SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar registrava alta nesta sexta-feira (11), enquanto a Bolsa caía, com os investidores avaliando o anúncio da sobretaxa de 50% dos EUA sobre os produtos brasileiros, divulgada pelo presidente Donald Trump na última quarta-feira (9).
O mercado teme uma possível escalada nas tensões comerciais entre os países, e aguarda por novas informações do republicano, que promete divulgar tarifas sobre outros países.
Às 12h12, a moeda norte-americana subia 0,59%, a R$ 5,573. Na semana, a moeda acumula alta de 2,6%, sendo que nessa quinta-feira (10) ela atingiu o seu maior valor em um mês, ao fechar a R$ 5,540, uma valorização de 0,69% em relação ao dia anterior.
No mesmo horário, a Bolsa perdia 0,54%, a 135.995 pontos. Na véspera, fechou com alta de 0,53%, 136.743 pontos, mas distante da mínima do dia, quando caiu 1,07%, a 136.014 pontos.
O movimento do real nesta sessão tinha como pano de fundo o anúncio do líder republicano de tarifar os produtos brasileiros que entram nos EUA, a partir de 1° de agosto.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou a medida de Trump e disse que o Brasil responderá por meio da lei de reciprocidade, que autoriza o governo a adotar medidas de retaliação de forma provisória durante o processo.
O mercado nacional aguarda novidades sobre como o governo brasileiro reagirá à ofensiva de Trump, seja com retaliações ou avançando em negociações comerciais.
“Nós entendemos que o Brasil é um país que não tem contencioso com ninguém, nós não queremos brigar com ninguém, nós queremos negociar e o que nós queremos é que as decisões brasileiras sejam respeitadas. Portanto, se ele [Trump] ficar brincando de taxação, vai ser infinita essa taxação. Vamos chegar a milhões e milhões e milhões por cento de taxa. O que o Brasil não aceita é intromissão nas coisas do Brasil”, afirmou Lula em entrevista ao Jornal Nacional nesta quinta-feira (10).
O petista afirmou que, primeiro, tentará negociar as tarifas mas que, se isso não funcionar, será colocada em prática a reciprocidade.
A fala do presidente Lula segue na esteira da ameaça de Trump de uma retaliação à resposta brasileira. O republicano disse que, se o Brasil decidir aumentar suas tarifas, a porcentagem da retaliação será adicionada aos 50% já impostos pelos EUA.
Nesta sexta, falando a repórteres ao deixar a Casa Branca para visitar o Estado do Texas, devastado pelas enchentes, Trump disse que vai conversar com o presidente Lula “talvez em algum momento”.
Diante desse cenário, investidores demonstram receio de uma escalada de um conflito tarifário entre os países, o que pode pressionar a valorização do dólar, aumentar a incerteza e a insegurança para os investidores estrangeiros e gerar efeitos negativos para diversos setores da economia brasileira.
“É bem provável que nós vamos ver agora o dólar novamente mais estressado, em patamares maiores”, afirmou Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos CEA.
“Trump deu como motivos alguns fatores políticos, como a questão de insegurança jurídica, do ativismo judicial, e isso acaba assustando um pouco mais os investidores. Então isso pode afugentar muito mais os investidores estrangeiros e gerar um impacto negativo em investimento direto”, completou Coelho.
Na perspectiva de Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, o setor industrial e de materiais, bem como as empresas de bens industrializados e de commodities podem sentir mais os efeitos da taxação, com reflexos na inflação e na elevação ou manutenção da Selic em patamares elevados.
“A magnitude do impacto é grande. Do ponto de vista macroeconômico, há risco de aceleração da inflação no Brasil por elevação de insumos importados e queda da oferta exportável, podendo pressionar o Banco Central a elevar ainda mais os juros”, disse Patzlaff.
Por outro lado, o Ministério da Fazenda apontou nesta sexta-feira que o impacto das tarifas contra o Brasil, se efetivadas, devem ser concentradas em alguns setores específicos e influenciar pouco a estimativa de crescimento em 2025, segundo boletim da SPE (Secretaria de Política Econômica).
A China criticou os EUA por tentativa de interferência no Brasil. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Mao Ning, afirmou nesta sexta-feira, que “tarifas não devem se tornar ferramentas de coerção, intimidação ou interferência nos assuntos internos de outros países”.
Mao acrescentou que “a igualdade soberana e a não interferência em assuntos internos são princípios importantes da Carta das Nações Unidas e também normas básicas das relações internacionais”.
Para além do Brasil, Trump fez novas ameaças tarifárias na véspera a outros países.
Em carta enviada ao primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, Trump afirmou que vai impor uma taxa de 35% sobre os produtos canadenses a partir de 1º de agosto, citando sua insatisfação com o suposto fluxo de fentanil que entra nos EUA a partir do vizinho ao norte.
O anúncio pegou os mercados de surpresa, uma vez que o governo canadense vem tendo discussões comerciais com Washington há meses, o que fornecia esperanças de que os canadenses poderiam receber uma taxa menor.
Em outro sinal negativo, Trump sinalizou que a tarifa básica cobrada sobre países que não receberam taxas específicas, atualmente em 10%, pode ser elevada para 15% ou 20%.
Com os comentários de Trump, os mercados retomavam as especulações de que o prazo de 1º de agosto estipulado por Trump para o fechamento de acordos comerciais possa, na verdade, ser o início de uma guerra comercial total, o que fomentava a fuga de ativos de risco.
“A elevação das tensões, decorrente das ameaças de tarifas de Trump, resultou em um aumento da volatilidade nos mercados, abrangendo câmbio e mercados de capitais”, disse Marcio Riauba, head da mesa de operações da StoneX Banco de Câmbio.
“Essa dinâmica é impulsionada pelas declarações de Trump sobre a possível aplicação de tarifas gerais de 15% a 20% sobre a maioria dos parceiros comerciais”, completou.
O indicador de volatilidade de Wall Street VIX, o “índice do medo”, registrava uma alta de 6,91%, a 16,87, por volta das 10h30, o que indica um mercado com maior volatilidade e menor confiança dos investidores no mercado.
Os investidores também avaliavam novos dados econômicos no Brasil. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou que o volume de serviços cresceu pelo quarto mês consecutivo em maio, registrando uma alta de 0,1%.
O resultado ficou abaixo da expectativa em pesquisa da Reuters de ganho de 0,2% no mês. Apesar disso, o dado mostra resiliência em meio à expectativa de desaceleração da economia.
Já o Ministério da Fazenda revisou para cima a previsão para o crescimento do país neste ano, passando a ver o PIB (Produto Interno Bruto) em 2,5%, contra previsão de 2,4% feita em maio. Para 2026, a estimativa passou de 2,5% para 2,4%.