Construção civil reduz projeção de crescimento do setor para 1,8%

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O setor da construção civil brasileiro vai começar 2026 com um ritmo mais lento de crescimento. A FGV (Fundação Getulio Vargas) e o Sinduscon-SP revisaram a projeção do PIB do setor para 1,8%, abaixo da estimativa anterior, de 2,2%. Foi o segundo corte no ano, que começou com expectativa de alta de 3%.

Segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do FGV/Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), o desempenho deve ficar até mesmo abaixo do cenário mais pessimista traçado no início de 2024.

Os resultados foram divulgados nesta terça-feira (10), em coletiva de imprensa.

Ana Maria afirmou que o principal motivo da revisão é a queda no consumo de materiais de construção pelas famílias. Segundo ela, juros elevados, renda comprimida e endividamento frearam reformas e pequenas obras, impactando diretamente o setor. Até setembro, apenas 47% da demanda por materiais veio do segmento familiar.

Com isso, o crescimento de 1,8% do PIB da construção será “puxado pelas construtoras”, cujo PIB deve avançar 2,7%. Ana Maria disse que foram as construtoras que sustentaram o ritmo de atividade em 2024 e devem repetir o papel em 2025.

Robson Gonçalves, professor da FGV, disse que a economia de 2025 foi marcada por desaceleração, com a inflação persistindo em alta, começando a ceder no segundo semestre. Enquanto a taxa de juros real segue muito elevada, na faixa dos 10%, desestimulando os investimentos na produção.

Para o economista, a inflação não deverá cair para 3%, porém é possível que os juros diminuam moderadamente ao longo de 2026.

Já o investimento em infraestrutura deve registrar crescimento de 3,9% neste ano, chegando a R$ 277 bilhões, frente aos R$ 267 bilhões de 2024. A alta vem principalmente do setor privado, ancorada em concessões já contratadas.

No mercado imobiliário, a atividade segue aquecida. Lançamentos e vendas residenciais aumentaram, impulsionados pelo Minha Casa Minha Vida, que deve fechar 2025 com quase 400 mil contratações. No entanto, projetos de média e média-alta renda sentem mais os juros altos.

MÃO DE OBRA E RISCO FISCAL PREOCUPAM SETOR

Para 2026, a FGV projeta avanço de 2,7% no PIB da construção, com empresas (2,8%) e famílias (2,6%) contribuindo de forma mais equilibrada. Mas o otimismo é moderado.

A escassez de mão de obra qualificada segue como maior entrave, de acordo com o Sondagem da Construção. O mercado de trabalho atingiu pleno emprego em 2025, e o custo com pessoal deve fechar o ano com alta próxima de 10% –pressão que pode comprometer o crescimento se não houver resposta estrutural.

O presidente do Sinduscon-SP, Yorki Estefan, afirmou que a construção demandará uma mão de obra mais especializada e cara. Para ele, o Programa Reforma Casa Brasil vai competir com as contrutoras, por absorver mão de obra informal.

A sondagem mostrou ainda que os empresários do setor seguem moderadamente pessimistas, mas apostam que vão contratar mais nos próximos meses e que o programa de reforma do governo Lula irá aquecer os serviços especializados da construção.

Há ainda as incertezas derivadas das eleições de 2026, o cenário internacional instável e, sobretudo, o risco fiscal. Ana Maria afirmou que, se a questão fiscal não for tratada em 2027, a deterioração das contas públicas será forte, com impactos diretos sobre obras e investimentos.

“No mínimo teremos um ano turbulento em 2026, e algo precisará ser feito em relação aos gastos públicos em 2027”, disse Eduardo Zaidan, vice-presidente do Sinduscon-SP.

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