Dólar cai e Bolsa dispara com início de novas tarifas dos EUA e bateria de balanços corporativos

Uma image de notas de 20 reais

Imagem gerada por IA
Compartilhe: Ícone Facebook Ícone X Ícone Linkedin Ícone Whatsapp Ícone Telegram

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta quinta-feira (7), após as tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos de 69 países terem entrado em vigor durante a madrugada.

Os investidores também monitoram o impasse comercial entre Brasil e Estados Unidos, bem como uma bateria de balanços corporativos do segundo trimestre.

Às 14h15, o dólar recuava 0,16%, cotado a R$ 5,453. Já a Bolsa disparava 1,7%, a 136.836 pontos, com impulso das ações da Eletrobras.

Depois de meses de negociações e alguns acordos firmados, o governo Trump seguiu em frente com o plano de impor sobretaxas de importação para alguns dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos, visando reduzir o déficit do país.

Elas chegam a 41% para a Síria, 39% para a Suíça, 30% para a África do Sul e 15% para a Venezuela. Taiwan será taxado em 20%, e o Lesoto, que havia sido ameaçado com uma tarifa de 50%, ficou com 15%. Os outros países se mantêm com uma tarifa de 10%.

A Índia será alvo de uma tarifa de 25% a partir desta quinta, mas Trump determinou na quarta (6) uma taxa adicional de 25% sobre os produtos do país, em retaliação à compra de petróleo russo praticado pelo indianos. A nova tarifa, no entanto, só passa a valer daqui a 20 dias.

(Procure pelo nome do país ou clique no mapa para ver a tarifa.)

“Estamos em um novo mundo. Mesmo para os especialistas em comércio, a complexidade disso tudo é absurda”, afirmou Chad Bown, pesquisador sênior do Instituto Peterson de Economia Internacional.

Para o Brasil, a tarifa é de 10%, mas o país foi alvo de uma taxa adicional de 40%, já em vigor, elevando o valor total da sobretaxa para 50%, a maior até o momento. O país, no entanto, se beneficiou de uma isenção para cerca de 700 produtos exportados aos EUA.

As novas tarifas retomam o chamado “Dia da Libertação”, em 2 de abril, quando Trump anunciou pela primeira vez o tarifaço sobre dezenas de países. A reação negativa na ocasião fez o presidente suspendê-las na semana seguinte, impondo no lugar uma cobrança temporária de 10% enquanto buscava acordos com os países alvo.

“Há um consenso entre os analistas de que as tarifas terão um efeito estagflacionário [crescimento econômico estagnado e inflação elevada], e a dúvida é sobre a magnitude e a duração desses efeitos”, pontua Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

Há a possibilidade do baque na economia ser temporário e pontual, diz o especialista, mas há também a chance dele ser abrangente. “O ambiente de negócios é de cautela por causa disso”, afirma.

No entanto, a preocupação com uma estagflação e dados fracos do mercado de trabalho têm fomentado apostas de que um corte de juros poderá ocorrer na próxima reunião do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), em setembro. Segundo a ferramenta CME FedWatch, operadores agora precificam 92% de chance de uma redução de 0,25 ponto percentual no mês que vem.

A taxa de juros está na banda de 4,25% e 4,5% desde o final de 2024 e vem sendo mantida neste patamar por conta da incerteza que ronda a economia norte-americana, de acordo com declarações de diretores do Fed.

A autoridade monetária dos EUA trabalha com um mandato duplo, isto é, baliza as decisões de juros com base nos dados do mercado de trabalho e da inflação. O objetivo é alcançar o pleno emprego e levar a inflação à meta de 2% ao ano.

Quanto maiores as taxas de juros nos Estados Unidos, mais o mercado tende a direcionar investimentos para lá, já que os retornos ligados à renda fixa norte-americana ficam mais atrativos —o que fortalece o dólar. O inverso também é verdadeiro: sinalizações de queda nos juros levam os operadores a retirar recursos dos EUA e direcioná-los a outros ativos, o que enfraquece a moeda.

Com isso, “estamos vendo uma nova rodada de enfraquecimento global do dólar, e as moedas emergentes, sobretudo de países que têm um maior diferencial de juros, estão se beneficiando desse movimento”, diz Mattos.

Já no cenário doméstico, o mercado acompanha as tentativas de negociação do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com Washington. Os esforços parecem não ter tido sucesso até o momento.

Em entrevista à Reuters, o presidente Lula afirmou que não vê espaço para discussões com Trump e rejeitou a “humilhação” de ligar para o republicano.

“Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, disse.

O Brasil não pretende anunciar tarifas recíprocas, afirmou, e não vai desistir das negociações comerciais, mesmo admitindo que não há, no momento, interlocução. O vice-presidente Geraldo Alckmin está tentando negociar, disse Lula, assim como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. “O que nós não estamos encontrando é interlocução”, afirmou.

As expectativas de um alívio agora estão em torno de uma conversa entre Haddad e o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, na próxima semana. O ministro indicou que a ligação ocorrerá na quarta-feira.

O governo também pode anunciar em breve um plano de contingência para ajudar empresas e setores afetados pela tarifa de 50%.

Na cena corporativa, o Ibovespa reflete uma bateria de resultados financeiros, entre eles os números da Eletrobras no segundo trimestre. A companhia reportou lucro líquido ajustado de R$ 1,47 bilhão, 43,3% superior ao registrado no mesmo período do ano passado, e aprovou a distribuição de R$ 4 bilhões aos acionistas na forma de dividendos intermediários.

Como resultado, as ações preferenciais e ordinárias da Eletrobras subiam 8,95% e 8,78%, respectivamente. Os papéis da Smarfit também tinham forte alta, a 7,19%, com o lucro líquido recorrente de R$ 189 milhões —crescimento de 32% sobre o desempenho de um ano antes.

Já a Suzano, que avançava 4,75%, elevou sua projeção de investimento para o ano em cerca de 7% e anunciou lucro líquido de R$ 5,01 bilhões, uma reversão do prejuízo de R$ 3,77 bilhões apurado no mesmo período em 2024.

O dia ainda guarda a divulgação dos resultados da Petrobras, após o fechamento dos mercados.

Voltar ao topo