[AGÊNCIA DC NEWS]. Os resultados do IPCA, divulgados nesta terça-feira (10) pelo IBGE, já mostram quais itens pesaram mais na inflação em 2024. Enquanto o índice oficial soma 4,29% de janeiro a novembro, as carnes sobem três vezes mais: 14,80% – e mais ainda no maior mercado consumidor do país, na região metropolitana de São Paulo (18,39%). Entre os itens monitorados, os combustíveis ficam acima da variação do IPCA (9,32% no ano), enquanto a energia elétrica residencial está abaixo (2,91%). O item energia caiu 6,27% no mês, com bandeira tarifária amarela, depois da bandeira vermelha patamar 2 em outubro.
Apesar da desaceleração em relação ao mês anterior (de 0,56%, em outubro, para 0,39% em novembro), o IPCA ficou acima do esperado e também do índice de novembro de 2023 (0,28%). Com isso, o índice acumulado em 12 meses subiu – pela terceira vez seguida – e agora soma 4,87%. Esse índice é o maior para um período de 12 meses desde setembro do ano passado (5,19%). De 11 meses de 2024, apenas em três (março, abril e maio) o indicador oficial da inflação ficou abaixo de 4%.
“A desaceleração mensal é positiva, mas o aumento na taxa anual reflete pressões persistentes em itens essenciais das famílias e de alto consumo, como alimentação e bebidas, principalmente as carnes, transportes, com passagens aéreas em destaque, e despesas pessoais”, afirmou o CEO da gestora Multiplike, Volnei Eyng. Ele observa que são “categorias que impactam diretamente o orçamento do consumidor, especialmente no período de festas, restringindo o poder de compra”. Com isso, novo aumento da taxa básica de juros já é esperado. O analista, por exemplo, fala em alta de 0,75 ponto percentual na taxa Selic, que iria para 12% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia hoje sua última reunião do ano e sob o comando de Roberto Campos Neto à frente do BC. O resultado será anunciado amanhã (11) à noite.
“A alta acima do esperado, mesmo com desaceleração mensal, mantém a inflação acima do teto da meta e deve sustentar a postura bem mais restritiva do Copom”, afirmou Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimentos, que também fala em elevação de 0,75 ponto na taxa básica. “Essa política mais austera pode ter impactos significativos, elevando os custos de crédito para consumidores e empresas, mas se faz necessária para reancorar as expectativas inflacionárias e preservar a credibilidade do Banco Central.”
Apenas em novembro, segundo o IBGE, o item alimentação no domicílio saltou de 1,22%, no mês anterior, para 1,81%. Destaque para as carnes: 8,02%, chegando a 9,31% no caso da alcatra e 8,57% no chã de dentro (coxão mole). A refeição fora de casa foi de 0,53% para 0,78% e o lanche, de 0,88% para 1,11%. Entre os alimentos, cortes de carne bovina estão entre as maiores altas de 2024. A lista inclui acém e patinho (ambos com 18,61% de aumento), coxão mole (15,56%), lagarto (15,50%), alcatra (14,56%) e músculo (14,01%). A carne de porco também se destaca (14,89%). Já a cebola foi o item que mais caiu neste ano (-33,78%). No último dia 5, o IBGE informou que as exportações de bovinos atingiram recorde no terceiro trimestre (706,4 mil toneladas, aumento de 30,6% na comparação anual). “Estamos com exportações recordes, e aqui no mercado interno também temos observado um aumento do consumo per capita das famílias”, disse a gerente da pesquisa do IBGE sobre produção pecuária, Angela Lordão.
Alimentos que com maiores altas em 2024
Laranja pera: 49,31%
Café moído: 32,97%
Óleo de soja: 22,92%
Leite longa vida: 21,91%
Acém e patinho: 18,61%
Pá (carne): 15,83%
Coxão mole: 15,56%
Lagarto: 15,50%
Carne de porco: 14,89%
Alcatra: 14,56%
Costela: 14,29%
Frutas: 11,57%
Segundo a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, no grupo de alimentos, os itens considerados mais voláteis (“Que trazem os impactos inflacionários sazonais acentuados nos períodos de final e início de ano”), como frutas, verduras, tubérculos e hortaliças, não variaram de forma expressiva em novembro. “Nesse sentido, o grande vetor de pressão está nas proteínas, especialmente no subgrupo de carnes, cuja contribuição foi de 0,95 p.p. para o grupo de Alimentação e Bebidas, dos 1,55% computados no mês. E cujo ciclo do produto é o principal fator de pressão sobre os preços.” Ela destaca ainda a alta mensal de passagens aéreas (22,65%). “A proximidade do final de ano e os diversos feriados do mês podem ter contribuído para essa alta”, disse o gerente do IBGE.
O mais recente Boletim Focus, divulgado ontem (9) pelo BC, projeta IPCA de 4,84% neste ano. Seria o maior desde 2022 (5,79%). No ano passado, o índice fechou em 4,62%, com o grupo de alimentos bem abaixo (1,03%). Agora, de janeiro a novembro deste ano, acumula alta de 6,44%. Para 2025, a estimativa do Focus é de 4,59%, com elevação há oito semanas. Nos dois casos, acima do teto da meta de inflação (4,50%, já considerado o intervalo de tolerância de 1,50 ponto para cima). Para a Selic, 12% no final deste ano e 13,50% no próximo.