SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,13% nesta sexta-feira (12), cotado a R$ 5,411, com investidores ajustando apostas para os juros dos Estados Unidos nos próximos meses.
A moeda chegou a R$ 5,425 na máxima e a R$ 5,378 na mínima, em linha com a oscilação vista no exterior. Lá fora, temores de uma bolha no setor de inteligência artificial voltaram a impor cautela entre os operadores, derrubando índices acionários em Wall Street e na Europa.
Aqui, porém, o Ibovespa caminhou descolado do movimento global e fechou em alta de 0,99%, a 160.766 pontos, embalado por dados do setor de serviços no Brasil e por perspectivas sobre a corrida eleitoral de 2026.
A decisão de juros do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) na quarta-feira seguiu ditando o ritmo dos negócios globais.
A autoridade monetária optou por um corte de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, levando-a à banda de 3,5% e 3,75%. A decisão foi dividida: enquanto nove integrantes votaram a favor da redução, três discordaram. Entre esses dissidentes, um defendeu um corte maior, de 0,5 ponto, e os outros dois votaram pela manutenção do patamar então vigente.
Na entrevista coletiva após a reunião, Jerome Powell, presidente do Fed, evitou indicar quais serão os próximos passos do banco central. Ele afirmou que os juros estão “bem posicionados” para responder ao que estiver por vir para a economia e que as decisões serão feitas “reunião a reunião” a partir do que indicarem os dados econômicos.
“Eu destacaria que, tendo reduzido nossa taxa de juros em 0,75 ponto percentual desde setembro e 1,75 ponto desde setembro do ano passado, a taxa básica está agora dentro de uma ampla faixa de estimativas de seu valor neutro e estamos bem posicionados para esperar para ver como a economia evolui”, disse.
Essa postura foi lida como positiva pelos mercados, que agora observam dados e falas de autoridades do banco central à procura de pistas sobre os próximos passos. Em declarações nesta sexta, os dirigentes que votaram pela manutenção dos juros argumentaram que o Fed poderia ter esperado por dados adicionais sobre a inflação e o mercado de trabalho antes de reduzir a taxa.
Esperar até o início do próximo ano, disse o presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, teria dado às autoridades o benefício de dados atualizados do governo com os relatórios da próxima semana, ao mesmo tempo em que acarretaria pouco risco adicional para um mercado de trabalho que parece estar “esfriando apenas moderadamente”.
Já o presidente do Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, avaliou que a política de juros deveria permanecer modestamente restritiva para manter a inflação sob controle.
As falas reforçam que as próximas divulgações macroeconômicas serão determinantes para as decisões de juros do curto prazo. Por enquanto, operadores veem 22% de probabilidade de um corte de 0,25 ponto percentual acontecer no encontro de janeiro, segundo a ferramenta FedWatch.
No mercado de câmbio, quanto maior o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, melhor para o real. Quando a taxa por lá cai e a Selic permanece em patamares altos, investidores se valem da diferença de juros para apostar na estratégia de “carry trade”. Isto é: toma-se empréstimos a taxas baixas, como a americana, para investir em mercados de taxas altas, como o brasileiro. O aporte aqui implica na compra de reais, o que desvaloriza o dólar.
Já nas praças acionárias, o clima foi de cautela. Um sentimento de aversão ao risco tomou conta dos mercados depois que o alerta de margem de lucro da Broadcom agravou as preocupações sobre uma possível bolha no setor de inteligência artificial.
Esses temores foram reavivados na quarta-feira, quando um balanço decepcionante da Oracle levantou dúvidas sobre a sustentabilidade dos gastos e do retorno no setor de tecnologia.
“O que vemos hoje é uma clara perda de apetite pelas ações de tecnologia”, disse Ipek Ozkardeskaya, analista sênior de mercado do Swissquote Bank. O Nasdaq Composite e o S&P500 caíram mais de 1%, e os temores também puxaram os índices europeus para baixo.
O Ibovespa, porém, não foi tão afetado pelo pessimismo global. Aqui, os investidores repercutiram dados do setor de serviços, que surpreendeu ao crescer mais do que o esperado em outubro. O aumento foi de 0,3% em relação a setembro, ante projeção de 0,2%.
O mercado de trabalho aquecido, com o desemprego em mínimas recordes, vem ajudando o setor de serviços a manter a resiliência neste ano mesmo diante da desaceleração da economia, com a taxa básica de juros Selic em 15%.
O dado tende a favorecer a hipótese de que o Banco Central irá manter a política monetária restritiva por mais tempo, diz Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
“Sugere que talvez o BC não corte os juros em janeiro e faça essa flexibilização de uma forma mais lenta, mais gradativa, ao longo dos próximos meses. Essa perspectiva de que a Selic pode cair mais lentamente tende a favorecer o diferencial de juros brasileiro e atrair capital externo, o que favorece o real.”
A seara política também foi destaque, após uma pesquisa da Apex/Futura mostrar que o presidente Lula (PT) empata com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e com a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (PL) em um eventual primeiro turno nas eleições de 2026. O petista também venceria o senador Flávio Bolsonaro (PL) na primeira fase do pleito.
“Sondagens eleitorais mostrando ganho de tração de candidaturas de centro-direita, com destaque para o governador Tarcísio de Freitas, também reforçam o modesto otimismo com o mercado local”, avalia Bruno Perri, sócio-fundador da Forum Investimentos.
“A reversão da aplicação da Lei Magnitsky ao ministro Alexandre de Moraes é interpretada também como enfraquecimento do núcleo duro bolsonarista, que pressiona pelo nome de Flávio.”