Aos 16 anos, quando tive meu primeiro emprego, tudo começou a partir de uma relação de confiança. Ela se constrói no tempo – e só se sustenta quando é seguida de entrega. O primeiro passo veio de uma indicação feita pelo meu pai a um amigo. Houve confiança inicial. Depois, veio o trabalho. Esse padrão se repetiu ao longo da minha vida profissional.
Já formada em direito, passei a atuar em uma banca de advocacia. Ao longo dos anos, a atuação profissional levou à formação de uma rede sólida de relações. A partir desse círculo de confiança, construí boa parte da minha carteira de clientes – mais de 1 mil empresas, muitas delas de grande porte. Grande parte dessas relações surgiu por indicação, sempre a partir de experiências anteriores bem-sucedidas. É gratificante receber um novo cliente indicado por outro que já conhece a sua forma de atuar. Essa base se fortaleceu ao longo do tempo.
Dentro dessa estrutura, também fundei novas áreas de atuação e novas filiais. O crescimento ocorreu de forma gradual, acompanhado pela ampliação das relações e pelo aprofundamento da confiança construída no exercício cotidiano da advocacia.
Networking é relação de confiança pura. Ela se constrói no tempo, a partir da convivência profissional, da entrega recorrente e da coerência entre discurso e prática. Confiança não se pede, não se acelera e não se impõe – e se perde quando não é sustentada.
Com o tempo, fica claro que networking não é visibilidade, nem volume de contatos, nem presença em eventos. É previsibilidade. O mercado observa comportamentos, decisões e posturas ao longo do tempo. Alguns nomes permanecem em circulação; outros deixam de ser lembrados.
Já na minha jornada como conselheira, o caminho foi o mesmo. A primeira oportunidade surgiu por indicação de um cliente que eu havia atendido como advogada. Houve ali um empréstimo de confiança, correspondido com entrega e responsabilidade à altura.
Na governança corporativa, essa lógica se mantém. Conselheiros não são escolhidos apenas por currículo. São lembrados pela trajetória, pela maturidade e pela forma como atuam em contextos reais de decisão. Indicações surgem a partir desse histórico, não de conveniência.
Indicar alguém não significa assumir responsabilidade por sua atuação. Cada profissional responde por si. A indicação expressa confiança naquele momento, construída a partir de fatos observáveis. Ainda assim, o mercado lê essas conexões como sinais de trajetória e consistência.
O networking relevante não nasce de movimentos pontuais. Ele se constrói ao longo do tempo, quando postura, preparo e comportamento ficam claros. Não se trata de ser lembrado por todos, mas de ter uma trajetória reconhecida pela consistência.
Peter Drucker sintetizou bem essa lógica ao afirmar que “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Na carreira de conselheiros, criar o futuro passa por escolhas objetivas: como se posicionar, quais projetos aceitar, quais relações construir e quais limites estabelecer.
A minha história é baseada nisso. As transições relevantes da minha trajetória passaram por relações pré-existentes. Networking não antecipa atalhos nem substitui processos – ele emerge quando a trajetória se sustenta.
Boas relações abrem portas. Em Conselhos, o que conta mesmo vem depois: a entrega e a boa governança.
SANDRA COMODARO
Administradora, advogada, conselheira de empresas e fundadora do Grupo Conselheiras.