Em 2020, no Instituto Mulheres do Varejo, decidimos realizar a pesquisa Mitos e Verdades no mundo corporativo. Uma das perguntas foi: “Mulheres precisam se esforçar o dobro para mostrar o seu talento?”. O resultado foi contundente: 85% das mulheres concordaram, enquanto apenas 47% dos homens afirmaram o mesmo. Todo esse esforço, somado à dupla jornada de trabalho e à sobrecarga emocional, tem cobrado um preço alto. Dados de 2024 do Ministério da Previdência Social revelam que 64% dos afastamentos por transtornos mentais foram solicitados por mulheres, com queixas como ansiedade, depressão e síndrome de burnout dominando suas rotinas.
Mesmo em pleno século 21, visões conservadoras ainda perpetuam a ideia de que as mulheres deveriam permanecer em casa, ignorando nossas escolhas e o impacto estratégico da diversidade nas empresas. A inclusão é um fator crucial para o sucesso financeiro dos negócios, mas essa realidade muitas vezes é negligenciada. Por outro lado, também precisamos ser menos críticas com nós mesmas. Já sabemos que somos capazes de realizar diversas tarefas com excelência, mas não é necessário sermos impecáveis. A construção de uma reputação sólida vai muito além de equilibrar todos os “pratos ao mesmo tempo.”
Um exemplo recente ilustra bem os desafios impostos pelos vieses: em um processo seletivo, havia uma vaga para a qual era exigida fluência em espanhol. O candidato homem não hesitou, apesar de não ser fluente, e pediu para ser indicado, afirmando que faria um curso rápido. Já a candidata, que era fluente, disse que precisava avaliar, pois não praticava o idioma há algum tempo. No final, a mulher foi escolhida por suas competências, mas esteve a ponto de não se candidatar. Esses vieses frequentemente minam a confiança das mulheres, levando muitas a duvidarem de suas próprias capacidades. Não por acaso, pesquisas da McKinsey mostram que 37% das líderes mulheres já vivenciaram colegas masculinos levando crédito por suas ideias, contra 27% dos homens que relataram o mesmo.
O ideal é que as mulheres se engajem em comunidades, pois isso nos ajuda a perceber que não estamos sozinhas na busca por soluções para os desafios que enfrentamos. É hora de abandonar o viés de que somos naturalmente competitivas entre nós. Unidas, podemos alcançar muito mais, ajudando umas às outras a crescer.
SANDRA TAKATA
Jornalista, presidente do Instituto Mulheres do Varejo, LinkedIn Top Voice, palestrante, coordenadora e coautora do livro Mulheres do Varejo – Mulheres que Constroem a História do Varejo no Brasil.