[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O franchising brasileiro entra em 2026 desacelerando – mas ainda crescendo muito acima da economia. Após avançar 13,5% em 2024 e atingir faturamento recorde de R$ 273,1 bilhões, o setor deve encerrar 2025 com expansão entre 8% e 10%, segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF). No cenário mais otimista para este ano, o setor de franquias pode ultrapassar pela primeira vez a marca de R$ 300 bilhões em receitas, desempenho que representaria um ritmo de crescimento mais de quatro vezes o PIB esperado para o período (+2,25%). “A gente vive um momento de ajustes macroeconômicos, mas o setor segue resiliente porque trabalha no longo prazo”, afirmou à AGÊNCIA DC NEWS o vice-presidente da ABF, Décio Pecin. “É como dirigir numa estrada com neblina: você desacelera para reduzir risco. Isso não significa parar, mas ajustar a velocidade.”
O avanço esperado para 2025, ainda que em ritmo menor que na passagem de 2023 para 2024 (+13,5%), é sustentado por vetores estruturais do consumo. O mercado de trabalho aquecido – com desemprego em 5,4% e próximo do menor nível da série histórica – tem estimulado a terceirização de serviços, favorecendo redes de limpeza e conservação. A volta gradual ao trabalho presencial impulsiona o consumo fora do lar, beneficiando franquias de alimentação, enquanto o aumento da renda média do brasileiro, de 4% entre 2024 e 2025, e a busca por praticidade reforçam gastos recorrentes em saúde, beleza e bem-estar. Para Pecin, inclusive, o bom momento deve se estender. “Eu acredito que o triênio 2024, 2025 e 2026 venha com crescimento na casa de 10% ao ano”.
O cenário para 2026, porém, inspira cuidados. Com juros ainda elevados, decisões de investimento tendem a ficar mais seletivas, especialmente no B2B, o que desacelera a abertura de novas unidades, mas preserva o avanço do faturamento médio das franquias. Segundo Pecin, mesmo em ciclos de maior cautela, o setor tem conseguido crescer “da porta para dentro”, com ganho de eficiência, maturação de redes já consolidadas e maior produtividade por loja. A expectativa é de que o faturamento continue avançando acima do número de unidades, impulsionado por modelos mais enxutos, maior padronização operacional e maior capacidade de capturar consumo recorrente. Em um ano marcado por eleições e por um ambiente financeiro ainda restritivo, o franchising entra em 2026 menos orientado à quantidade e mais focado em rentabilidade, eficiência e fortalecimento da base instalada. Confira a entrevista.
AGÊNCIA DC NEWS – Como estão os ânimos do setor para o fim de ano?
DÉCIO PECIN – Em 2025 tínhamos uma expectativa de crescimento entre 8% e 10% que vem se confirmando. A gente teve recentemente o fechamento do terceiro trimestre, que aponta para uma confirmação disso que a nossa área econômica vinha projetando. De verdade, o que eu posso destacar são mudanças de hábito do consumidor. Temos questões macroeconômicas que nos afastam das nossas metas e outras questões econômicas que nos aproximam das nossas metas. Então, na média, estamos conseguindo ficar dentro dessa meta e esperamos anunciar no começo do ano [que o crescimento foi] algo entre 9% e 10%.
AGÊNCIA DC NEWS – E ao analisarmos o porquê desse crescimento, quais foram os principais fatores e setores que se destacaram?
DÉCIO PECIN – Quando a gente entra para analisar o porquê desse crescimento, a gente vai entender que são movimentos de mercado. Por exemplo, o setor de franquias que se destacou mais foi limpeza e conservação. E a gente tem percebido, com a questão quase que do pleno emprego, da baixa do desemprego, vamos lidar com escassez de mão de obra. Nesses momentos, a contratação de serviços terceirizados aumenta. Então, o setor de limpeza e conservação se destacou, ao meu ver, muito por essa mudança de comportamento do consumidor, buscando praticidade e menos dor de cabeça.
AGÊNCIA DC NEWS – Quais outros setores tiveram resultados positivos?
DÉCIO PECIN – Também podemos destacar outros dois setores, que eu sempre gosto de destacar, que são saúde, beleza e bem-estar, e alimentação. Em alimentação, estamos falando de aumento do consumo de alimentação das famílias fora do lar e com essa maior taxa de empregos, a gente vê realmente as pessoas gastando. E tem também aquela questão que vemos desde a pandemia: as empresas estão voltando aos hábitos anteriores de ter as pessoas nos escritórios cada vez mais como era antes da pandemia. Se você unir esses dois fatores, a gente também vai ter um crescimento acima da média do setor de alimentação.
AGÊNCIA DC NEWS – E saúde, beleza e bem-estar?
