[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O melhor ano da Beer4U acontece em um Brasil de 2 mil cervejarias – em 2024, foram exatamente 1.949 cervejarias registradas, alta de 5,5% em relação ao ano anterior e de 487% em dez anos (existiam 332 em 2015). Os estados de São Paulo (427 cervejarias) e Rio Grande do Sul (349) lideram o ranking e concentram 40% do total. Em termos de volume, são 15,3 bilhões de litros produzidos, praticamente estável em relação ao ano anterior. Os dados, do Anuário da Cerveja 2025 (ano-referência 2024), explicitam um mercado aquecido e curioso por novidades. Atento a esse movimento está o sócio-fundador da Beer4U, Eri Soares, que relata crescimento de 25% no faturamento da rede em 2025, apoiado na volta gradual do trabalho presencial e na consolidação do modelo de bar de chope artesanal de bairro. “O home office está diminuindo e as empresas estão voltando ao presencial, e isso reflete diretamente no nosso movimento”, disse Soares ao explicar por que este se tornou o melhor ano da história da franquia.
A trajetória da Beer4U começa em 2012, quando Soares ainda trabalhava com hardware e automação comercial e percebeu, em uma viagem a Monte Verde (MG), que havia espaço para o varejo especializado em cervejas artesanais. De volta a São Paulo, ele lançou primeiro um e-commerce. Ao cadastrar cerca de 500 rótulos sem estoque próprio, descobriu que o consumidor de rótulos especiais comprava unidades variadas, e não caixas fechadas. Ele teve de buscar garrafas no varejo à medida que os pedidos entravam. “Todo mundo estava muito interessado em experimentar”, disse. Em uma época em que a capital paulista tinha apenas três ou quatro pontos relevantes de venda especializada, a Beer4U abriu na Zona Oeste a primeira loja física em 2013. Ainda sem chope, era uma beer store consultiva em que o slogan “cerveja para todos” significava variedade para bolsos e perfis de paladar.
A virada para o modelo atual veio quando o chope artesanal passou a ganhar escala entre 2017 e 2019, impulsionado pelo câmbio desfavorável às importadas e pelas melhorias na cadeia de insumos nacionais. Com a adoção de câmaras frias, que ampliaram a vida útil de um produto altamente perecível, as cervejarias brasileiras passaram a produzir mais chope do que garrafas, e o consumidor migrou para o bar de bairro para buscar frescor em diferentes estilos. Das IPAs (com amargor e aroma intenso de lúpulo) – que dominam a preferência – até as sour (de acidez pronunciada), passando por uma infinidade de estilos e combinações a um preço menor que o de rótulos importados.

PANDEMIA – A Beer4U acompanhou esse movimento e deixou de ser apenas uma beer store. Abriu uma unidade própria (junto ao metrô Vila Madalena, no Sumarezinho) e passou a formatar o modelo de franquias com até 20 torneiras de chope. Com sete unidades abertas em seis meses em 2019, a rede entrou em 2020 com forte expectativa. A pandemia, entretanto, interrompeu a escalada presencial. Mas não derrubou a operação: sem fechar nenhuma unidade naquele primeiro ano, a Beer4U converteu estoque em vendas de growlers (recipientes reutilizáveis de 1 litro) e delivery. O segundo ano da crise sanitária, porém, foi mais duro, com a abertura de canais diretos de venda pelas cervejarias ao consumidor final e a saturação do home office, que afastou o público do happy hour e fez as vendas de e-commerce da rede caírem. De toda forma, a jornada foi de ascensão (tímida, mas contínua) entre 2021 e 2024. Até a retomada do movimento pleno nas unidades da Beer4U em 2025.
Os bares da Beer4U operam com perfil enxuto, em pontos de rua com forte presença de empresas, geralmente com dois funcionários por unidade e tíquete médio de R$ 80 por cliente, apoiando-se em parcerias com hamburguerias e lanchonetes vizinhas para oferta de alimentação, já que a rede optou por não ter cozinha própria. A estratégia permite manter o investimento mais baixo em estrutura e equipe, ao mesmo tempo em que captura o fluxo de quem encerra o expediente presencial. São consumidores de hábitos distintos aos de bares convencionais. Nas palavras de Soares, as unidades são “o bar do bairro”. Estabelecimentos de vizinhança que fidelizam com um serviço enxuto e recebem clientes que frequentam o endereço mais de uma vez por semana. Hoje são oito unidades em operação (uma própria) cujo posicionamento é ser o bar de chope artesanal, em vez de grandes complexos de entretenimento. “Nossos bares atendem muito o entorno. São lugares para tomar um ou dois chopes, em vez de passar a noite”, afirmou Soares.
TRÊS FRENTES – Para 2026, a Beer4U prepara três movimentos que miram diversificação de receita, reforço de marca e resgate das próprias origens em um mercado amadurecido. O primeiro é a Beer4U Express, unidade em Perdizes que será base de uma operação dirigida a eventos, oferecendo chope da marca para festas e celebrações particulares, segmento em que a rede ainda não atuava de forma estruturada. O segundo passo (ainda sem data) é o Festival Beer4U, evento cervejeiro para cerca de 250 a 300 pessoas, com ingressos vendidos exclusivamente nas lojas, voltado inicialmente a clientes que já têm relacionamento com a marca, como espécie de ensaio para edições maiores e abertas ao público amplo. O terceiro projeto é também simbólico: a reabertura de uma unidade no modelo de beer store, sem chope, voltada à compra de garrafas e latas, que resgata o formato original da empresa.
Esse resgate da beer store aposta no cliente que quer “pegar a cestinha” e montar o próprio mix, como fazia até 2017 ou 2018, antes da pandemia. O movimento dialoga com a própria evolução do mercado brasileiro, em que o consumidor passou a alternar consumo em casa e no bar e a buscar diversidade de rótulos nacionais. Hábitos moldados por um setor que se diversifica: são 55 mil marcas e mais de 43 mil tipos diferentes de cerveja registrados no país em 2024. Um ambiente competitivo e em expansão, pela ponta da produção, que acaba impulsionando o varejo e fazendo o consumidor receber mais opções a melhores preços. E ao apostar em bares compactos de bairro, em um braço dedicado a eventos e em um festival proprietário, a Beer4U busca capturar diferentes momentos de consumo da mesma base de clientes, num cenário em que microcervejarias e marcas artesanais seguem se multiplicando e disputando torneiras e prateleiras. “A nossa ideia é estar onde esse cliente está. Seja no bar, no evento ou em casa”, afirmou Soares ao resumir o plano de crescimento da rede para os próximos anos.