[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
A indústria da construção civil já esperava desaceleração em 2025, após o crescimento de 4,3% no ano anterior. Mas a freada foi mais forte que o previsto, e o setor deve fechar o ano com alta de 1,8% no PIB. A expectativa incial era de 3%, depois revisada para 2,2% – menos da metade de 2024. Mesmo assim, a avaliação é positiva, segundo o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil em São Paulo (SindusCon-SP), Yorki Estefan. “Foi um ano bom, com crescimento”, afirmou, para em seguida manifestar sua expectativa pela redução da Selic. “E temos muita esperança que 2026 seja um ano com taxa de juros declinante.” Para ele, o Comitê de Política Monetária (Copom) já teria condições de reduzir os juros em janeiro, “sem complicações inflacionárias”.
O colegiado do Banco Central anunciou na quarta-feira (10) a manutenção da taxa em 15% ao ano, como esperavam os analistas de mercado. Com as taxas que Estefan chama de excessivas, houve uma diminuição “consistente” de ritmo na construção civil. O vice-presidente de Economia da entidade, Eduardo Zaidan, complementa, dizendo que apesar do crescimento moderado, abaixo do potencial, o ponto positivio foi “sem caracterizar recessão”. E destacou “avanços institucionais relevantes, como as reformas Tributária e do Imposto de Renda da Pessoa Física”. A expectativa para 2026 é “mais favorável”. O Minha Casa, Minha Vida segue impulsionando o setor, enquanto o crédito mais voltado para a classe média caiu.
No cenário mais otimista para 2026, a entidade espera que o PIB da construção cresça 3,1%. No pessimista, 2,1%. E o intermediário aponta 2,8% para o setor – e 2,7% para o total da economia. Entre os fatores de otimismo, estão, além de juros menores, a expectativa de valor recorde para os investimentos em infraestrutura (R$ 300 bilhões, segundo a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base-Abdib) e programas governamentais, como o Reforma Casa Brasil e o Minha Casa, Minha Vida. Até 30 de novembro, o MCMV teve 678 mil unidades contratadas. Em 2024, foram 729 mil.
A coordenadora de Projetos da Construção do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), Ana Maria Castelo, disse que o menor consumo de materiais de construção, por parte das famílias, é um dos fatores que contribuem para que o PIB da construção registre “um desempenho abaixo do cenário mais pessimista”. Segundo informações do IBGE destacadas pelo SindusCon-SP e pela FGV, a indústria de materiais de construção variou -0,7% de janeiro a outubro, após crescer 5,4% em 2024. E o comércio ficou praticamente estável (-0,1%), com alta de 5,2% no ano passado. De acordo com o SundusCon, 47% da oferta tem as famílias como destino direto. Juros e endividamento são fatores que inibem o consumo.
UNIDADES EM ALTA – Em relação ao número de unidades, a alta foi superior ao faturamento apontado pelo SindusCon. Segundo a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), de janeiro a outubro, o mercado lançou 307,4 mil unidades no país, 8,4% a mais do que em 2024. E foram vendidas 312,2 mil, alta de 5%. Na cidade de São Paulo, de acordo com dados do Secovi-SP, o mercado imobiliário teve 94,1 mil unidades comercializadas de janeiro a outubro, 10% a mais em relação a igual período de 2024. Mais de um terço (34,5%) se concentra na Faixa 2 do MCMV (de R$ 264 mil a R$ 350 mil): 32,5 mil unidades, crescimento de 43,3%. Imóveis com valor acima de R$ 5 milhões têm a maior alta percentual (de 116,7%), mas representam 0,9% do total (832 unidades).
No crédito, segundo a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), as contratações com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) caíram 21,4%. O setor vive a expectativa dos efeitos da decisão da Caixa Econômica Federal, anunciada nesta semana, de permitir novamente a contratação de mais de um financiamento imobiliário pelo SBPE.
EMPREGOS – Em termos de emprego no setor de construção civil do país, houve desaceleração – são 7,5 milhões, sendo 3 milhões com carteira, 365 mil no estado de São Paulo. Paradoxalmente, a escassez de mão de obra continua sendo um dos principais desafios do setor. Para Eduardo Zaidan, do SindusCon, “não há outro caminho a não ser o aumento da produtividade”. Segundo ele, a idade média entre os empregados da indústria está entre 40 e 41 anos. “E não está renovando.” É uma questão que pode comprometer o crescimento em 2026, avalia a entidade. A indústria também aguarda a entrada em vigor da Reforma Tributária. Zaidan classifica 2026 como “um ano de treinamento”, o início de uma longa fase de transição. “Vai nos obrigar, praticamente, a ter duas contabilidades [no ano que vem].”