SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após rondar a estabilidade em grande parte da manhã, o dólar fechou em forte queda de 0,79% nesta quarta-feira (23), cotado a R$ 5,522, com os investidores atentos às negociações comerciais de Donald Trump com o Brasil e outros países do mundo.
Já a Bolsa fechou em disparada de 0,99%, a 135.368 pontos, puxado para cima pelos ganhos da Petrobras. Ao longo dia, as ações preferenciais da estatal apresentaram alta de 2,04%.
No cenário internacional, a expectativa de que os EUA e a UE (União Europeia) firmem um acordo comercial animou os investidores. Segundo relatos de diplomatas europeus à Reuters, o acordo deve definir uma taxa de 15% sobre os produtos da UE importados para os EUA, evitando uma tarifa mais severa de 30% prevista para ser implementada a partir de 1º de agosto.
Na noite de terça-feira (22), o presidente norte-americano já havia anunciado um acordo comercial com o Japão, que definia uma redução de 24% para 15% da tarifa cobrada sobre os produtos do país. Há duas semanas, o republicano havia ameaçado aumentar a taxa para 25%.
O acordo com o Japão foi acompanhado de outros com a Indonésia e as Filipinas, que conseguiram reduzir as tarifas impostas sobre suas exportações em troca de uma redução das taxas sobre produtos americanos importados.
Em acordo celebrado na semana passada, mas detalhado nesta terça-feira (22), a Indonésia concordou em eliminar tarifas sobre mais de 99% de produtos dos EUA. Os EUA reduzirão as tarifas sobre a maior economia do Sudeste Asiático de 32% para 19%.
A taxa é igual à anunciada para as Filipinas também nesta terça, que prometeu zerar as tarifas sobre produtos americanos, segundo publicação de Trump no Truth Social. A taxa para o Vietnã foi fixada em 20%.
Na cena doméstica, as incertezas sobre as negociações comerciais entre Trump e Brasil seguiram marcando o dia. Com pouco mais de uma semana para o prazo final do acordo, os canais de negociação formais entre o governo brasileiro e o americano continuam fechados.
O governo do Brasil enviou uma carta pedindo a negociação e não teve resposta -e segue sem previsão de ter. Com este cenário, integrantes do governo Lula começam a duvidar de uma reversão das sobretaxas antes de 1º de agosto.
Além disso, o governo e o empresariado já estudam formas de reagir à medida do governo americano, caso ela se efetive.
As tarifas extras já impostas por Trump derrubaram a venda de carne bovina brasileira para os americanos em 80% em menos de três meses.
Segundo Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, apesar da incerteza nas negociações entre EUA e Brasil, o dólar e a Bolsa durante o dia se beneficiaram de uma tendência global com os acordos comerciais de Trump. “O Ibovespa acompanhou esse otimismo, puxado principalmente pela Petrobras”.
Nesta quarta, a estatal anunciou, em comunicado ao mercado, que a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) aprovou um acordo para produção compartilhada no pré-sal de Jubarte, localizada na Bacia de Campos. Com isso, a Petrobras passará a ter uma participação na jazida de 97,25%.
A Weg, por outro lado, pesou sobre o índice, com queda de 7,62% ao longo do pregão. A empresa revelou um lucro líquido de R$ 1,59 bilhão no segundo trimestre, crescimento abaixo do projetado pelo mercado.
Patrick Buss, operador de renda variável da Manchester Investimentos, os acordos comerciais dos EUA tem reduzido as tarifas e colocado uma pressão menor sobre o dólar. Para ele, a liberação do governo Lula para o Orçamento também impactou positivamente o mercado.
“Relacionado ao câmbio, há também a liberação do governo federal de R$ 20,6 bilhões para o Orçamento, o que melhorou o cenário fiscal e diminuiu a percepção de risco do país”, afirma.
O anúncio da medida foi feito pelo governo Lula na última terça (23). Segundo o governo, a decisão foi possível porque houve melhora nas expectativas de arrecadação em 2025.
A medida deve gerar alívio em ministérios, que poderão executar uma parcela maior de investimentos e despesas de custeio administrativo, e também vai destravar uma parte das emendas parlamentares, verbas usadas pelos congressistas para bancar ações em seus redutos eleitorais.
Em maio, a equipe econômica precisou fazer uma contenção de R$ 31,3 bilhões em despesas.
Investidores também permanecem atentos a situação judicial de Jair Bolsonaro (PL), que está no centro do atrito entre EUA e Brasil. Na última terça-feira (22), a defesa do ex-presidente negou ter descumprido a determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes que o impediu de conceder entrevistas que fossem divulgadas pelas redes sociais.
Na sexta passada (18), o ministro determinou que Bolsonaro terá de usar uma tornozeleira eletrônica, está proibido de usar as redes sociais e deve ficar recolhido em domicílio entre 19h e 6h de segunda a sexta e em tempo integral nos fins de semana e feriados. O ministro também proibiu a transmissão ou veiculação de áudios e vídeos de entrevistas do ex-presidente nas redes sociais.
Em resposta, os EUA restringiram vistos para autoridades do Judiciário brasileiro e seus familiares imediatos, citando novamente objeções aos processos legais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Investidores temem que o cenário possa levar Trump a adotar uma postura mais agressiva em relação às tarifas aplicadas ao Brasil.