[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
“Eu acredito” não é apenas o slogan da franqueadora de cosméticos D.O.M. Shampoo. É o mote do negócio e da vida do casal Andrea Martins e Ricardo Angelin, que busca saltar das atuais seis unidades para 20 ainda este ano, sendo dez delas já em fase de implementação. Com expectativa de faturar R$ 5 milhões este ano, 25% acima de 2024, a empresa espera chegar em 2030 com 1 mil operações em atividade. O futuro da marca grita possibilidades: a criação de uma linha de produtos de cabelo voltado ao público infantil, que se soma aos sete itens de marca própria já comercializado em seus salões. Há ainda ampla oportunidade de crescimento no ambiente digital, que começou há três meses e, segundo Ricardo, deve representar no final do ano “entre 10% e 20% do faturamento da empresa”. Se dentro do salão as opções são amplas, fora dele também há um mundo a ser desbravado. E ele se materializa através do Instituto Luna, organização encabeçada pelo casal focada em atender crianças carentes através do esporte.
Foram essas credenciais que garantiram ao salão o Prêmio Empresário de Valor 2025, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), como destaque empresarial do Escritório de Serviços West Plaza da capital paulista. Mas a história começou uma década antes do reconhecimento. Entre a ideia inicial da construção da empresa, ainda em 2015 e o plano de expasão a jornada foi longa. À época o casal já era empreendedor e atuava no comando de um centro empresarial de quatro andares, também na capital paulista, que possuía 1,5 mil metros quadrados, com salão de beleza, natação, clínica de estética e centro holístico. Por lá eles eram donos de um salão, e sublocavam os espaços, cuidando da administração do complexo voltado ao esporte e bem estar.
Neste período Ricardo tinha uma dúvida sobre o universo feminino: por que tantos produtos? Por que tantas linhas? E ninguém conseguia tirar essa dúvida, o que o levou a recorrer a pesquisar constantemente na internet sobre cabelos e estrutura de fios. “Para mim não fazia sentido racionalmente como homem”, disse. Daí nasce o sonho de Ricardo em sintetizar linhas profissionais de cabelos em poucos produtos. O plano ganha ainda mais contorno em 2015, quando o casal viaja para Dubai, com Andrea grávida de sua filha Luna. “Estava no Dubai Mall, que era o maior shopping do mundo, ostentação”, disse ele. Uma das coisas que ele reparou foi que havia nos salões menos opções de produtos para cabelo, com fórmulas concentradas e muitas da marca do próprio salão. “Voltei de lá com essa pulga atrás da orelha.”
A sequência foi uma série de baldes de água fria. Ao questionar uma frequentadora da piscina do centro, dona de uma fábrica de cosméticos, sobre executar um produto com várias funcionalidades, ela logo cortou a ideia. “Ela me disse ‘esquece, não dá’”, afirmou. “Voltei depois de um mês e meio, com papel, falando ‘quero um produto que tenha esses 18 aminoácidos’”, que supostamente resolveria todos os problemas capilares. Outro balde de água fria. Entendeu que devido aos diferentes aminoácidos presentes nos fios, englobar todos em uma mesma fórmula neutraliza o potencial de ação de cada um.
O caminho era procurar misturas, ou blends, prontas de aminoácidos. A ideia era ver quanto cada mistura entrega o resultado buscado. “Um dos blends que a gente usa é da Coreia do Sul, da Ajinomoto.” Ricardo levou a fórmula uma outra vez à mulher que, apesar de apontar inconsistências na formulação que a química de sua fábrica corrigiria, ficou impressionada de ter sido elaborada pelo empresário. Os testes do produto foram realizados entre clientes, colaboradores e amigos do casal, que mostrava a “nova aventura” de Ricardo. A experiência de Andrea, cabeleireira desde 2008, conquistou a confiança dos clientes em testar os produtos, e assim foram galgando espaço entre as marcas preferidas dos frequentadores do salão.
Até o lançamento oficial da marca e do primeiro produto, ainda em 2016, o casal investiu entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. O processo envolveu desde a criação da marca, embalagem, aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e testes específicos. O nome, D.O.M., não foi escolhido por acaso. Ricardo conta que desejava que a companhia tivesse somente três letras e, durante a pesquisa para nomear a companhia, encontrou a sigla D.O.M., datada do século 3. O acrônimo para Guio Optimus Maximus, do latim, significa “Deus é ótimo e máximo”. Foi neste ano também que o casal recebia a recém-nascida Luna. Ambos vinham de casamentos anteriores, cada um já com dois filhos. Nesse momento eles viviam o que chamaram de “duas epopeias”: a resolução tanto da vida pessoal quanto dos negócios. Só que uma se mostrou mais complicada no primeiro momento. Ricardo resume: “você entra no primeiro dia da empresa e pensa ‘como que vendo algo que ninguém conhece e acredita?”
