[AGÊNCIA DC NEWS]. A inflação oficial subiu abaixo do previsto em julho (0,26%, para uma expectativa de mercado de 0,36%), E com variação menor que a de igual mês de 2024 (0,38%). Com isso, o acumulado em 12 meses desacelerou para 5,23%. Mas a série histórica do IBGE para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra que, um ano atrás, o índice acumulado estava menor, tanto no ano como em 12 meses (4,24%). Preços de alimentos voltaram a cair, enquanto a energia elétrica residencial novamente pesou sobre a inflação: a alta de 3,04% nesse item representou impacto de 0,12 ponto percentual, quase metade do IPCA total. “Sem a contribuição da energia elétrica, o resultado do IPCA de julho ficaria em 0,15%”, disse o gerente do IPCA, Fernando Gonçalves. A energia sobe 10,18% no ano – é a maior alta para o período desde 2018 (13,78%). Representa impacto de 0,39 ponto na inflação de 2025 (3,26%) – 12% do total. Os resultados divulgados nesta terça-feira (12) reforçam movimento de revisão das projeções para este ano, já sinalizado com o boletim Focus, que agora aponta 5,05% para o IPCA deste ano. Foi a 11ª queda seguida.
Quem acaba de revisar sua projeção foi a XP, de 5% para 4,8%. “As surpresas baixistas foram observadas em todos os grupos de preços livres, com destaque positivos em bens industrializados e alimentos”, afirmou o economista Alexandre Maluf. “No geral, a leitura foi alvissareira, com os principais núcleos de inflação mantendo trajetória de desaceleração.” Para o analista Sidney Lima, da Ouro Preto Investimentos, pressões pontuais, como a da energia, seguem influenciando o IPCA, “mesmo em um cenário ainda contido para o núcleo da inflação”. A expectativa revisada para este ano “deixa claro que o mercado ainda aposta na convergência da inflação à meta, mas com atenção redobrada a choques de oferta ou reajustes tarifários”.
Claudio Pires, sócio-diretor da gestora MAG Investimentos, destacou também as quedas dos preços de combustíveis para veículos (-0,64%, sendo -0,51% para gasolina, -0,59% para diesel e -1,68% para etanol) e vestuário (-0,54%). E citou as altas da energia e das passagens aéreas (19,92%, impacto de 0,10 ponto). “O resultado de hoje abaixo do esperado e com uma abertura qualitativa positiva deve favorecer revisões para baixo nas expectativas de inflação de 2025.”
Em São Paulo, que tem peso de quase um terço (32,28%) no índice, o efeito da alta na conta de luz foi maior, com variação mensal de 10,56%, após reajuste em uma das concessionárias (Enel). Em Campo Grande (MS), o IBGE registrou deflação (-0,19%), inclusive com queda (-1,39%) na energia. Cinco das 16 áreas pesquisadas – entre capitais e regiões metropolitanas – tiveram deflação: além de Campo Grande, Rio Branco (AC, -0,15%), Goiânia (GO, -0,14%), Belém (PA, -0,04%) e São Luís (MA, -0,02%). A região metropolitana de São Paulo ficou com a maior alta do mês (0,46%), seguida de Porto Alegre (0,41%), Curitiba (0,33%), Recife (0,32%) e Aracaju (0,28%).
ENERGIA E ALIMENTOS – Com o aumento da energia, o grupo Habitação teve alta de 0,91% no mês passado. A taxa de água e esgoto subiu 0,13%, após reajustes em Brasília, Rio Branco e Salvador. Entre os grupos que compõem o IPCA, Despesas Pessoais registrou a segunda maior elevação (0,76%), impacto de 0,08 ponto. Segundo o IBGE, o resultado foi influenciado pelo reajuste nos chamados jogos de azar (11,17% e 0,05 ponto).
O grupo Alimentação e Bebidas teve queda pelo segundo mês seguido: -0,18% em junho e -0,27% em julho. A alimentação no domicílio caiu 0,69%. O IBGE destaca três produtos: batata inglesa (-20,27%), cebola (-13,26%) e arroz (-2,89%). Mas comer fora ficou mais caro: a alimentação fora do domicílio subiu 0,87%, ante 0,46% no mês anterior. A alta do lanche foi de 1,90% (ante 0,58% em junho) e a da refeição, de 0,44% (ante 0,41% em junho).
Para o economista José Alfaix, da Rio Bravo, os alimentos in natura foram a principal surpresa do mês, ao sustentar “resiliente processo de desinflação”. Além disso, o aumento dos preços de energia, “devido à época mais seca do ano”, foi menor que o previsto. “A média dos cinco núcleos de inflação segue apresentando melhora”, afirmou. “Desacelerou de 0,29% em junho para 0,27% em julho, com 3 de seus componentes recuando na margem.”
O CEO da Holding Grupo X, Jorge Kotz, disse que o resultado de julho “mostra uma inflação ainda sensível a choques de custo, mesmo com desaceleração no acumulado de 12 meses”. É momento de disciplina financeira, segundo ele: “Setores intensivos em energia tendem a sentir pressão imediata em margens e capital de giro”. Outro CEO, Richard Ionescu, do Grupo IOX, a economia está em “ponto de estabilidade”, mas ainda com juros elevados. “Esse cenário mantém a demanda por soluções de crédito fora do sistema bancário tradicional, especialmente em setores que precisam de capital rápido para financiar expansão e operações de maior escala.”
INFLAÇÃO 2025
(Janeiro a julho)
Principais altas
Café +41,46%
Jogos de azar +11,17%
Energia elétrica residencial +10,18%
Lanche fora do domicílio +6,78%
Principais quedas
Arroz -16,94%
Passagens aéreas -13,58%
Batata inglesa -13%
Carnes -0,95%