PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – A missão chinesa na ONU (Organização das Nações Unidas), por meio do embaixador e chefe da delegação, Fu Cong, enviou ao secretário-geral da organização uma carta em que afirma que a líder japonesa, Sanae Takaichi, expressa ambições de intervir militarmente devido à questão de Taiwan. Trata-se, segundo Pequim, de ameaça do uso da força contra a China.
O documento, de acordo com declaração da missão chinesa na ONU, tem como objetivo detalhar a posição do regime em relação às declarações de Takaichi ao Parlamento japonês.
“Se o Japão ousar tentar uma intervenção armada na situação do Estreito [de Taiwan], estará cometendo um ato de agressão. A China exercerá resolutamente seu direito de autodefesa, conforme previsto na Carta da ONU e no direito internacional, e defenderá firmemente sua soberania e integridade territorial”, escreveu Fu.
“Esta é a primeira vez, desde a derrota do Japão em 1945, que um líder japonês defende, em um contexto oficial, a noção de que uma contingência para Taiwan é uma contingência para o Japão e a vincula ao exercício do direito à autodefesa coletiva”, diz a declaração.
O estopim para a crise, que dura cerca de duas semanas, foi uma fala da primeira-ministra do Japão ao responder um parlamentar da oposição sobre em quais situações Takaichi acionaria as forças de defesa do país. De forma hipotética, ela respondeu que uma intervenção militar da China em Taiwan era um exemplo. Isso porque um ataque a navios de guerra americanos usados para romper um bloqueio chinês poderia exigir que Tóquio se envolvesse para defender os EUA, seu aliado.
Desde então, o regime chinês fez diversos movimentos para pressionar a primeira-ministra a se retratar. Declarou que a fala viola a estabilidade diplomática entre os países, que teria ultrapassado limites e que o envolvimento do Japão na questão resultaria em uma derrota esmagadora para o Exército de Libertação Popular, como se denominam as forças chinesas.
Também emitiu um aviso a seus cidadãos recomendando que evitem viagens ao Japão, levando companhias aéreas como a Air China a permitir reembolsos e alterações sem custos.
Em resposta, Takaichi afirmou que quer manter uma relação construtiva com a China, mas reiterou o apoio a Taiwan caso Pequim decida tomar a ilha pela força.
Para Pequim, a China continental e Taiwan são duas partes de uma só China. Na nova declaração, o embaixador chinês enfatizou que as falas da primeira-ministra constituem “grave violação do direito internacional” e que “Taiwan é um território sagrado” de seu país, além de pedir novamente uma retratação da governante.
“Essas declarações são gravemente errôneas e extremamente perigosas, com uma natureza e um impacto profundamente maliciosos. Apesar das repetidas tentativas de aproximação e protestos da China, o lado japonês se recusa a se arrepender ou a retratar suas declarações equivocadas. A China expressa forte insatisfação e firme oposição.”
A carta, enviada na sexta (21), precede uma declaração do chanceler Wang Yi sobre o assunto, tornando-se o primeiro membro do Politburo, órgão máximo de governança do regime chinês, a falar sobre o tema.
O ministro afirmou, em conversas com jornalistas da mídia estatal chinesa, que a declaração passou dos limites e que a China deve responder com firmeza para salvaguardar a soberania e a integridade territorial do país.
“Uma pessoa sem integridade não pode se manter no poder, e uma nação sem integridade não pode se manter no mundo. A China insta o Japão a refletir sobre seus erros e corrigi-los o mais rápido possível, e a não permanecer obstinado”, afirmou.