SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dois soldados da Guarda Nacional foram baleados a um quarteirão de distância da Casa Branca, em Washington, nesta quarta-feira (26). O estado de saúde deles é grave, de acordo com o FBI, a polícia federal dos Estados Unidos.
Como resposta, o governo Donald Trump deve enviar mais 500 militares à cidade. A mobilização inicial em agosto, de mais de 2.000 soldados, tinha como objetivo declarado combater o crime, embora críticos tenham visto na medida uma tentativa de Trump de intimidar moradores da capital, que costuma votar no Partido Democrata.
“O animal que atirou nos dois membros da Guarda Nacional, ambos gravemente feridos e agora internados em hospitais diferentes, também está gravemente ferido, mas, independentemente disso, pagará um preço muito alto”, disse Trump em sua plataforma, a Truth Social.
Trump está em seu resort em Palm Beach, na Flórida, para comemorar o feriado de Ação de Graças nesta quinta-feira (27). Já o vice-presidente J. D. Vance está no Kentucky.
O governador da Virgínia Ocidental, Patrick Morrisey, disse inicialmente no X que os militares haviam morrido, mas em seguida recuou, dizendo que estava recebendo “informações contraditórias” sobre o estado de saúde dos soldados, oriundos de seu estado. “Forneceremos atualizações adicionais assim que tivermos informações mais completas”, afirmou. “Nossas orações estão com esses bravos militares.”
O diretor do FBI, Kash Patel, afirmou mais tarde que os soldados não morreram, mas estão em situação grave, e que o agressor será acusado de agressão a um agente federal. O suspeito, que também foi ferido, está preso, segundo a polícia de Washington, e o FBI investiga se o ataque foi um atentado terrorista.
De acordo com a emissora americana CNN, os dois membros da Guarda Nacional trocaram tiros com o atirador antes de serem baleados.
Ainda não se sabe o que motivou o incidente. Segundo o chefe do Departamento de Polícia Metropolitana de Washington, Jeffrey Carroll, o atirador surgiu de uma esquina, levantou a arma e começou a atirar nos soldados -ação que a prefeita de Washington, Muriel Bowser, chamou de um “ataque direcionado”. A polícia local, por sua vez, afirmou que, até o momento, as investigações apontam que o atirador agiu sozinho.
O ataque desencadeou medidas de segurança em toda a cidade -enquanto helicópteros sobrevoavam a região do crime, a Casa Branca chegou a declarar estado de alerta máximo e o Aeroporto Nacional Ronald Reagan suspendeu brevemente seus voos.
O crime tem o potencial de causar insatisfação em parte das tropas, que têm sido enviadas a cidades governadas por democratas sob a justificativa de conter a violência no mesmo momento em que o ICE, o serviço de imigração dos EUA, aumenta drasticamente suas operações de deportação, causando protestos no país.
Ao enviar soldados da Guarda Nacional a Washington, em agosto, Trump afirmou que o crime na cidade estava “fora de controle”, apesar de dados recentes indicarem que, após um pico em 2023, havia tendência de queda nos últimos 30 anos.
A presença dos soldados virou uma disputa jurídica nos EUA, com idas e vindas nos tribunais americanos -em relação a Washington, a última movimentação ocorreu na quinta-feira passada (20), quando uma juíza decidiu que a medida interferia na autoridade local e deu 21 dias para o governo federal entrar com um recurso.
Nesta quarta, havia cerca de 2.200 membros da Guarda Nacional na capital. A força é organizada por cada estado dos EUA e está sob comando dos governadores e do presidente, que pode mobilizá-la para operações em território nacional ou no exterior.
Em Washington, há tropas do próprio distrito, que respondem diretamente ao governo federal, bem como da Louisiana, Mississippi, Ohio, Carolina do Sul, Virgínia Ocidental, Geórgia e Alabama -todos estados governados por republicanos que ofereceram suas tropas para que Trump pudesse enviar soldados com o objetivo declarado de combater o crime em cidades governadas por democratas.
Horas após os tiros, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, afirmou que Trump havia solicitado o envio de 500 novos soldados para Washington. “Isso aconteceu a poucos passos da Casa Branca e não será tolerado. É por isso que o presidente Trump me pediu -e eu pedirei ao secretário do Exército e à Guarda Nacional- o envio de 500 soldados adicionais”, afirmou.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, publicou em suas redes sociais que “deve haver tolerância zero para a violência contra os bravos homens e mulheres fardados que servem altruisticamente” os EUA. Uma das principais figuras do Partido Democrata, Newsom classificou o episódio de “horrível e inaceitável”.
O estado que Newsom governa foi o primeiro para o qual Trump enviou as tropas, em junho, quando manifestantes tomaram as ruas de Los Angeles para protestar contra as deportações em massa. Há quase duas semanas, o procurador-geral da Califórnia, Rob Bonta, pediu novamente para a Justiça impedir o destacamento contínuo de tropas no estado.
“O governo Trump está mantendo a Guarda Nacional da Califórnia como refém, prorrogando repetidamente sua federalização e mobilização sem fundamento ou justificativa”, disse Bonta na ocasião. “O flerte do presidente Trump com o autoritarismo precisa acabar. Ponto final. Nenhum presidente tem o direito de usar a Guarda Nacional como força policial pessoal para atacar comunidades americanas”, afirmou Newsom.
O senador John Thune, líder da maioria republicana na Casa, disse monitorar a situação após o incidente desta quarta e pediu orações aos soldados atacados. O líder da minoria democrata, Chuck Schumer, também afirmou estar acompanhando de perto e agradeceu “a todos os socorristas pela rápida atuação na captura do suspeito”.