Comércio: 2024 deverá ser o melhor em vendas desde 2012. Economistas veem 2025 incerto

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Setor de Vestuário teve segunda alta mensal. E cresce 2,7% no ano
(Freepik)
  • De janeiro a novembro, volume de vendas no varejo cresceu 5%, com destaque para supermercados e produtos alimentícios
  • Analistas chamam a atenção para alta dos juros e seus efeitos sobre o consumo e a própria atividade econômica
Por Vitor Nuzzi Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

[AGÊNCIA DC NEWS]. Os dados da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgados nesta quinta-feira (9) pelo IBGE, indicam que o crescimento das vendas no varejo será o maior desde 2012. No acumulado do ano, até novembro, o volume cresce 5% (e 4,6% em 12 meses), com destaque para Hiper/Supermercados&Produtos Alimentícios (5,2%), Artigos Médicos, Farmacêuticos e de Perfumaria (14,4%) e Veículos&Peças (12,2%), este último já no varejo ampliado. Mas as condições da economia, com inflação em alta e novo período de aperto monetário, carregam incertezas para 2025.

“Vale destacar que, dos últimos cinco meses, os resultados positivos de julho (0,6%) e de setembro (0,6%) foram os únicos a apresentar variação fora da faixa de -0,5% a +0,5%”, disse o gerente da pesquisa, Cristiano Santos. “Mesmo com esse cenário estável, é interessante observarmos que o indicador acumulado no ano [5%] é expressivo sobre os anteriores.” De outubro para novembro (-0,4%), os resultados decepcionaram, segundo Rodolfo Margato, economista da XP.

As vendas no varejo ampliado (que incluem os grupos de Veículos&Peças e Materiais de Construção), por exemplo, caíram 1,8%, bem pior do que a projeção da consultoria (-0,5%). O grupo de Veículos&Peças ainda mostra alta de 12% no ano, “refletindo o aumento das concessões de crédito”, segundo Margato. “Mas os melhores dias podem ter ficado para trás”, afirmou. Segundo os cálculos do banco, os segmentos de varejo mais sensíveis ao crédito declinaram 4,7% em novembro, após salto de 5,6% em outubro (levando a um avanço de 1,1% na métrica de trimestre móvel).

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SINAIS MISTOS – Já o varejo restrito veio em linha com as projeções, “com sinais mistos entre os segmentos”, disse o economista da XP. Ele destacou a queda no mês de novembro nos grupos de Móveis&Eletrodomésticos (-2,8%). Por outro lado, Equipamentos e Materiais para Escritório, Informática e Comunicação (3,5%) e Vestuário e Calçados (1,4%) registraram o segundo avanço consecutivo na base mensal. “Esses grupos parecem ter sido influenciados pela ação promocional Black Friday”, afirmou.

O setor de Vestuário cresceu 2,7% no ano e 2,4% em 12 meses. “Em resumo, os gastos pessoais com bens perderam força no quarto trimestre”, disse. O economista acredita que as vendas varejistas continuarão a esfriar ao longo de 2025. Isso deve ocorrer devido ao aumento da inflação, aperto das condições financeiras e menor impulso fiscal. A XP projeta alta de 2% para o PIB neste ano, após crescimento de 3,6% em 2024.

“Apesar da queda em novembro, o varejo avançou quase 5% com destaque principalmente para Vestuário e Supermercado”, disse o CEO da Speedo Multisport, Roberto Jalonetsky. Na análise dele, apesar de estar longe do ideal, isso mostra que o ano passado foi um período de recuperação. “Entretanto, 2025 tem o desafio da alta taxa de juros, que deve frear o crescimento.” O empresário brasileiro precisa ser resiliente e saber crescer na adversidade, segundo Jalonetsky.

Também para o economista Matheus Pizzani, da CM Capital, o dado de novembro contrariou as expectativas do mercado. Ele também mencionou a Black Friday e lembrou que o resultado do comércio durante o mês de novembro era visto com grande. “No entanto, o que de fato ocorreu foi uma queda quase generalizada.” Ele observou que da mesma forma que na pesquisa da indústria (divulgada pelo IBGE na quarta 8), grupos compostos por itens cuja demanda é mais sensível aos ciclos econômicos também fecharam novembro no terreno negativo. “Casos, por exemplo, de Móveis&Eletrodomésticos (-2,8%) e Veículos&Peças (-7,6%)”.

Pizzani chamou a atenção para o fato de essas quedas ocorrerem em cenário de desemprego relativamente baixo e renda em alta. “Vetores vinham sustentando bom nível de desempenho da economia a despeito das turbulências enfrentadas no campo da inflação”, afirmou. Para 2025, a expectativa dele é negativa para o setor do comércio. “É importante considerar projeção negativa quando levada em consideração a desaceleração pelas sucessivas altas na Selic e seu efeito”, disse. A Selic alta também deve ter efeitos negativos para a atividade econômica, no geral, e para o emprego, em particular, na análise do especialista da CM Capital.

Vendas no Comércio Varejista (em volume %)

Ano/SetorGeralAlimentos& SupermercadosCombustíveisVestuário& Calçados
201010,98,96,610,6
20116,74,01,53,6
20128,48,46,93,5
20134,31,96,33,4
20142,21,32,6-1,1
2015-4,3-2,5-6,1-8,6
2016-6,2-3,1-9,2-10,9
20172,11,5-3,37,6
20182,33,8-4,9-1,0
20191,80,40,60,1
20201,24,8-9,7-22,5
20211,4-2,60,313,7
20221,01,416,6-0,5
20231,73,73,9-4,6
2024*5,05,2-1,62,7
Fonte: IBGE (* Até novembro)

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