[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Eleito governador do Rio Grande do Sul com 54% em 2018 e reeleito com 57% em 2022, nas duas vezes pelo PSDB, Eduardo Leite, 40 anos, agora no PSD, apresenta-se como pronto para liderar um movimento de “despolarização e desradicalização” na política brasileira. Em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) nesta segunda-feira (3), ele exibiu como credenciais os resultados de sua gestão a partir de 2019. Basicamente, corte de gastos e reformas. “Nossa agenda foi muito profunda e dura em reformas”, afirmou. Agenda que, na sua visão, precisará ser transportada para o plano federal. “Todos sabemos que o Brasil vive profundo desequilíbrio nas suas contas há algum tempo”, disse o Leite. “E uma perspectiva, num futuro muito próximo, de não pagar despesas básicas. Que dirá investimentos.” O futuro próximo é 2027. Logo, “o país precisará discutir um profundo ajuste orçamentário”. 
                        
                                                                    
Em um cenário ainda “movediço”, o governador gaúcho se disse “disponível” para ser candidato do centro às eleições presidenciais em 2026. “Me sinto em condições para isso”, afirmou, entre o presidente do PSD, Gilberto Kassab (secretário estadual de Governo e Relações Institucionais de São Paulo), e o presidente da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB) e da Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo (Facesp), Alfredo Cotait Neto. Mas se disse disposto a colaborar caso o escolhido seja, por exemplo, o governador do Paraná, Ratinho Júnior – que esteve na ACSP em setembro –, colega de partido. “Se houver outro nome, ‘tamo junto'”, disse. 
                        
                                                                    
Depois de apresentar números de seu governo, Leite disse que assumiu o governo estadual enfrentando “flagrante” crise fiscal, com quase cinco anos de atrasos no pagamento dos salários dos servidores. “Chegou a levar 40 dias para completar o salário”, disse, ao enfatizar a reforma administrativa – em todos os Poderes. “Não há sociedade que tenha prosperado com um governo desajustado.” A folha de pagamento consumia 80% da Receita Corrente Líquida (RCL). Agora, está em 60%. Na área da previdência, o limite de isenção, próximo ao teto da União, caiu para um salário mínimo. A receita da gestão gaúcha compreende, em síntese, teto de gastos, concessões e privatizações. O custo da ineficiência, segundo o governador, é transferido para a sociedade. 
                        
                            
                                                            
                            
                        
                                                                    
O país precisa de reformas – Administrativa e Previdenciária. No primeiro caso, que contemple não só a questão dos gastos, mas de performance do serviço. No segundo, são necessários “ajustes dinâmicos” em vez de promover reformas periódicas. “Você vai gastar capital político que deveria ser consumido em outras reformas”, disse. “Ajuste não é simplesmente menos Estado. É o Estado onde ele deveria estar.”
                        
                                                                    
REGULAÇÃO – As parcerias público-privadas (PPPs) no estado garantiram, diz Leite, R$ 46 bilhões em investimentos de 2019 a 2025. E a própria capacidade de investimento do Estado subiu de 2%/4% para 11% da receita. “Você traz a eficiência do setor privado e o poder público não se ausenta.” Ele delimita o papel do agente público. “Eu não acredito no Estado empresário, no Estado empreendedor”, afirmou. O Estado deve proporcionar segurança jurídica e fazer a regulação. “Onde o setor privado pode estar, o Estado não deve estar. Isso envolve, inclusive, os Correios”, disse Leite, respondendo a uma pergunta da plateia. O evento, organizado pelo Conselho Político e Social (Cops) da ACSP,  incluía, além dos ex-senadores Heráclito Fortes e Jorge Borhausen, coordenadores do colegiado, o ex-governador gaúcho Germano Rigotto, o ex-ministro Pimenta da Veiga e os ex-deputados Benício Gama e José Carlos Aleluia.
                        
                                                                    
Mudar, na visão do governador, não é se posicionar entre dois polos, mas tornar-se um terceiro. “É possível fazer política com sobriedade, sensatez e equilíbrio, mas ao mesmo tempo com firmeza.” Para ele, se gasta energia demasiada na tentativa de destruir – e não derrotar – o adversário. “O segredo da mudança é construir o novo e não destruir o velho.” Ao mesmo tempo, outros nomes devem ocupar o espaço político. Ele observou que o atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo 2026, será candidato em sete das dez eleições presidenciais realizadas desde o restabelecimento do voto direto. “A democracia não é só ausência do golpe. É também a compreensão de que é preciso abertura para novas lideranças.” 
                        
                                                                                                                        
Outro assunto questionado na palestra foi o da segurança. Para o governo, a chamada PEC da Segurança Pública (Proposta de Emenda à Constituição 18, de 2025) pode e deve ser discutida, mas o governo não pode condicionar o debate à aprovação do projeto. “Eu vejo o governo federal se esquivando de suas responsabilidades”, afirmou. “Dizer que depende da PEC é absolutamente inverídico. O presidente da República tem total autoridade para liderar o processo.” No Rio Grande do Sul, segundo Leite, foi criado o programa RS Seguro, que prevê reuniões de governança periódicos envolvendo inclusive agentes não ligados ao governo estadual, como o Ministério da Justiça e o Ministério Público Federal. “Criamos um ambiente de confiança que promove essa integração.” Segundo o governador gaúcho,  o governo central mostra “total falta de apetite” para o tema. Ao exibir indicadores que apontam redução de crimes violentos e roubos no estado, ele destacou o que chamou de três “Is” na política local de segurança: integração entre os setores, inteligência e investimento. Ao citar o caso recente do Rio de Janeiro – para o qual admitiu não ter todos os elementos para uma análise “sofisticada” – Leite disse que é preciso, além das ações policiais, promover “asfixia financeira” dos grupos criminosos. Inclusive em áreas consideradas nobres.