SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em queda de 0,39% nesta terça-feira (29), cotado a R$ 5,570, com investidores acompanhando as tentativas de negociação comercial do Brasil com os Estados Unidos no âmbito das tarifas de importação.
Já a Bolsa subiu 0,45%, a 132.725 pontos.
A pauta comercial segue sendo a tônica dos mercados e não deve deixar de ser tão cedo.
O prazo para negociar as tarifas de importação impostas pelo governo Donald Trump se encerrará na sexta-feira, 1º de agosto. Enquanto algumas economias, como Japão e União Europeia, conseguiram desenhar acordos com os norte-americanos, outras, como o Brasil, têm enfrentado dificuldades para sentar à mesa com os norte-americanos.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tenta contato com os Estados Unidos desde 9 de julho, quando Trump publicou uma carta na rede social Truth Social anunciando as sobretaxas de 50% a produtos brasileiros, mas os Estados Unidos parecem pouco dispostos a negociar.
Em falas a jornalistas nesta terça, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) afirmou que o vice-presidente Geraldo Alckmin, também ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, esteve em uma longa conversa na véspera com o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Howard Lutnick.
“Alckmin tem feito um esforço monumental de conversar com sua contraparte”, disse Haddad. O governo, segundo ele, não está “fixado” no prazo de 1º de agosto, porque pode “inibir que a conversa transcorra com mais liberdade e sinceridade entre os dois países”.
A assessoria do Ministério do Desenvolvimento afirmou à Folha que o foco está na reversão total das tarifas. Mas, segundo ministros envolvidos com a negociação e integrantes da equipe de Alckmin, o governo Lula estuda negociar tarifas para setores específicos.
O Brasil é hoje, por exemplo, o maior produtor e exportador de suco de laranja do planeta, vendendo 95% de sua produção para o exterior. Desse volume, 42% tem os Estados Unidos como destino. O país também é o principal fornecedor de café ao mercado norte-americano. Entre janeiro e maio de 2025, os EUA compraram 2,87 milhões de sacas, o equivalente a 17,1% de todo o volume exportado pelo Brasil, conforme dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).
Lutnick afirmou nesta terça que produtos que não são produzidos internamente pelos EUA podem receber uma tarifa zero, mencionando manga, cacau, café e abacaxi. “Os Estados Unidos não produzem esses produtos. Então, poderiam entrar com tarifa zero”, afirmou em entrevista à emissora de televisão CNBC Internacional.
Além de buscar junto à gestão Trump o adiamento do anúncio, haveria ainda um pedido de exclusão das aeronaves fabricadas pela empresa Embraer, que tem o mercado norte-americano como principal comprador para a aviação regional. Um dos argumentos em favor da medida seria o de que a fabricante brasileira importa peças dos EUA. As ações da empresa dispararam 3,76% na Bolsa em resposta.
A falta de uma resposta concreta dos EUA também está levando o governo a avaliar cenários possíveis de reação. Um plano de contingência está sendo analisado “com muita tranquilidade” pelo presidente Lula, segundo Haddad, mas o foco do Brasil seguirá sendo a via diplomática.
Auxiliares de Lula ressaltam que não haverá concessão na parte política ligada ao tarifaço, que inclui a questão jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ou qualquer outra decisão do Judiciário.
Em nota, o governo brasileiro reforçou que a soberania do Brasil é inegociável nas conversas sobre as tarifas impostas pelos americanos.
O mercado vê as movimentações com uma dose de ceticismo. Para os operadores, as chances de suspensão das sobretaxas ou de adiamento do prazo são baixas, e as decisões de investimento estão sendo marcadas por cautela.
“Ainda estamos patinando para tentar fazer um negócio com o governo dos EUA. Mercado está colocando expectativa sobre o plano de contingência do governo e como pode afetar a questão fiscal do país”, disse Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.
A imposição das sobretaxas ao Brasil poderá levar a uma desaceleração do PIB (Produto Interno Bruto) mais acentuada do que o previsto, segundo uma avaliação preliminar do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Algumas tarifas por exemplo, as que incidem sobre produtos de aço e alumínio já estão afetando a economia brasileira e foram levadas em conta na última previsão do Fundo, disse Petya Koeva-Brooks, vice-diretora do Departamento de Pesquisa do FMI.
“Agora, quando se trata da questão mais ampla do impacto de outras tarifas que foram apresentadas, nossa avaliação preliminar é que isso levaria a uma desaceleração mais acentuada na atividade do que a que estamos projetando atualmente”, disse Koeva-Brooks.
O FMI prevê que a economia brasileira crescerá 2,3% em 2025, ante uma expansão de 3,4% no ano passado, desacelerando a 2,1% em 2026.
Fora da pauta comercial, investidores ainda se posicionaram para as decisões de política monetária do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central) e do Fed (Federal Reserve, a autoridade norte-americana). Os encontros começaram nesta terça e as deliberações serão anunciadas na quarta. A expectativa é de que ambos mantenham suas taxas de juros estáveis.