[AGÊNCIA DC NEWS]. O número de empregos formais na construção civil ultrapassou a marca histórica de 3 milhões pela primeira vez desde 2014. O número foi alcançado em maio deste ano, o que correspondeu a um crescimento de 3,4% em relação a igual mês do ano anterior (2,9 milhões). Os dados fazem parte do relatório do segundo trimestre de 2025 da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic). De janeiro de 2020 até maio de 2025 a construção já criou 948 mil novos postos de trabalho formais. Nessa mesma base de comparação, todos os segmentos do setor registraram alta: Construção de Edifícios (3,34%); Infraestrutura (1,17%); e Serviços Especializados para a Construção (5,23%). Para Renato Correia, presidente da Cbic, os dados mostram a força e a resiliência do setor, mas também reforçam a urgência de medidas que garantam um ambiente mais favorável à produção e ao investimento. “A construção civil segue gerando empregos, movimentando a economia e contribuindo para o crescimento do país.”
Os dados, divulgado na segunda-feira (25), mostram que 47,7% das vagas criadas foram ocupadas por jovens entre 18 e 29 anos, e 62,2% dos admitidos têm ensino médio completo, o que, segundo a entidade, desmonta dois estigmas recorrentes sobre a mão de obra do setor. O salário médio de admissão, de R$ 2.436, é o maior entre todos os setores pesquisados, incluindo serviços, indústria e até administração pública. Dados divulgados pelo Ministério do Trabalho demonstram que os estados de São Paulo, Minas Gerais e Santa Catarina foram os três maiores geradores de novos empregos na construção. Nesse período, somente o Acre apresentou um número de demissões superior ao de admissões. São Paulo (17.729), Belo Horizonte (9.266) e Salvador (4.482) foram as três cidades do país que mais criaram novos postos de trabalho no período de janeiro a maio deste ano.
A análise, conduzida pela economista-chefe da entidade, Ieda Vasconcelos, revelou, no entanto, uma contradição no setor, com uma queda expressiva do crédito para a produção acendendo um alerta para o médio prazo. Nos primeiros cinco meses de 2025, foram financiadas apenas 24.115 unidades com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), uma redução de 62,9% em relação ao mesmo período de 2024. Em valores, a queda chegou a 54,1%, passando de R$ 15,5 bilhões para R$ 7,1 bilhões. De acordo com a economista da Cbic, esse cenário de descompasso está relacionado à alta da taxa Selic – mantida em 15% – e a queda sistemática na captação líquida da caderneta de poupança, que perdeu R$ 38,4 bilhões só no primeiro semestre. “O custo do crédito está elevado. Os bancos têm priorizado o financiamento à aquisição, em detrimento da produção”, disse Ieda.
Já o nível de atividade da construção civil, medido pela Sondagem da Indústria da Construção da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com a Cbic, atingiu 48,8 pontos em junho de 2025. O resultado é o melhor desempenho desde novembro de 2024, mesmo com o índice abaixo da linha dos 50 pontos, que separa expansão de retração. Para a CBIC, ainda assim, o resultado representa uma sinalização positiva: mostra que o setor segue em desaceleração, mas com menor intensidade do que nos meses anteriores. A sondagem capta a percepção de empresários do setor, que respondem sobre o ritmo de suas atividades, utilização da capacidade instalada, contratações e expectativas. “O leve avanço registrado em junho sugere uma possível tendência de recuperação gradual, impulsionada por lançamentos anteriores”, afirma o gerente de análise econômica da CNI, Marcelo Azevedo.
Pela segunda vez consecutiva, a Cbic manteve sua projeção de crescimento para 2025 em 2,3%. O bom movimento, no entanto, deve se manter principalmente por projetos e contratos que foram já firmados. Entretanto, as expectativas para novos empreendimentos e serviços caíram para o segundo menor patamar do ano. Para a economista, o setor está vivendo o reflexo do que foi lançado nos últimos dois anos. “Se o atual ambiente de juros elevados persistir, há risco de desaceleração mais acentuada a partir de 2026.” De acordo com o presidente da Cbic, a construção civil é um setor intensivo em mão de obra, com impacto direto na renda, na geração de empregos e no PIB. “Limitar seu crescimento é comprometer o desenvolvimento do país”, afirma Correia.