Dólar cai e Bolsa renova recorde após encontro entre Lula e Trump alimentar expectativa por acordo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar está em queda nesta segunda-feira (27), com os investidores avaliando o resultado da reunião entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump no último domingo.

Lula afirmou estar convencido de que o Brasil terá uma solução nos próximos dias em relação ao tarifaço imposto pelo republicano. “Ele garantiu que vai ter acordo”, declarou.

A perspectiva de uma retomada das relações diplomáticas entre os dois países injeta otimismo no mercado de ativos brasileiros, favorecendo tanto o real quanto as empresas listadas na Bolsa.

Às 16h03, o dólar recuava 0,41%, a R$ 5,370, e o Ibovespa marcava alta de 0,46%, a 146.857 pontos. Na máxima, o índice chegou a 147.976 pontos —novo recorde durante o perído de negociações.

Lula e Trump se encontraram na tarde deste domingo (26), madrugada do Brasil, em Kuala Lumpur, na Malásia, onde participaram como convidados da cúpula da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático).

Segundo membros do governo, Trump estava aberto a Lula e entendeu pontos importantes, acolhendo a demanda de urgência das negociações, e o encontro foi extremamente positivo.

“O presidente Trump declarou que dará instruções a sua equipe para que comece um processo, um período de negociação bilateral que deve se iniciar hoje ainda [manhã desta segunda no Brasil], porque é para ser tudo resolvido em pouco tempo”, disse o chanceler Mauro Vieira. O pedido para que os negociadores dos dois governos falassem no mesmo dia veio de Lula e foi acolhido por Trump.

“O diálogo foi franco, o presidente Lula deixou claro que a motivação utilizada pelos Estados Unidos para elevar tarifas para o restante do mundo não se aplica ao Brasil por causa do superávit da balança comercial para os Estados Unidos. Disse e repetiu isso diversas vezes.”

Não há expectativa por parte do governo, porém, de que exista uma medida a ser divulgada hoje. A estimativa é que exista alguma resolução nas próximas semanas.

Na análise de Ricardo Trevisan Gallo, CEO da Gravus Capital, o encontro representa um passo necessário para desescalar tensões que já afetaram setores importantes do mercado brasileiro. Para os investidores, no entanto, trata-se de uma oportunidade, e não de uma solução automática.

A concretização desses avanços depende da etapa de negociações e, sobretudo, “da capacidade do Brasil de transformar essa janela diplomática em sinais concretos de previsibilidade econômica”, diz ele.

“Se as equipes conseguirem um acordo com suspensão temporária de tarifas e caminhos claros para retirada gradual, veremos redução do prêmio de risco e janelas de compra atrativas; se ficar apenas no simbólico, a incerteza continuará comprimindo ativos e investimentos.”

Ainda assim, o mercado vê o encontro com otimismo. Mesmo dependendo do avanço das negociações, a leitura dos investidores é que os dois países estão a caminho de uma solução para o conflito comercial —seja pela total eliminação das sobretaxas de 50% a produtos brasileiros, seja por uma diminuição da alíquota.

Um possível acordo entre Estados Unidos e China também aumenta o apetite por ativos de risco. Trump afirmou que os dois países estão prontos para alcançar uma solução para o recente impasse sobre as exportações chinesas de terras raras, restringidas no começo do mês pelo governo Xi Jinping.

Trump, em resposta, ameaçou a imposição de sobretaxas de 100% sobre produtos chineses. Os dois líderes devem se encontrar no final desta semana na Coreia do Sul.

“Tenho muito respeito pelo presidente Xi e acho que chegaremos a um acordo”, disse Trump, ao sair da Malásia. “A China está chegando e será muito interessante.”

Além do tarifaço, o mercado se posiciona à espera da decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) nesta semana.

O comitê de política monetária do Fed (Fomc, na sigla em inglês) se reúne terça e quarta-feira para decidir sobre os juros norte-americanos. A expectativa é por mais um corte na taxa, hoje em 4% e 4,25%, dando continuidade à redução da reunião anterior. Operadores precificam quase 100% de probabilidade de um novo corte de 0,25 ponto percentual no próximo encontro, segundo a ferramenta CME FedWatch.

Os dados de inflação de sexta-feira reforçaram a perspectiva. O CPI (Índice de preços ao consumidor, na sigla em inglês) alcançou 3% no acumulado de 12 meses até setembro —uma aceleração em relação aos 2,9% de agosto, mas abaixo das expectativas de 3,1% de economistas consultados pela Bloomberg.

Para Eswar Prasad, economista da Universidade Cornell, o número da inflação “praticamente garante” um corte na taxa de juros na próxima reunião do Fed.

Isso porque o BC dos EUA vê como mais arriscado a desaceleração do mercado de trabalho do que um repique inflacionário, e essa leitura deverá se manter no próximo encontro.

Reduções nos juros dos Estados Unidos costumam ser uma boa notícia para os mercados globais. Como a economia norte-americana é vista como a mais sólida do mundo, os títulos do Tesouro, chamados de “treasuries”, são um investimento praticamente livre de risco. Quando os juros estão altos, os rendimentos atrativos das treasuries levam operadores a tirar dinheiro de outros mercados. Quando eles caem, a estratégia de diversificação vira o norte, e investimentos alternativos ganham destaque.

Em relação ao Brasil, há ainda mais um fator que favorece os ativos domésticos: o diferencial de juros. Quando a taxa nos Estados Unidos cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.

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