Dólar cai e Bolsa sobe com tarifas comerciais de Trump em foco

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após rondar a estabilidade em grande parte da manhã desta quarta-feira (23), o dólar opera em queda nesta tarde com os investidores atentos às negociações de Donald Trump com o Brasil e aos acordos comerciais dos EUA. A Bolsa, por outro lado, sobe.

Às 14h20, a moeda norte-americana tinha oscilação negativa de 0,74%, cotada a R$ 5,525. No mesmo horário, a Bolsa brasileira subia 1,10%, a 135.511 pontos.

O resultado do dia do Ibovespa é puxado para cima pela valorização das ações da Petrobras e do Itaú. A Weg, que revelou nesta quarta um crescimento trimestral abaixo do projetado pelo mercado, tem pesado no índice, com queda de 5,34%.

Na noite de terça-feira (22), o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a redução da tarifa cobrada sobre os produtos japoneses de 24% para 15%. Há duas semanas, o republicano havia ameaçado aumentar a taxa do país para 25%.

Trump também disse que o Japão investirá mais US$ 500 bilhões nos EUA, o que segundo ele criará centenas de milhares de empregos, e anunciou uma parceria para produção de gás natural liquefeito no Alasca. Os futuros da Nikkei, a Bolsa japonesa, saltaram 1,7% após o anúncio.

O acordo com o Japão foi acompanhado de outros com a Indonésia e as Filipinas, que conseguiram reduzir as tarifas impostas sobre suas exportações em troca de uma redução das taxas sobre produtos americanos importados.

Em acordo celebrado na semana passada, mas detalhado nesta terça-feira (22), a Indonésia concordou em eliminar tarifas sobre mais de 99% de produtos dos EUA. Os EUA reduzirão as tarifas sobre a maior economia do Sudeste Asiático de 32% para 19%.

A taxa é igual à anunciada para as Filipinas também nesta terça, que prometeu zerar as tarifas sobre produtos americanos, segundo publicação de Trump no Truth Social. A taxa para o Vietnã foi fixada em 20%.

Na cena doméstica, as incertezas sobre as negociações comerciais entre Trump e Brasil seguem pesando. Com pouco mais de uma semana para o prazo final para o acordo, os canais de negociação formais entre o governo brasileiro e o americano continuam fechados.

O governo do Brasil enviou uma carta pedindo a negociação e não teve resposta -e segue sem previsão de ter. Integrantes do governo Lula começam a duvidar de uma reversão das sobretaxas antes de 1º de agosto.

Além disso, o governo e o empresariado já estudam formas de reagir à medida do governo americano, caso ela se efetive.

Setores ligados a empresas gigantes dos Estados Unidos também estão atentos à ameaça da sobretaxa de 50% feita por Trump e têm buscado interlocutores do Brasil para tentar evitar as tarifas.

Empresas que importam e distribuem café e suco de laranja -que são obtidos em peso do Brasil-, além de companhias petrolíferas, energéticas, farmacêuticas e aéreas têm demonstrado preocupação com o impacto da sobretaxa.

As tarifas extras já impostas por Trump derrubaram a venda de carne bovina brasileira para os americanos em 80% em menos de três meses.

Investidores também permanecem atentos a situação judicial de Jair Bolsonaro (PL), que está no centro do atrito entre EUA e Brasil. Na última terça-feira (22), a defesa do ex-presidente negou ter descumprido a determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes que o impediu de conceder entrevistas que fossem divulgadas pelas redes sociais.

A alegação veio após Moraes pedir esclarecimentos e dar 24 horas para a defesa de Bolsonaro explicar as declarações do ex-presidente em visita ao Congresso, que foram compartilhadas nas redes. Na decisão, o ministro do STF mencionou a possibilidade de “decretação imediata da prisão do réu”.

Na sexta passada (18), o ministro determinou que Bolsonaro terá de usar uma tornozeleira eletrônica, está proibido de usar as redes sociais e deve ficar recolhido em domicílio entre 19h e 6h de segunda a sexta e em tempo integral nos fins de semana e feriados. O ministro também proibiu a transmissão ou veiculação de áudios e vídeos de entrevistas do ex-presidente nas redes sociais.

Em resposta, os EUA restringiram vistos para autoridades do Judiciário brasileiro e seus familiares imediatos, citando novamente objeções aos processos legais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

A dificuldade do Brasil em negociar passa pelo fato de Trump estar exigindo como contrapartida o fim do julgamento de Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado.

Investidores temem que o cenário possa levar Trump a adotar uma postura mais agressiva em relação às tarifas aplicadas ao Brasil.

Segundo Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, apesar do otimismo internacional com os acordos tarifários de Trump, os investidores brasileiros continuam lidando com um cenário de incerto. “Existe uma incerteza sobre as tarifas. Além disso, há uma preocupação com o cumprimento da meta fiscal”.

Na última terça, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou a liberação de R$ 20,6 bilhões do Orçamento que estavam congelados para cumprir regras fiscais. A decisão, segundo o governo, foi possível porque houve melhora nas expectativas de arrecadação em 2025.

A medida deve gerar alívio em ministérios, que poderão executar uma parcela maior de investimentos e despesas de custeio administrativo, e também vai destravar uma parte das emendas parlamentares, verbas usadas pelos congressistas para bancar ações em seus redutos eleitorais.

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