BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O comando dos Correios avisou aos superintendentes da empresa que eles passarão a ser cobrados pela melhora dos resultados da companhia nos próximos meses, com a instituição de metas a partir de janeiro de 2026.
A nova administração não descarta a substituição dos superintendentes que não tiverem performance em linha com o objetivo de recuperação das finanças da estatal. O recado foi transmitido em reunião realizada na manhã desta segunda-feira (27).
Os Correios possuem 28 superintendências estaduais, uma para cada unidade da federação e duas para São Paulo (uma para a região metropolitana e outra para o interior). Alguns desses cargos são usados para abrigar apadrinhados políticos de aliados do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No Executivo, a promessa é de que o novo presidente dos Correios, Emmanoel Schmidt Rondon, terá carta branca para fazer as mudanças necessárias, dada a gravidade da crise. Um técnico afirma, sob reserva, que a empresa precisa de um “choque de gestão”.
Sem espaço no Orçamento para socorrer a companhia, o governo será fiador de um empréstimo de R$ 20 bilhões concedido por bancos públicos e privados, como revelou a Folha. A conclusão da operação depende diretamente da solidez do plano de reestruturação da empresa, que precisará demonstrar capacidade de reduzir gastos e elevar receitas.
Dentro e fora do governo, no entanto, há dúvidas se Rondon conseguirá de fato usar a carta branca que lhe foi prometida. Na troca da diretoria, por exemplo, Rondon decidiu substituir nomes ligados ao PT e ao Podemos, mas manteve dois diretores ligados ao União Brasil, sigla do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
A decisão de monitorar o desempenho dos superintendentes foi tomada pelo comando dos Correios após o diagnóstico de que a empresa, hoje, não tem metas fixadas para seus funcionários, nem uma cultura de monitoramento. O acordo coletivo firmado com os trabalhadores não faz nenhuma menção a esse tipo de métrica.
Introduzir desde já um modelo de gestão de desempenho para toda a companhia poderia gerar atritos, sobretudo num momento em que vários outros benefícios serão alvo de mudanças, como o plano de saúde da companhia. Por isso, a ideia é começar a cobrar primeiro dos gestores.
Na reunião, segundo os relatos, a empresa sinalizou que os superintendentes precisarão fazer o acompanhamento do desempenho de cada empregado e cobrar pontualidade nas entregas. A avaliação é de que, sem cumprir os prazos prometidos, fica difícil atrair novos clientes, ampliar as cargas e, consequentemente, impulsionar as receitas.
A companhia também indicou que não haverá apenas cobrança, mas também valorização de boas performances. Ainda não está claro, porém, como se daria essa valorização.
As metas formais de resultado só serão instituídas em 2026 porque, no momento, há uma série de pagamentos a fornecedores, o que afeta a operação da empresa. Por isso, a ordem interna é usar o dinheiro do empréstimo para regularizar os passivos e, a partir daí, cobrar melhora dos resultados.
Como mostrou a Folha, o plano de reestruturação dos Correios deve incluir mudanças no plano de saúde dos funcionários, a redução no número de agências da estatal e a criação de um fundo imobiliário para ampliar receitas da empresa.
A avaliação de técnicos envolvidos nas discussões é que, embora a crise dos Correios seja financeira, o desequilíbrio é estrutural e decorre de medidas de gestão, como aumentos sequenciais de custos, uso do caixa próprio para fazer investimentos e estratégia precária de negócios. O plano de reestruturação precisará convencer os bancos de que os problemas serão atacados.
Além dessas ações, Rondon anunciou, em sua primeira entrevista coletiva, um novo PDV (programa de demissão voluntária).
A iniciativa não será igual ao que já foi feito neste ano e que teve adesão de 3.705 funcionários, com economia anual estimada em R$ 700 milhões. Segundo o presidente, o novo programa vai priorizar desligamentos em áreas onde já se detectou ociosidade.
Técnicos que participam das discussões afirmam, porém, que as dificuldades financeiras do Postalis, fundo de pensão dos funcionários da estatal, é um empecilho para maior adesão ao PDV.
A avaliação é de que os empregados perderam a confiança no fundo, cuja fatura de rombos passados recaiu sobre a empresa e sobre os participantes, por meio de cobranças extraordinárias que reduzem o valor líquido do benefício. O receio de ficar sem acesso ao plano de saúde também é um obstáculo à adesão ao PDV.