[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel) prevê um fim de ano otimista para o setor. Conforme pesquisa da entidade, 81% dos empreendedores esperam ter alta no faturamento em comparação com o mesmo período do ano passado. O otimismo é sustentado pela baixa do desemprego, que atingiu o menor nível da série histórica em outubro (5,4%), cerca de 5,9 milhões de desocupados, de acordo com o IBGE. Com o impulso natalino, Joaquim Saraiva, diretor-executivo da Abrasel-SP, prevê que o setor feche 2025 com crescimento de 4,5% após “alguns tumultos”. Se confirmado, o avanço será superior aos 4,2% registrados em 2024. Ele também antecipa que a expectativa da entidade para o ano que vem é de crescer 5%. Mas é preciso ter os pés no chão. Ainda que os empresários se mostrem otimistas, o executivo reforça a importância de não extrapolar na aquisição de estoque para eventos de final de ano, em especial de produtos perecíveis, tendo em vista a queda do movimento esperada para o mês de janeiro.
A atenção ao estoque se apoia também no comportamento dos preços praticados. De acordo com relatório da Abrasel-SP, 49% das empresas reajustaram os preços conforme ou abaixo da inflação acumulada em 12 meses, o que tem pressionado as margens dos restaurantes. Em novembro, o IPCA acumulado em 12 meses foi de 4,46%, segundo o IBGE. Para Saraiva, a acomodação da inflação anual em patamares inferiores a 5% deu ao setor de bares e restaurantes um fôlego para se programar para receber mais clientes no período das festas natalinas e confraternizações empresariais. “Os estabelecimentos com maior capacidade física devem aproveitar melhor o aumento das reservas e demanda”, disse.
Para os eventos de final de ano, a expectativa da Abrasel é que o Estado de São Paulo registre alta de até 40% entre os estabelecimentos de grande porte, e de 20% para os menores. “E o tíquete médio fica em R$ 120 por pessoa”, disse. Patrícia Andrade de Oliveira e Silva, professora de fundamentos da economia na ESPM, explica que a maior frequência nos bares e restaurantes promete estimular os negócios e aumentar o otimismo para a entrada de 2026, depois de um ano de arrefecimento das vendas no comércio em geral. Ela cita que fatores como o 13º salário impulsionam esses resultados no fim do ano e que, a partir do ano que vem, outro fator terá influência positiva nos gastos do brasileiro com alimentação fora do lar: a isenção do imposto de renda, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em novembro.
Apesar do cenário positivo, ainda há pontos de atenção. Os principais deles envolvem o alto patamar da taxa de juros e o fato de 79,2% da população estar endividada, conforme a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Silva afirma que isso tem tornado o consumidor mais cauteloso e seletivo, com a priorização de ocasiões especiais e busca por custo-benefício. “Quando decidimos gastar, queremos qualidade e ambiente agradável”, disse. Para ela, o controle das expectativas nas vendas de final do ano é importante para evitar que, caso não se confirme o fluxo previsto inicialmente, não haja uma pressão nas margens que impacte substancialmente o quadro de funcionários.
Segundo o executivo da Abrasel-SP, são contratados, no mínimo, três funcionários temporários por estabelecimento durante esse período. “É uma oportunidade para o trabalhador se adaptar e ser efetivado”, afirmou. No Brasil, um terço (32%) dos empresários do setor pretende ampliar a equipe durante o período de festas, principalmente auxiliares de cozinha (70%) e garçons (54%). De acordo com dados da Associação Brasileira do Trabalho Temporário (Asserttem), ano passado foram abertas cerca de 450 mil vagas temporárias no setor de serviços no país, ao longo de todo o ano, incluindo alimentação. Para este ano, é esperado que o setor de serviços crie 160,5 mil vagas temporárias apenas entre outubro e dezembro.
Quanto ao estoque e fluxo de caixa, Saraiva recomenda que as compras sejam reguladas conforme a previsão de consumo, antecipando, inclusive, a queda natural do movimento em janeiro, período de férias e que o brasileiro tende a poupar recursos para as despesas extras de início de ano, como IPVA e IPTU. Para fazer uma mensuração mais exata, Silva, da ESPM, afirma que o empresário do ramo alimentar precisa investir em tecnologia.
A implementação de softwares de gestão para monitorar validade dos produtos e o ritmo de giro, o cálculo de estoque sazonal para bebidas e pratos típicos, a criação de estoque de segurança para imprevistos e o treinamento da equipe para controle rigoroso durante o período, a fim de reduzir também o desperdício de alimentos. Dentro do bar ou do restaurante, a dica de Saraiva é ser simples e claro. “Uma opção é fazer reuniões prévias para alinhar expectativas e pedir paciência aos funcionários”, disse. Ele sugere ainda que sejam criadas ofertas especiais, assim como opções acessíveis para atrair consumidores com maior endividamento. “Mas sem sacrificar a qualidade.”
CRÉDITO E EXPECTATIVAS – Apesar da manutenção da taxa Selic em 15%, conforme a reunião do Copom do dia 11 de dezembro, o diretor-executivo da Abrasel-SP afirma que os investimentos dos empresários em suas operações seguem, mesmo em estabelecimentos menores e com menor poder de obtenção de crédito. Conforme levantamento da entidade paulista, em novembro, 29% das empresas permanecem com dívidas em atraso, sete pontos percentuais a menos que em outubro. Entre os principais débitos estão impostos federais (58%), tributos estaduais (58%) e empréstimos bancários (39%). “O patamar ideal da Selic para nós seria 5%”, afirmou. “Para estimular o poder de compra e investimentos no setor.”