SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou estável e a Bolsa avançou levemente nesta quarta-feira (16), com investidores cautelosos diante dos rumores sobre possível demissão do presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, das incertezas na guerra tarifária dos EUA e do impasse em torno do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
A moeda norte-americana registrou uma valorização tímida de 0,04%, cotada a R$ 5,560. No ano, porém, a divisa dos EUA acumula uma queda de 10,27% ante ao real.
Já a Bolsa encerrou com uma leve alta de 0,19%, a 135.510 pontos. As ações da Weg, Ambev e Vale estavam entre os melhores desempenhos, enquanto os papeis da Embraer limitaram um avanço maior do índice devido à tensão comercial com os EUA.
Nas primeiras negociações do dia, o dólar registrou alta e a Bolsa teve leve queda com os investidores atentos à recente ameaça tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma tarifa de 50% sobre o Brasil a partir de 1º de agosto.
Na terça-feira (15), o governo Lula (PT) enviou uma carta manifestando indignação e cobrando resposta dos Estados Unidos acerca da sobretaxa anunciada. O documento é assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
O texto é endereçado ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer.
Alckmin realizou nesta quarta-feira (16) o segundo dia de reuniões com representantes da indústria e do agronegócio, com discussões sobre os impactos e reações dos setores diante da sobretaxa
Na véspera, o vice-presidente afirmou que a prioridade do governo Lula é reverter a sobretaxa imposta pelos Estados Unidos antes que ela comece a valer, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.
Do lado dos EUA, entretanto, vieram mais ameaças. O representante comercial Jamieson Greer disse na terça que iniciou uma investigação sobre práticas comerciais “injustas” do Brasil. O processo decidirá se o tratamento dado pelo país ao comércio digital é “discriminatório” para o comércio dos EUA.
Diante desse cenário, o dólar avançou 0,64%, a R$ 5,594, na máxima da sessão, às 10h48.
Mas após notícias no início da tarde de que Trump provavelmente demitirá o presidente do Fed, o dólar interrompeu o movimento de alta e passou a cair.
A Bloomberg News noticiou nesta quarta a possibilidade de substituição de Powell, citando uma autoridade não identificada da Casa Branca.
Separadamente, a Reuters News informou, citando uma fonte, que Trump está aberto à ideia de demitir Powell.
Trump foi rápido em negar as notícias, mesmo lançando uma nova enxurrada de críticas contra o presidente do Fed por não cortar a taxa de juros.
Perguntado se descartou a possibilidade de demitir Powell, Trump disse: “Não descarto nada, mas acho que é altamente improvável, a menos que ele tenha que sair por fraude”.
A possibilidade de demissão foi suficiente para desacelerar a alta do dólar ante o real, além de provocar a desvalorização da moeda americana em relação a outras divisas. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas, caía 0,32%, a 98,32, ao fim do pregão.
Isso ocorre porque, caso haja uma troca na liderança do Fed por alguém propenso a reduzir as taxas de juros nos Estados Unidos, mercados emergentes como o Brasil acabam se beneficiando devido ao diferencial de juros.
Na mínima da sessão, às 14h30, após os rumores sobre a sucessão no Fed, o dólar recuou 0,32%, a R$ 5,540.
Ao fim da sessão, o dólar passou a rondar a estabilidade. Isso porque, diante das incertezas, os investidores optaram pela cautela, sem realizar grandes apostas para qualquer direção.
“O mercado está em compasso de espera, mas com viés de proteção”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“O mercado está reagindo ao aumento das tensões entre Brasil e EUA. Essa investigação [sobre práticas comerciais injustas], que foi um expediente já usando pelos EUA contra outro países, está piorando um pouco a percepção. Indefinição do IOF também não foi bom”, completou.
O mercado nacional também observou o impasse em torno do IOF, depois que a audiência de conciliação promovida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) entre o governo e o Congresso terminou sem acordo, com os dois lados apontando que preferem aguardar a decisão judicial.
A expectativa era de que o Ministério da Fazenda apresentasse uma nova proposta, com um recuo na tributação sobre o risco sacado, segundo cinco pessoas que participam das discussões.
A audiência de conciliação teve a participação apenas dos advogados de cada lado, sem a presença dos políticos.
Após o fechamento do mercado na véspera, as partes envolvidas na negociação no STF se manifestaram no sentido de manter a decisão a cargo da corte ao não chegarem em um acordo sobre o tema. Com isso, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, deve decidir se mantém o decreto de Lula.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na terça que acredita em uma solução rápida para a divergência.