O FORMATO IDEAL – Demorou, mas acreditaram na marca. Após experiências negativas com o ramo de perfumaria ao tentar inserir o produto no catálogo de empresas do segmento, em 2017 o casal optou pela opção arriscada de investir no mercado multinível com apenas um produto. De janeiro a julho, o número de pessoas em atuação na operação chegou a 4,5 mil em todo o Brasil. Isso tudo entre janeiro e julho de 2017. Até o dia 15, precisamente. “E um belo dia o software parou de funcionar. E eu perdi toda a rede e comecei tudo do zero”, disse. Ele nem Andrea se mostram abalados pela série de provações da D.O.M. Shampoo. “Tenho uma facilidade muito grande de superação e resiliência”, afirmou. Apesar do revés, a empresa já tinha uma base de clientes e de venda o suficiente para se manter naquele momento, mas o estrago estava feito. “Imagina que era pra termos faturado R$ 3 milhões, faturamos R$ 10 mil.”
Partiram para o modelo de quiosque, unindo o produto ao serviço de tratamento capilar. O primeiro foi inaugurado em 2 de maio de 2018, após um esforço de seis meses para elaborar o projeto. Ou melhor, adaptá-lo às necessidades, e principalmente receios, da administração do Shopping West Plaza, local escolhido para a operação. Afinal, um quiosque para o tipo de serviço que pretendiam oferecer parecia ser completamente fora da normalidade para o formato. Ali, seriam feitos tratamentos capilares para os clientes do shopping, o que envolve secadores de cabelo e lavatórios. Barulho e fios para todo lado – além disso, não é comum ou simples o acesso de água em corredores de shopping. Com muita insistência e apresentando soluções para cada problema apresentado, conquistaram o quiosque. Ricardo elaborou uma caixa d’água para a viabilização do espaço, dessa vez aprendendo não mais sobre química, agora hidráulica. “Não sou engenheiro, mas fiz.” Para a água descer da caixa d’água, desenvolveu uma bomba de pressão para o lavatório. Havia ainda outro tambor embaixo com a água suja para descarte.
Faziam cerca de 15 viagens diariamente com galões de 20 litros de água, o casal e as funcionárias. Andrea lembra com carinho o período em que o quiosque esteve em funcionamento. “O balcão era gigante, nada aparecia, era tudo tão bonito. Mas tinha esse trabalho.” Neste momento, um amigo de infância de Ricardo estava sob comando da operação, que ajudou a financiar o início do quiosque. Contudo, no terceiro mês, ele vendeu sua parte para Andrea após não conseguir se conectar com o público. O quiosque se pagava, mas o faturamento vinha em queda. “Ou vendia ou não tinha como a gente sobreviver”, afirmou Andrea. Segundo ela, ainda vendiam poucos produtos para conseguirem se manter sem o quiosque. “Era a chance da vida. Não tinha outra opção.”
O cenário de dificuldades logísticas do quiosque de 12 metros quadrados gerou, durante os quase dois anos de operação, situações cômicas no corredor do shopping. Andrea descreve a cena mais rotineira: duas cadeiras, um lavatório, dez mulheres esperando na fila e quatro pessoas trabalhando. “Era tudo muito rápido, de excelente qualidade.” Ricardo chegou a distribuir puffs para as clientes. Ali, um tratamento que demoraria uma tarde em um salão tradicional, era concluído em uma hora e 15 minutos. Uma escova, ainda mais rápido: entre 25 e 30 minutos. Os percalços eram comuns, mas sempre encarados de forma bem-humorada. “Começamos a contratar outras pessoas e [esquecemos] de lembrar que não podia abrir muita água, senão escorria pelo shopping”, disse Andrea aos risos. O público da D.O.M. Shampoo, de alto padrão, tornava a situação ainda mais curiosa: mulheres elegantes, muito arrumadas e que gostavam tanto do serviço que não se opunham a ajudar a escorrer a água quando algum acidente ocorria. Senhoras chiques andando pelo corredor com escorredores, panos e cabelos envoltos de toalhas em meio ao procedimento da vez.
Ainda em 2018, ano em que Ricardo se depara com o modelo de franquias. Foi apresentado por um amigo que acabara de entrar em contato com a OdontoCompany, franqueadora de clínicas odontológicas que, naquele momento, tinha 200 unidades. Ao analisar o formato, Ricardo chegou a uma conclusão: “é isso que vai mudar a minha vida”. A primeira movimentação nesse sentido ocorreu em Ribeirão Preto (SP), pois uma mulher estava vendendo os produtos da D.O.M. Shampoo e o serviço era “muito forte”, até que começou a fazer aplicações à domicílio. Disso, alugou uma sala dentro de uma empresa de contabilidade e fazia os serviços de lá, sozinha, onde cresceu, mas na sala comercial. Foi quando eles constatram detalhes do perfil se público que, segundo Andrea eram das classes A e B. “Por isso ela mudou para um casarão, no melhor bairro de Ribeirão Preto”, disse. Com essa situação e o mercado de franchising em mente, o casal começa a padronizar tudo, do espelho ao secador. No ano seguinte, viraram franqueadora.
