SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em forte alta de 0,97% nesta segunda-feira (22), cotado a R$ 5,583, em dia de baixa liquidez devido à proximidade do Natal e do recesso de fim de ano.
Os investidores se posicionam atentos à agenda da semana, que deve fornecer mais pistas sobre as próximas decisões de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) e do BC (Banco Central) brasileiro. Por aqui, o foco segue voltado à corrida eleitoral de 2026.
Em sinal de cautela, a Bolsa caía 0,15% às 17h, a 158.226 pontos, apesar da disparada de mais de 3% da Vale.
A semana mais curta em função do Natal começa sem gatilhos fortes para operações no Brasil. O clima é de cautela diante do noticiário político, conforme os investidores seguem assimilando os sinais mais recentes sobre a corrida pela Presidência em 2026.
A presença do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em pesquisas eleitorais e no noticiário político ainda desperta preocupações entre os agentes. O filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro tem dividido a oposição ao governo Lula (PT) para o pleito: em pesquisa divulgada pela Bloomberg/AtlasIntel na quinta-feira, o senador soma 21,3% de intenções de voto, enquanto Tarcísio de Freitas (Republicanos), nome favorito da Faria Lima para a disputa, tem 15%. Lula lidera com 47,9%.
Sem novas sinalizações de que Flávio poderá desistir da corrida, o mercado tem desmontado as posições do apelidado “Tarcísio Trade”, isto é, operações que previam que uma eventual vitória do governador de São Paulo destravaria uma valorização mais acentuada dos ativos brasileiros, como Bolsa e real.
A sensibilidade do assunto também inspira volatilidade nos ativos. Jair Bolsonaro dará uma entrevista na terça-feira, a primeira desde que foi preso, e analistas observarão de perto as sinalizações do ex-presidente para o pleito do próximo ano: quer seja em defesa do filho mais velho, quer seja de apoio ao governador de São Paulo.
O dólar ainda segue pressionado por conta do fluxo de remessas ao exterior, afirma Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX. Empresas tradicionalmente enviam recursos ao exterior para pagamento de dividendos em dezembro e neste ano, especificamente, os envios estão sendo potencializados por multinacionais que buscam se antecipar antes da cobrança de Imposto de Renda.
A alíquota de 10% sobre remessas ao exterior terá início em janeiro, e também terá início a taxação de 10% sobre valores recebidos acima de R$ 50 mil por mês em dividendos.
A cautela predomina também por conta do Boletim Focus desta semana. O relatório indicou que a perspectiva sobre a taxa Selic subiu de 12,13% para 12,25% no próximo ano, sugerindo que o mercado está cauteloso quanto à postura do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC após a ata da última reunião.
“Temos a curva de juros aqui no Brasil subindo hoje de forma praticamente uniforme e isso joga bem contra o mercado de ações. É uma semana com a liquidez que a gente já sabe que é menor”, disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.
No encontro de dezembro, o colegiado manteve a taxa em 15% ao ano, o maior patamar em quase duas décadas, e julgou que a estratégia atual de manutenção dos juros é adequada para a convergência da inflação à meta.
O objetivo do BC é levar o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) a 3% ao ano, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O Focus apontou que a mediana das projeções para a inflação de 2025 é 4,33%, abaixo do teto da meta.
O IPCA-15 de dezembro será publicado na terça-feira. O indicador é, na prática, uma prévia do IPCA do mês e será observado de perto pelos investidores à procura de sinais sobre as próximas decisões do Copom.
O colegiado não fechou as portas para uma queda na Selic já em janeiro, tampouco cravou que manterá os juros no atual patamar novamente. O cenário está em aberto, afirmou o presidente do BC, Gabriel Galípolo, e a escolha vai depender da análise de dados.
“Apesar do Copom não ter fechado as portas para uma queda antecipada da Selic, a maioria das apostas aponta para o corte ocorrer em março”, afirma Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
Os juros dos Estados Unidos também norteiam as negociações. O Fed decidiu cortar a taxa em 0,25 ponto percentual na última reunião, repetindo a dose das duas anteriores. Mas a próxima decisão está em aberto, e o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, evitou indicar quais serão os próximos passos. Ele afirmou que os juros estão “bem posicionados” para responder ao que estiver por vir para a economia e que as decisões serão feitas “reunião a reunião” a partir do que indicarem os dados econômicos.
Nesse sentido, operadores seguem atentos às novas divulgações e falas de autoridades do banco central.
A semana guarda, por exemplo, números do PIB do terceiro trimestre, já na terça-feira. A expectativa do Bradesco é que o dado mostre uma alta de 3,2% na comparação anual. O dia também reserva o índice PCE, métrica favorita do Fed para medir a inflação. Já semana que vem trará a ata do encontro do Fed, que deverá detalhar a tomada de decisão do comitê.
A expectativa é que a autoridade monetária mantenha os juros na faixa de 3,75% e 3,5% no encontro de janeiro: segundo a ferramenta FedWatch, essa aposta reúne 80% dos operadores. Os 20% restantes apontam que um novo corte de 0,25 ponto percentual é mais provável.
Já na ponta corporativa, a Vale disparava mais de 3% na esteira da notícia de que a Aliança Energia, joint venture da mineradora com a gestora Global Infrastructure Partners (GIP), assinou um acordo para comprar um complexo eólico da Pontal Energy, na Bahia.