder sua função essencial: oferecer estabilidade, previsibilidade e justiça"
Por Sandra Comodaro | colunista Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

Muito se tem falado os últimos tempos sobre a necessidade da reforma do Código Civil em diversos pontos. Passadas mais de duas décadas desde sua promulgação, o Código Civil de 2002 já não dialoga plenamente com a sociedade contemporânea. O Projeto de Lei nº 4/2025 busca corrigir esse descompasso, revisando mais de mil dispositivos. Trata-se de uma oportunidade histórica, mas também de um desafio: modernizar sem comprometer a segurança jurídica.

Algumas propostas são inegavelmente bem-vindas. A criação de um livro dedicado ao Direito Civil Digital reconhece que nossa vida online tem valor patrimonial e afetivo, seja em contratos eletrônicos, heranças digitais ou responsabilidade das plataformas. Era impensável, em 2002, imaginar que criptomoedas, perfis virtuais e dados pessoais fariam parte do patrimônio de uma família. Hoje, ignorar isso seria fechar os olhos para a realidade.

No Direito de Família e Sucessões, a ampliação do conceito de família, o divórcio unilateral em cartório e os testamentos em vídeo demonstram sensibilidade às novas configurações sociais. No entanto, essas mudanças também exigem cautela: simplificar procedimentos não pode significar fragilizar garantias ou abrir brechas para litígios ainda mais complexos.

Escolhas do Editor

Usucapião extrajudicial, por exemplo, pode representar avanço na desburocratização, mas demanda uma rede cartorial preparada e transparente. Já nos contratos, a incorporação de smart contracts e cláusulas de hardship é positiva, desde que acompanhada de critérios claros, sob pena de gerar insegurança no mercado.

A reforma é, na minha opinião, sem dúvida, um passo na direção certa, mas não deve ser vista como solução mágica. Seu êxito dependerá da forma como será debatida e aplicada, bem sabemos.

O Código Civil precisa evoluir, mas sem perder sua função essencial: oferecer estabilidade, previsibilidade e justiça. O desafio é equilibrar inovação com responsabilidade, para que a lei não apenas reflita o presente, mas seja capaz de orientar o futuro. Mais do que atualizar a lei, a reforma do Código Civil é um convite para repensarmos que sociedade queremos construir — e se o direito será capaz de acompanhar sua velocidade.

SANDRA COMODARO
Administradora, advogada, conselheira de empresas e fundadora do Grupo Conselheiras.

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