Brasil tem muitas MEIs, mas falta empreendedorismo transformador, diz relatório do Banco Mundial

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil possui um forte crescimento no número de novas empresas, mas grande parte delas não possui um perfil de empreendedorismo transformacional, relacionado a crescimento econômico sustentável e empregos de alta qualidade.

A conclusão é do relatório Empreendedorismo Transformador para Empregos e Crescimento na América Latina e Caribe do Banco Mundial, que foi publicado nesta terça-feira (7).

O relatório define empreendedorismo transformacional como o tipo de atividade que resulta em empresas de alto crescimento, capazes de disseminar tecnologia, criar empregos de qualidade e elevar significativamente a produtividade.

Não é o que acontece no Brasil, diz a instituição, que aponta que o dinamismo empresarial do Brasil é impulsionado principalmente pelo crescimento exponencial do regime de microempreendedor individual (MEI).

Esse tipo de empreendedorismo, que representa quase metade dos registros formais de empresas no Brasil, não se traduz em ganhos substanciais de produtividade ou na criação de empregos em escala, avalia o banco. Isso porque possuem taxas de sobrevivência mais baixas e, quando empregam, pagam salários bastante inferiores em comparação com outras empresas.

“O programa MEI reduziu significativamente os custos de formalização, desencadeando um aumento no registro de empresas”, aponta o relatório. “No entanto, isso não se traduziu em ganhos substanciais em termos de crescimento das empresas ou geração de empregos. Este resultado destaca uma importante lição de política pública: reduzir os custos da formalidade não é suficiente para estimular o empreendedorismo dinâmico.”

Na avaliação do Banco Mundial, o ideal é que essa criação de empresas se concentrasse em firmas mais modernas e dinâmicas, como as sociedades de responsabilidade limitada (LTDAs). O problema, afirma a instituição, é que no Brasil o registro de LTDAs está estagnado desde o fim do boom de commodities.

Os dados mostram as diferenças de perfil entre os dois tipos de empreendimentos: apenas 20% dos proprietários de MEIs têm ensino superior, enquanto quase metade (46%) dos proprietários de sociedades possuem diploma universitário.

Para reverter esse quadro, o Banco Mundial recomenda que o Brasil e os outros países da América Latina e Caribe concentrem as políticas não apenas na quantidade, mas na qualidade do empreendedorismo.

Entre os principais pontos de melhoria, estão o foco no capital humano, com melhoria na educação técnica para que os empreendedores possam aproveitar as oportunidades de alta tecnologia, melhoria no acesso a crédito e reformas regulatórias, com eliminação de barreiras de entrada de novas empresas.

“Temos povos muito empreendedores, a intenção de empreendedorismo é bastante alta”, diz William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe. “Vemos na América Latina que é duas vezes e meia mais provável que se tente ser empreendedor do que na OCDE. Então fazemos empreendedorismo, mas não somos tão bons fazendo isso.”

O relatório projeta um cenário desafiador para a região, que deve registrar o crescimento mais lento entre todas as regiões globais: 2,3% em 2025 e 2,5% em 2026.

O desempenho fraco é atribuído a fatores externos e internos, incluindo a queda na demanda e nos preços das commodities, a inflação que se mantém persistente e o alto nível da dívida pública, que subiu para 63,8% do PIB em 2024.

No caso do Brasil, após subir 3,4% em 2024, a projeção para o crescimento real do PIB brasileiro foi mantida em 2,4% para 2025 e 2,2% para 2026.

A expectativa de um crescimento mais modesto para o país em relação ao ano passado está ligada diretamente aos efeitos da política monetária restritiva, com juros de 15% ao ano.

Para Maloney, o ideal seria que a economia brasileira crescesse de forma mais robusta. O lado positivo é que ele não vê um grande impacto das tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos ao país sobre a economia. “Há impacto, mas é menor do que o esperado”, avaliou.

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