SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrava leve alta nesta quarta-feira (16), enquanto a Bolsa tinha leve queda, com os investidores atentos às recentes ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre outros países.
Já no mercado nacional, os analistas monitoram o impasse entre governo e Congresso em torno do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Às 13h44, o dólar subia 0,11%, cotado a R$ 5,564. Na terça (15), a moeda fechou em queda de 0,48%, cotada a R$ 5,558, interrompendo uma sequência de quatro sessões consecutivas de ganho.
No mesmo horário, a Bolsa registrava um recuo de 0,46%, a 134.622 pontos, com a Embraer entre os piores desempenhos em meio à tensão comercial com os EUA, bem como os papeis do Banco do Brasil. Na véspera, o Ibovespa fechou com alta de 0,04%, a 135.250 pontos.
Por mais uma sessão, as tensões comerciais ocupavam a mente dos agentes financeiros, que seguem monitorando a resposta do governo brasileiro ao anúncio de Trump na semana passada de que vai impor uma tarifa de 50% sobre o país a partir de 1º de agosto.
Nesta terça, o governo Lula (PT) enviou uma carta manifestando indignação e cobrando resposta dos Estados Unidos acerca da sobretaxa anunciada pelo país. O documento é assinado pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin (PSB), e pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
“O Governo brasileiro manifesta sua indignação com o anúncio, feito em 9 de julho, da imposição de tarifas de importação de 50% sobre todos os produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, a partir de 1° de agosto”, diz o texto.
O texto é endereçado ao secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, e ao representante de Comércio dos EUA, Jamieson Greer.
Alckmin realiza nesta quarta-feira (16) o segundo dia de reuniões com representantes da indústria e do agronegócio, com discussões sobre os impactos e reações dos setores diante da sobretaxa
Na véspera, o vice-presidente afirmou que a prioridade do governo Lula é reverter a sobretaxa imposta pelos Estados Unidos antes que ela comece a valer, mas disse que pode pedir a prorrogação deste prazo, se for necessário.
“Nós queremos resolver o problema o mais rápido possível. Se houver necessidade de mais prazo, vamos trabalhar nesse sentido”, afirmou o vice-presidente.
Alckmin defendeu que o setor produtivo brasileiro ajude no diálogo com as empresas dos EUA, uma vez que a economia dos dois países deve ser prejudicada com a tarifa.
As importações hoje são sobretaxadas em 10%, tarifa anunciada por Trump em 2 de abril. Ou seja, além das tarifas já cobradas, há uma cobrança adicional de 10%. Essa alíquota será substituída pela de 50% a partir de agosto.
A sobretaxa não é adicionada a produtos que já sofrem tarifas setoriais, como aço e alumínio, sobre os quais há tarifas de 50%.
Do lado dos EUA, entretanto, vieram mais ameaças. O representante comercial Jamieson Greer disse na terça que iniciou uma investigação sobre práticas comerciais “injustas” do Brasil. O processo decidirá se o tratamento dado pelo país ao comércio digital é “discriminatório” para o comércio dos EUA.
No exterior, o foco também tem permanecido nas disputas comerciais, à medida que os mercados acompanham as negociações tarifárias dos EUA com seus principais parceiros, como União Europeia e Japão, antes do prazo de 1º de agosto para a entrada em vigor de tarifas mais altas.
Nesta semana, as atenções têm se voltado para o potencial impacto das taxas de importação sobre a inflação dos EUA, com números mostrando na véspera que a alta dos preços ao consumidor acelerou em junho, mas em linha com o esperado.
Operadores têm mantido as apostas de que o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) deve cortar a taxa de juros até duas vezes neste ano, com a primeira redução possivelmente em setembro, apesar da pressão de Trump por cortes imediatos nos juros.
Trump disse nesta quarta-feira que não está planejando demitir o presidente do Fed, Jerome Powell, depois que uma reportagem da Bloomberg dizendo que o presidente provavelmente fará isso em breve provocou uma queda nas ações e no dólar.
Quando os juros estão altos nos Estados Unidos, os títulos americanos passam a oferecer retornos mais atrativos. Isso leva os investidores a direcionar seus recursos para estes mercados. Quando há queda nessas taxas, o contrário pode acontecer, beneficiando mercados emergentes, como o Brasil.
O mercado nacional também observa o impasse em torno do IOF, depois que audiência de conciliação promovida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) entre o governo e o Congresso terminou sem acordo, com os dois lados apontando que preferem aguardar a decisão judicial.
A expectativa era de que o Ministério da Fazenda apresentasse uma nova proposta, com um recuo na tributação sobre o risco sacado, segundo cinco pessoas que participam das discussões.
A audiência de conciliação teve a participação apenas dos advogados de cada lado, sem a presença dos políticos.
Após o fechamento do mercado na véspera, as partes envolvidas na negociação no STF se manifestaram no sentido de manter a decisão a cargo da corte ao não chegarem em um acordo sobre o tema. Com isso, o ministro Alexandre de Moraes, relator da ação, deve decidir se mantém o decreto de Lula.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na terça que acredita em uma solução rápida para a divergência.
Com isso, diante das incertezas na cena doméstica, os investidores optavam pela cautela, sem realizar grandes apostas para qualquer direção, o que gerava pouca volatilidade no pregão.
“O mercado está em compasso de espera, mas com viés de proteção, aumentando a demanda por dólares”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
“O mercado está reagindo ao aumento das tensões entre Brasil e EUA. Essa investigação, que foi um expediente já usando pelos EUA contra outro países, está piorando um pouco a percepção. Indefinição do IOF também não foi bom”, completou.