SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os advogados de Jair Bolsonaro afirmam que a prisão do ex-presidente foi baseada na realização de uma “vigília de orações”, garantida pela Constituição, e que a determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), causou “profunda perplexidade”.
Celso Vilardi e Paulo Bueno, que defendem Bolsonaro no processo da trama golpista, afirmam ainda que irão “apresentar os recursos cabíveis”, em nota distribuída no fim da manhã. Segundo eles, “a prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada na manhã de hoje, causa profunda perplexidade, principalmente porque, conforme demonstra a cronologia dos fatos (representação feita em 21/11), está calcada em uma vigília de orações”.
A defesa também destacou garantias constitucionais e as condições de saúde do ex-presidente. “A Constituição de 1988, com acerto, garante o direito de reunião a todos, em especial para assegurar a liberdade religiosa. Apesar de afirmar a existência de gravíssimos indícios da eventual fuga, o fato é que o ex-presidente foi preso em sua casa, com tornozeleira eletrônica e sob vigilância das autoridades policiais”, segue o texto.
Em outro trecho, afirma que “o estado de saúde de Jair Bolsonaro é delicado e sua prisão pode colocar sua vida em risco”.
A reação dos aliados de Bolsonaro, neste sábado (22), foi de indignação. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro publicou mensagem agradecendo as orações recebidas e afirmou: “Confio na Justiça de Deus. A justiça humana, como temos visto, não se sustenta. Mas sei que o Senhor dará o Escape, assim como fez em 2018, quando meu marido foi vítima de uma facada (…). Não o deixarei desistir do propóstio que o Senhor confiou a ele”.
Após a prisão, ela também divulgou uma passagem bíblica: “O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. (…) O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma”. Michelle estava em Fortaleza (CE), onde participaria de um evento do PL Mulher.
O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), líder do partido na Câmara, fez uma publicação às 6h50, minutos após agentes da PF levarem Bolsonaro de casa. Ele escreveu que o golpe “nunca existiu”, ironizou a data da prisão (22, número de urna do ex-presidente) e mencionou a multa de R$ 22 milhões aplicada ao PL em 2022. “Coincidências de um psicopata”, afirmou, sem citar Moraes diretamente.
Outros políticos reforçaram as críticas. O líder da oposição na Câmara, deputado Zucco (PL-RS), classificou o episódio como “momento sombrio” antes de informar que estava se dirigindo a Brasília vários aliados anunciaram retorno à capital ainda neste domingo. O deputado André Fernandes (PL-CE) escreveu: “Que os senadores façam o mesmo [ir a Brasília], pois só eles podem parar o assassino do Clezão, Moraes”.
A condição de saúde de Bolsonaro foi um ponto recorrente nas manifestações. “Por muitas vezes durante o dia o presidente fica sem respirar, podendo levar a consequências piores. Não foi suficiente para que nenhum ministro nem a corte se sensibilizasse com essa situação”, afirmou o ex-secretário de Comunicação de Bolsonaro, Fabio Wajngarten.
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), também se manifestou. “Jair Bolsonaro tem enfrentado todos os ataques e todas as injustiças com a firmeza e a coragem de poucos. Tirar um homem de 70 anos da sua casa, desconsiderando seu grave estado de saúde e ignorando todos os apelos provenientes das mais diversas fontes, todos os laudos médicos e evidências, além de irresponsável, atenta contra o princípio da dignidade humana”, disse no final da manhã.
Bolsonaro estava em prisão domiciliar desde 4 de agosto e foi levado pela PF após a decretação da prisão preventiva, sob justificativa de garantia da ordem pública. A decisão citou, entre outros pontos, a vigília convocada pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), marcada para a noite deste sábado. Moraes mencionou também risco de fuga para a embaixada dos EUA e violação da tornozeleira eletrônica durante a madrugada.
Na sexta (21), a defesa havia pedido que Bolsonaro permanecesse em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde e “risco à vida”. Moraes rejeitou o pedido e determinou “a disponibilização de atendimento médico em tempo integral” para o ex-presidente na cela da Superintendência da PF, em Brasília.