Bolivianos vão às urnas no dia 17 após uma campanha sob a sombra de Evo Morales

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BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – “É verdade que estamos passando por dificuldades: escassez de combustíveis, pressão sobre divisas e especulação de preços de alguns produtos. Mas todos devem ter certeza de que são temporárias e que não refletem fraqueza, mas os esforços que a transformação do país implica. Estamos no meio de uma mudança estrutural imparável”, disse o presidente Luis Arce, na Casa de la Libertad, em Sucre.

Foi ali que a Bolívia se tornou independente da Espanha, em 6 de agosto de 1825, sendo refundada como Estado Plurinacional em 2009. Dois séculos depois da emancipação, o vizinho pode estar próximo de uma nova guinada em sua história com as eleições de 17 de agosto, mas ainda à sombra do ex-presidente Evo Morales (2006-2019).

Líder cocaleiro que governou o país por três mandatos, Morales teve sua imagem abalada após uma manobra em busca de um quarto período no poder e sua posterior renúncia, em 2019, um momento de convulsão política e social.

Em 2025, a Justiça Eleitoral decidiu que ele não poderia se candidatar, por ultrapassar o limite constitucional de dois mandatos. Apoiadores bloquearam estradas em protestos que resultaram em mortes de policiais e civis, segundo o governo. Nas últimas semanas, ele pediu que os bolivianos votassem nulo, como forma de rejeitar a gestão de Arce, de quem já foi fiador.

O conflito entre os dois tem ocupado um lugar central na política da Bolívia nos últimos anos e ajudou a desgastar o atual governo. Por diversas vezes, o ex-presidente questionou a capacidade de liderança do atual, enquanto Arce o acusa de tentar derrubá-lo, sobretudo após um levante militar que durou algumas horas em 2024 –um episódio ainda turvo que Evo chamou de “tentativa de autogolpe”.

Em janeiro, um tribunal ordenou a prisão de Evo, por um caso no qual é acusado de abusar de uma adolescente. Ele vive recluso no interior do país, protegido por apoiadores.

Com a crise política e econômica, Arce desistiu de tentar a reeleição e o MAS (Movimento ao Socialismo) indicou Eduardo del Castillo, 36, seu ex-ministro e crítico de Morales pela esquerda, como candidato.

Nome mais popular da esquerda, o também ativista cocaleiro e atual presidente do Senado, Andrónico Rodriguez (Aliança Popular), 36, era tido como herdeiro político de Evo. Os dois se distanciaram nos últimos meses, com o senador tentando liderar um grupo próprio e sendo alvo de críticas do antigo padrinho. “Votar em Andrónico é votar em Lucho [Arce]”, disse Morales a uma rádio.

Pela oposição, Samuel Medina (Aliança Unidade) e Jorge “Tuto” Quiroga (Aliança Liberdade e Democracia) prometem restaurar a confiança econômica dos bolivianos e encerrar o ciclo de mais de duas décadas sem vencer uma eleição.

Medina, um bilionário de 66 anos, é conhecido por ser dono de um hotel de luxo e da franquia Burger King na Bolívia. Foi ministro do Planejamento de Jaime Paz Zamora (1989-1993) e é apoiado pelo ex-governador de Santa Cruz Luis Fernando Camacho (peça-chave na queda de Evo em 2019).

O empresário, que já se candidatou três vezes, defende a redução dos subsídios a combustíveis e quer estreitar relações com os Estados Unidos, promovendo a exploração de recursos valiosos, como o lítio.

Os adversários apontam sua proximidade com Jeanine Añez, que governou como interina de 2019 a 2020 e ensaiou uma chapa com ele de vice para as últimas eleições. Ela foi presa em 2021, sob acusações de conspiração, sedição e terrorismo.

Já Quiroga, 65, foi vice de Hugo Banzer (1997-2001) e assumiu o governo, após o presidente deixar o cargo por motivos de saúde, completando o mandato até 2002. Crítico contumaz dos governos de Morales, ele também é apoiado por políticos da região de Santa Cruz.

Em 2019, foi nomeado por Áñez como defensor do governo interino no exterior. As propostas dele incluem redução do Estado, privatizações, corte de impostos e reforma do sistema de Justiça.

A campanha termina no próximo dia 13 e, apesar de reconhecerem que a oposição leva vantagem na disputa deste ano, analistas alertam que quem quer que ganhe terá o desafio de resolver as insatisfações crescentes da população ou correrá o risco de ver uma nova onda de frustração e violência.

As pesquisas têm dificuldade em captar a intenção de voto, sobretudo em algumas regiões andinas e amazônicas, mas conforme as eleições se aproximam, os institutos passaram a mostrar um aumento nos votos nulos e brancos. Somados, eles superam numericamente os votos a candidatos da oposição.

Na da Ipsos/Ciesmori, encomendada pela emissora Unitel e que ouviu 2.500 pessoas, brancos e nulos somavam 21,7% em 27 de agosto, Medina tinha 21,5%, Quiroga estava com 19,6%, Rodríguez aparecia com 6,1% e Del Castillo marcava 2,1%. Os indecisos eram 12,4%. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais.

Além deles, concorrem à Presidência Jhonny Fernández (Aliança Força do Povo), Manfred Reyes (Bolívia, Junte-se a Nós), Pavel Aracena (ADN) e Rodrigo Paz Pereira (Partido Democrata Cristão). Inicialmente, dez partidos foram autorizados a participar, mas a Nova Geração Patriótica e o Movimento de Renovação Nacional se retiraram da disputa.

Para vencer no primeiro turno um candidato deve ter mais de 50% dos votos ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais em relação ao segundo colocado. Caso contrário, haverá segundo turno em 19 de outubro. A Justiça Eleitoral confirmou que mais de 7,9 milhões de cidadãos podem votar. Eles também vão eleger 130 deputados e 36 senadores.

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