Corte no tempo. O ano de 2020 e a pandemia mudaram os planos. O Shopping West Plaza queria encerrar as atividades do quiosque e que Andrea e Ricardo movessem a D.O.M. Shampoo para uma loja. Eram os primeiros 15 dias oficiais da pandemia e, sem saber o que viria por aí, Ricardo negou a proposta. Mas, quando a documentação do distrato chegou e a realidade incerta batia à porta do mundo todo, o casal decidiu reconsiderar. Começariam tudo de novo, pela terceira vez. Os empreendedores tinham inaugurado uma unidade do quiosque no Shopping Itaquera que, com a pandemia, foi encerrada. Ricardo afirmou que não tinham dinheiro naquele momento para a reforma intensa necessária na loja do West Plaza, e optou por soluções mais simples. “Fiz a reforma hidráulica, ajustes de elétrica, adequação de ponto, e pronto.” Assim, aos poucos, eles ajustaram também a operação do quiosque, num vaivém até a inauguração da loja no final do ano. A experiência os fez perceber que o modelo deles não seria mais de franchising de quiosques e, sim, de lojas.
Tudo pareceu finalmente dar certo. Ricardo conseguiu conectar a D.O.M. Shampoo a parceiros estratégicos para analisar o negócio e ter novas perspectivas, diretores de empresas como McDonald’s a Espaço Espaçolaser e Chili Beans, trocando experiências. “Deus vai abrindo as portas e vai se encaixando, sabe?”, disse o empresário. “Fui aprendendo e modelando e modelando o negócio.” E a empresa logo alcançou as atuais seis unidades, processo iniciado em Ribeirão Preto. O valor investido para abrir uma unidade da D.O.M. Shampoo parte de R$ 250 mil.
A ESTRELA – Até que o ano de 2023 chegou. Após uma série de perdas muito próximas, desde a cadela da família à sobrinha por um problema cardíaco, a mãe de Andrea e um amigo para o câncer, em outubro a vida dos dois foi virada de cabeça para baixo. Num sábado, a filha Luna, de 7 anos, acorda indisposta e Andrea corre com a menina até um hospital, que a envia para outra unidade de maior capacidade. Ela é diagnosticada com uma infecção estomacal e volta para casa. No domingo, piora e tem convulsão. Luna dá entrada na UTI e só então o diagnóstico de fato chega. Meningoencefalite, ou seja, infecção na membrana do cérebro, causada por uma herpes. “A herpes tem oito níveis”, disse Ricardo. Até o sexto, é curável ou tratável com remédios. Luna estava com a doença já no sétimo grau. “E aí ela foi piorando”, afirmou ele. Na quarta-feira, foi entubada. Sexta-feira, é declarada morte cerebral. “No sábado, entre às 18h e 19h, eu cremo a minha filha.”
Andrea descreve como viviam um ano desafiador e que a perda da filha caçula os levou a serem mais fortes do que esperavam. “A gente tem que continuar sobrevivendo, porque ela era cheia de vida.” Para o pai, Ricardo, “isso nos deu força para ser exemplo na vida das pessoas”. Ele diz que todos passam por dificuldades, mas nada chega perto de perder um filho. “Porque não tem volta. Todo o resto tem solução.” A fé e vontade de acreditar em algo foi o que manteve o casal de pé nesse momento – mostrar, através da força deles, que apesar dos desafios impostos pela vida, é preciso e possível continuar. “A Luna tem que ser a minha inspiração.”
E assim foi feito. Os próximos passos são uma ode à Luna. Literalmente. A imagem dela adorna o espelho do escritório no West Plaza em fotos e polaroids. A visão da empresa, recentemente alterada, resume o impacto da “estrela”, como a chamam: “transformar vidas através da autoestima”. O próximo passo da D.O.M. Shampoo é a inauguração do Instituto Luna, que pretende auxiliar crianças carentes através do esporte, em especial a natação, uma das paixões da menina. O objetivo é que a instituição comece a funcionar ainda este ano. E também irão lançar uma linha de produtos infantis, em especial o shampoo Luna, numa embalagem de estrela. O produto será destinado à doação para atender crianças em necessidade. Andrea se emociona ao tratar da homenagem à filha. “Ela sempre falava ‘mamãe, eu vou brilhar tanto’. Eu não imaginava que era tanto”, afirmou.
A missão da empresa, antes apenas parte de um plano de negócios, se torna um mantra ecumênico: devolver o que tem conquistado à comunidade, além de honrar a memória de Luna com ações voltadas também para o auxílio da autoestima de mulheres em vulnerabilidade, seja por meio de doações ou ações diretas da empresa. “Elas precisam acreditar em si mesmas. Todo mundo merece acreditar em si”, disse Andrea, que finaliza com a frase que norteia o sentido de seu ser: “Entedemos, finalmente, que a D.O.M. não é só sobre fazer cabelo.”