SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, disse que o Copom (Comitê de Política Monetária) não está enviando qualquer tipo de sinal ao mercado financeiro sobre o rumo da taxa básica de juros do país, a Selic.
“Esse é um comitê que não tem nenhum tipo de intenção de operar o mercado, tentar conduzir alguma coisa nesse sentido”, afirmou ele em evento do Bradesco Asset nesta quarta-feira (12), em São Paulo.
O colegiado, reforçou ele, se move conforme os dados econômicos e é “humilde” em reconhecer que o país enfrenta um ambiente de elevada incerteza. “Esse é um Banco Central dependente de dados, e nossa comunicação tem se esforçado para ser o mais factual possível. Ou seja, escrever o que estamos enxergando.”
O Copom decidiu manter a taxa Selic em 15% na reunião da semana passada, adotando um tom conservador na comunicação que transmitiu a decisão. Segundo o comitê, a manutenção da taxa no nível atual por período “bastante prolongado” é o suficiente para a convergência da inflação à meta, e, em um cenário de “elevada incerteza”, a estratégia é adotar cautela e vigilância.
Parte do mercado esperava que o Copom retirasse o advérbio “bastante” da frase, abrindo espaço para ajustes mais cedo, o que não ocorreu.
Na ata da reunião, divulgada na terça-feira (11), consta que o colegiado reconheceu que houve moderação gradual na atividade econômica, “certa” diminuição da inflação corrente e “alguma” redução nas expectativas de inflação.
O documento reforçou o otimismo do mercado em relação a uma possível queda de juros no Brasil. A interpretação do mercado foi de que o comitê estaria mais convicto da efeitividade da política monetária no controle da inflação.
Para Galípolo, no entanto, a comunicação do BC é clara e explícita. “Em nenhum momento estamos tentando dar qualquer tipo de sinal. Obviamente entendemos que o mercado é obrigado a fazer apostas sobre o que vai acontecer e quando. Está tudo certo. Mas reitero que o BC não está dando sinais sobre qualquer movimentação futura.”
Ele ainda afirmou que, de todas as autarquias, o BC tem, “talvez”, o objetivo mais transparente de todos: levar a inflação à meta e usar a taxa Selic como ferramenta para isso. A autoridade monetária persegue uma inflação de 3%, com tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos. Nos últimos 12 meses, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumula alta de 4,68%, acima da meta.
O IPCA, segundo ele, tem convergido de forma “lenta e gradual” ao objetivo do BC, o que “é bastante incômodo” para a autoridade monetária. “Mas, por outro lado, esse gradualismo alivia um dos receios de que, ao colocar a taxa de juros em patamar restritivo, houvesse um declínio agudo da economia. Os dados não estão mostrando isso. Os dados mostram que a economia está desacelerando, ou seja, crescendo a taxas menores, mas crescendo.”
Ele ainda brincou dizendo que nada havia mudado para a política monetária entre 11h da manhã desta quarta, quando participou de coletiva do REF (Relatório de Estabilidade Financeira), e o horário de seu painel no Fórum de Investimentos do Bradesco Asset.
Pela manhã, o tom foi semelhante. Questionado sobre a fala do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última segunda (10), de que há “espaço para cortes” na Selic, Galípolo disse que a autoridade monetária não pode brigar com os dados econômicos.
“É absolutamente legítimo todos os ramos da sociedade poderem se manifestar sobre política monetária e emitirem opiniões sobre isso. Todo mundo pode brigar com o Banco Central. O Banco Central é que não pode brigar com os dados. Talvez, de todas as instituições públicas que existem, o BC seja aquele que tem um objetivo mais claro de todos”, afirmou.