DÉCIO PECIN – Aí a gente está falando de flexibilização da rotina das pessoas, de investimento. Muitas pessoas estão investindo mais em si. Wellness é uma tendência cada vez maior no nosso mercado. A gente vê marcas crescendo, pessoas cada vez mais investindo e hoje a facilidade de acesso a tratamentos que as pessoas não tinham acesso. São esses fatores que fazem com que esses três macro setores se destaquem.
AGÊNCIA DC NEWS – Sobre esses três setores, você já tem a expectativa de crescimento de cada um deles sobre 2024?
DÉCIO PECIN – Ainda não. No setor de limpeza e conservação, a gente está falando de 14,5% no terceiro trimestre. Beleza e wellness veio com 13% de crescimento. E alimentação, principalmente fora do lar, com 12,7% de crescimento. Esses foram os que puxaram a média e que puxaram o nosso crescimento.
AGÊNCIA DC NEWS – Além de alimentação, beleza e limpeza, existe algum outro setor que pode se destacar em 2026?
DÉCIO PECIN – Além desses três setores, eu apostaria bastante em construção civil e serviços correlatos, que andaram um pouco de lado, mas sempre surpreendem positivamente quando retomam ritmo. E também no setor de educação. No pós-pandemia, a educação passou por muitos ajustes, migrando do presencial para o digital e agora para o modelo híbrido. Essas empresas estão mais ajustadas e devem ter um bom destaque em 2026. Para o país crescer, educação e cultura são fundamentais, e o setor tem tudo para ser promissor.
AGÊNCIA DC NEWS – Considerando que os três setores de destaque vem ultrapassando a média de crescimento que a própria ABF estabeleceu, você acredita que esses setores também seguem crescendo acima da média no ano que vem?
DÉCIO PECIN – Eu acredito na manutenção da curva desses setores. Acredito que o ano que vem temos alguns fatores que jogam a favor. Nem tudo sempre é ruim, nem tudo sempre é bom. Mas o ano que vem, por exemplo, tem muita gente falando que nós vamos ter três fatores macro que podem influenciar a economia como um todo. Primeiro, são pelo menos dez feriados nacionais que diminuem os dias úteis para o varejo. Segundo, a Copa do Mundo, que traz uma certa distração para alguns setores, mas que, por outro lado, traz muita demanda para outros setores. Alimentação, bares e restaurantes têm um crescimento bastante grande nessa época. E o terceiro fator é as eleições, que afetam principalmente decisões de investimento no B2B.
AGÊNCIA DC NEWS – Fora a taxa de juros a 15%.
DÉCIO PECIN – Isso traz um ritmo mais tímido de expansão de lojas, mas felizmente o faturamento continua crescendo, o que significa mais venda na ponta e na cadeia como um todo.
AGÊNCIA DC NEWS – A Selic impacta no poder de compra e na oferta de crédito para as empresas. Qual é a expectativa da ABF para investimentos no setor em 2026?
DÉCIO PECIN – Penso que continua estável. Existem estudos que apontam para um decréscimo lento da Selic para o ano que vem. O meu desejo como empresário é que isso fosse mais rápido, para aquecer mais a economia. Mas eu entendo o papel do Banco Central de segurar o consumo e a inflação usando a taxa de juros como principal ferramenta.
AGÊNCIA DC NEWS – Qual seria, na sua visão, a taxa de juros ideal para o setor?
DÉCIO PECIN – Sempre acredito que a Selic ideal é a menor possível para que possamos ter investimento na economia real. Se formos olhar a inflação, ela deve girar em torno de 4% a 5%. A taxa de juros hoje está cerca de 10 pontos acima disso. Uma taxa de juros próxima à taxa de inflação seria bastante razoável, assim como nos países de primeiro mundo. Hoje a gente tem uma taxa de juros real de duplo dígito, de cerca de 10% ao ano.
AGÊNCIA DC NEWS – Essa desaceleração econômica não afeta o setor de franchising de alguma forma?
DÉCIO PECIN – O nosso setor consegue ter resiliência e continuar crescendo acima da média do varejo, porque a gente está falando de uma trajetória de longo prazo apoiada em ganho de eficiência. O empreendedorismo assistido, com franqueadores experientes e redes maduras, permite troca de expertise e fortalecimento das operações na ponta. Toda vez que você tem instabilidades, incertezas e taxas de juros elevadas, as decisões ficam mais cautelosas e os retornos demoram mais. É como dirigir numa estrada e encontrar neblina: você desacelera para reduzir o risco. Isso não significa parar, mas ajustar a velocidade.
AGÊNCIA DC NEWS – Considerando que será um ano atípico, qual é a expectativa para o setor em 2026?
DÉCIO PECIN – Estamos falando de redes consolidadas, resilientes, que passaram pela pandemia com louvor. Eu acredito que o triênio 2024, 2025 e 2026 venha com crescimento na casa de 10% ao ano.