Cesta básica em São Paulo cresce menos que a inflação desde 2021, diz Neogrid/FGV

Uma image de notas de 20 reais

(Adriana Tofetti / Folhapress)
  • Preço da cesta entre outubro de 2021 e junho de 2025 sobe R$ 190, passando de R$ 776 para R$ 966 no período
  • Alta volatilidade nos últimos anos é explicada, em parte, por eventos climáticos; tendência é que preços se estabilizem nos próximos ciclos
Por Bruno Cirillo Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. O preço médio da cesta básica em São Paulo subiu 24,5% desde outubro de 2021, quando o indicador da Neogrid elaborado junto à FGV Ibre, foi lançado. Em reais, percentual representa alta de R$ 190 passando de R$ 776, para R$ 966 verificados em junho de 2025. O resultado acompanha o IPCA no período, que somou 23%, segundo o IBGE. Pela correção da inflação, o preço da cesta estaria, em junho de 2025, na casa dos R$ 954,6. De acordo com a coordenadora de sucesso do cliente e de dados estratégicos da Neogrid, Anna Carolina Fercher, é perceptível que “muitos itens que são importantes para a cesta básica subiram muito de preço entre esses dois extremos”. A Cesta de Consumo da consultoria registra queda em sete das oito capitais pesquisadas. Nos últimos meses, os itens que tiveram impacto negativo, pressionando as cotações para baixo, foram o arroz, café, proteínas e ovos. O arroz se destaca com queda em todas as cidades abrangidas pela pesquisa.

O levantamento da Neogrid em parceria com o FGV Ibre leva em conta 18 itens alimentares, além de outros 32 componentes da chamada cesta ampliada, que inclui produtos de limpeza, higiene, beleza e indulgência. A trajetória dos preços, no entanto, não tem sido homogênea entre as capitais. Sete das oito cidades pesquisadas registraram queda no custo da cesta nos últimos meses, puxadas por alimentos que voltaram a aliviar o bolso do consumidor. Arroz, café, proteínas e ovos foram os principais responsáveis por esse recuo recente – com destaque para o arroz, que apresentou queda em todas as localidades.

De acordo com Fercher, a retração no preço do arroz tem explicação direta: uma safra robusta, beneficiada pelo clima adequado no Sul do país. “Foi um cenário de oferta acima da demanda. Em momentos assim, o preço tende a ceder”, analisa. O mesmo vale para o café, que vinha pressionando a cesta desde o final de 2024, mas que perdeu força nos últimos trimestres. Ainda assim, os reflexos da alta anterior permanecem. “Entre os dois extremos da nossa série histórica, muitos itens ainda acumulam altas expressivas”, afirma.

Escolhas do Editor

Se por um lado há sinais de acomodação, por outro a composição regional da cesta impõe contrastes. O Rio de Janeiro, por exemplo, continua liderando o ranking das cestas mais caras do país, com preço médio de R$ 986,70 em julho, mesmo após recuo mensal de 1,7%. Em Belo Horizonte, a cesta mais barata, o preço médio ficou em R$ 690,70, após queda de 2% no mês. “A tributação, o consumo local e o mix de produtos influenciam diretamente no preço final”, diz Fercher. Segundo ela, não é que a cesta mude de um estado para outro, mas sim a volumetria e o tipo de item consumido.

Há também diferenças relevantes entre a cesta básica tradicional e a versão ampliada. Na cesta estendida, que inclui categorias como achocolatado, snacks e itens de limpeza, o comportamento dos preços é ainda mais volátil. Fercher aponta snacks, frutas, óleo de soja, leite em pó e pão como os principais ofensores da cesta em São Paulo neste momento. “A composição muda, mas alguns vilões se repetem. E há produtos com forte influência de commodities, como o óleo, que seguem muito sensíveis a choques externos”, afirma.

Com um histórico recente marcado por oscilações pontuais, a perspectiva para os próximos meses é de relativa estabilidade – desde que o clima colabore. “A tendência é que a volatilidade diminua, a menos que haja algum evento climático extremo ou choques nos combustíveis”, diz Fercher. A observação é importante: boa parte dos itens da cesta depende de transporte rodoviário e, portanto, do preço do diesel. Há ainda o tempo de repasse ao varejo, que varia conforme o ciclo de produção de cada item.

Aspas

A tendência é que a volatilidade diminua, a menos que haja algum evento climático extremo

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Anna Carolina Fercher

No recorte nacional, Brasília lidera em alta acumulada desde o início da série histórica, com avanço de 39,5% no custo da cesta. No extremo oposto, o Rio de Janeiro teve a menor variação, de 19,7%. “O Rio já tinha uma cesta muito cara em 2021. Quando o preço parte de um patamar elevado, a oscilação tende a ser menor”, afirma Fercher. Na outra ponta, a capital federal partia de uma base mais baixa e teve uma recomposição mais intensa. A composição da cesta reflete não só o poder de compra da população, mas também suas escolhas e seus hábitos alimentares.

Mais do que um termômetro de preços, a cesta básica tem se consolidado como indicador relevante de bem-estar econômico. O fato de ter subido menos que a inflação em quase quatro anos é um alívio estatístico que, no dia a dia, ainda não se traduz em euforia. Mas é, sim, um sinal de resiliência da oferta em um país marcado por choques frequentes – do clima ao combustível, da logística à demanda global. E também serve de alerta: o preço do alimento é volátil, e a trégua pode ser breve.

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