Com juro baixo, agências estaduais financiam de microempresas a turismo

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CURITIBA, PR, MACEIÓ, AL E RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Ancoradas em baixas taxas de juros e com foco em micro e pequenos empreendedores, agências de investimento estaduais se transformaram em alternativa para desenvolver a economia local, oferecendo linhas de crédito que impulsionam desde a expansão de microempresas até o desenvolvimento de projetos turísticos.

Há casos em que os juros são de 0,25% ao mês e até onde eles não são cobrados se o tomador do empréstimo pagar as parcelas em dia. Pelo menos 17 estados possuem agências de financiamento, enquanto outros estão desenvolvendo iniciativas nesse sentido ou optam por agências de desenvolvimento, nas quais são facilitadas condições para a chegada de investidores, como incentivos fiscais.

São características dessas agências, além de capital com juro baixo, oferecerem linhas de crédito definidas a partir do porte da empresa, com foco em setores considerados chave para o estado em que se encontra, como energia renovável, infraestrutura, tecnologia e industrialização.

O foco da Desenvolve Roraima, agência de fomento do governo de Roraima, por exemplo, é oferecer linhas de crédito para pessoas físicas e jurídicas de pequeno porte, como um microempreendedor individual ou microempresa optante do Simples Nacional, além de pequenos e médios produtores rurais.

A professora aposentada Evaldina Freitas, 59, que se tornou produtora rural há mais de cinco anos, já tem o dinheiro da próxima parcela que ela deve à agência, e que vence nos próximos dias.

Ela emprestou R$ 21 mil para construir um poço artesiano no seu sítio, na área rural de Boa Vista, e irrigar suas pimenteiras, que depois viram molhos feitos por ela e vendidos em redes de mercados, restaurantes, peixarias e frutarias.

“Agora está chovendo muito mas, quando o verão chegar, tem que aguar três vezes por dia. E aquele poço simples que geralmente tem no interior não supre. Meu poço agora tem 30 metros e é muita água, nunca falhou”, diz ela, que hoje precisa irrigar 1.350 pés de pimenta.

Evaldina planta pimentas ardosas, de todo tipo —carolina reaper, tinidad scorpion, malagueta, murupi, olho-de-peixe, caiena e dedo de moça, entre outras.

O tamanho atual da produção já permite que ela venda não apenas os molhos, mas também a pimenta propriamente dita. Mas os molhos seguem como produto principal da marca que criou, a Pimentas Guerejé.

“É a primeira vez que eu financio alguma coisa aqui no sítio, mas para mim foi importante, hoje tenho água com fartura. Mas tem que saber que você está emprestando. Eu não ganhei nada”, afirma ela, que vai pagar todo o empréstimo em cinco anos, até 2028.

“Depois do poço artesiano, a primeira colheita foi de uma tonelada. É muita pimenta. Dei uma festa na minha família”, conta ela. “Foi uma vida lecionando, como professora. E hoje tenho muito orgulho e me sinto muito feliz como produtora rural”, diz.

Minas Gerais foi o primeiro estado a ter uma agência de promoção de investimento, em 1968, com a Invest Minas, e elas se espalharam pelo país, com características distintas.

No Rio, a AgeRio, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, apoia projetos de todos os portes com recursos próprios e repasses de instituições parceiras. Em 2024, liberou R$ 23 milhões em financiamentos de microcrédito e, neste ano, lançou uma linha de microcrédito com juros de 0,25% ao mês para micro e pequenas empresas do Rio.

No Centro-Oeste, o Desenvolve MT, em Mato Grosso, oferece linhas de créditos baixos para jovens empreendedores e mulheres empreendedoras (R$ 15 mil e taxa de 0,50% ao mês) e, no ano passado, liberou R$ 21,3 milhões em crédito para empreendedores —189% mais que em 2023.

Já em Goiás, a Goiás Fomento flexibilizou neste ano regras de exigência de garantia imobiliária para crédito acima de R$ 50 mil, com o objetivo de beneficiar micro, pequenos e médios empresários. Antes, considerava no máximo 55% do valor do imóvel como garantia para liberar o valor, percentual que agora chegou a 68%.

No Sul do país, a Fomento Paraná é uma instituição financeira de economia mista com capital social majoritariamente pertencente ao governo estadual, que começou a funcionar em 1999 e que agora também é responsável pelo FIDC Agro Paraná (Fundo de Investimento Agrícola do Paraná), lançado recentemente.

A Desenbahia, agência de fomento da Bahia, funciona como uma instituição financeira com oferta de crédito ou financiamento para o setor produtivo e municípios, além de administrar fundos estaduais, inclusive aqueles ligados a garantia da PPPs. Ela utiliza recursos próprios, repasses do BNDES e Fundese (fundo estadual). Somente em 2024, foram liberados R$ 238 milhões para empreendedores.

No Rio Grande do Norte, a Desenvolve RN já investiu mais de R$ 298,4 milhões em um total de 57,6 mil operações que contemplam negócios de todos os portes em seus 25 anos de atuação.

Existem fundos com taxa de 5% ao ano + INPC, mas há também uma linha de microcrédito que não cobra juros se o cliente pagar a parcela em dia, destinada a empreendedores informais e MEIs (Microempreendedores Individuais).

É esse o caso de Maria José Joventino da Silva, 55, a ‘Dona Linda’, que atua no município de Pureza. Ela começou vendendo seus doces porta a porta, mas a situação estava difícil, já que tinha poucas vendas e a maioria era fiado, quando o cliente compra pagar pagar depois. Com o primeiro empréstimo em 2013, de R$ 3.000, ela passou a produzir mais e a participar de eventos maiores.

“Nesses eventos, encontrei meus clientes, que começaram a me ligar e pedir meus produtos. Comecei a fazer entregas. A melhor parte dos empréstimos é não pagar juros. O último empréstimo que fiz foi de R$ 12 mil, para a irrigação das frutas, já que agora eu consigo fazer o doce com a minha própria produção.”

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