SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Entenda as novas sobretaxas anunciadas pelos EUA no fim de semana, café pode ficar mais barato e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (14).
**NO MESMO BARCO**
Ninguém gosta de estar sozinho em uma situação difícil. Para não deixar o Brasil só na missão de enfrentar o tarifaço de Donald Trump, União Europeia e México gentilmente entraram no mesmo barco.
No sábado (12), o presidente americano anunciou uma sobretaxa de 30% para o país vizinho e para o bloco econômico. A alíquota deles pode até ser menor do que a recebida pelo Brasil 50% na importação para os EUA, mas eles também estão em maus lençóis.
DO NADA
Tanto o México quanto a UE já haviam negociado com Washington e o entendimento era de que a tensão comercial estava apaziguada.
No caso dos europeus, as extensas negociações não haviam chegado a uma conclusão, mas a noção era de que seria possível chegar em um acordo satisfatório para os dois lados.
Ou seja, a notícia caiu como uma bomba no colo dos europeus e dos mexicanos.
JUSTIFICATIVAS
Vamos por partes.
[1] México. Trump encaminhou o aviso das tarifas para a presidente, Claudia Sheinbaum. Ele citou o tráfico de fentanil, droga que causa uma crise sanitária nos Estados Unidos, para defender as barreiras ao comércio.
Logo no início do mandato, quando aplicou as primeiras sanções aos vizinhos Canadá e México, o chefe da Casa Branca já havia citado o entorpecente e pedido ações contra o tráfico.
O México ainda não conseguiu deter os cartéis que tentam transformar toda a América do Norte em um playground do narcotráfico, escreveu o líder republicano.
O governo mexicano classificou a tarifa como um “tratamento injusto”..
Quem tem, tem medo. O México é um dos países mais vulneráveis às tarifas, já que 80% de suas exportações têm como destino os EUA, seu maior parceiro comercial.
[2] União Europeia. Na opinião de Trump, a UE foi formada para ferrar os americanos isto é, o bloco sempre esteve em maus lençóis com o presidente.
A maior queixa dele é o déficit comercial de mercadorias dos EUA com a UE, que em 2024 chegou a US$ 235 bilhões, de acordo com dados do U.S. Census Bureau. Já a UE tem apontado repetidamente para o superávit dos EUA em serviços, argumentando que ele, em parte, reequilibra a balança.
Combinando bens, serviços e investimentos, os dois são, de longe, os maiores parceiros comerciais um do outro.
**NA BASE DO DIÁLOGO**
Donald Trump deu um tapa no governo brasileiro e os empresários querem que Lula dê a ele a outra face.
A Faria Lima está assustada com a decisão do presidente americano de sobretaxar o Brasil em 50% e pede que Brasília busque ajuda no setor privado para costurar um consenso diplomático e o governo tenha cuidado para não escalar a polarização política.
MUITA CALMA NESSA HORA
Na quinta-feira (10), um dia depois do anúncio da tarifa, Lula disse que criaria um comitê composto por empresários para acompanhar a questão tarifária entre os dois países, e que as medidas diplomáticas seriam tomadas pelo Itamaraty.
Vamos tentar negociar. Mas, se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nós, nós vamos cobrar 50% dele, afirmou o chefe brasileiro em entrevista à Record.
No final da noite de ontem, ele realizou a promessa. O presidente avisou aos ministros que se reunirá pessoalmente com empresários para tratar desse tema, de acordo com fonte que participou da reunião organizada pelo petista.
NO CANTINHO DO PENSAMENTO
O empresariado se queixa do isolamento de Lula após a decisão. Ele estaria pouco disponível para conversar com os líderes corporativos, coisa que costumava fazer em momentos difíceis dos dois primeiros mandatos.
“A hora é de avaliar bem nossos próximos movimentos. A tarifa só entra em vigor no dia 1º de agosto. Políticos, empresários e diplomatas podem ajudar a construir um caminho”, disse Fábio Barbosa, presidente do conselho de administração da Natura Cosméticos S.A.
PROCURA-SE
O representante ideal para dialogar com Trump. Para os representantes do setor privado, esse não seria Lula, nem o assessor internacional da Presidência, Celso Amorim. Eles acreditam que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, também encontraria resistência do outro lado.
Um nome bem aceito pela classe empresarial é Geraldo Alckmin, vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
**O TARIFAÇO NA SUA CASA**
Os Estados Unidos estão entre os maiores compradores da carne bovina e do suco de laranja brasileiros os dois setores já se pronunciaram sobre os novos encargos, afirmando que as tarifas praticamente inviabilizam o comércio com os americanos. O café também está entre os principais atingidos pelo tarifaço.
Se não dá para vender esses produtos para fora, então eles ficarão mais baratos aqui no Brasil? Não necessariamente.
À primeira vista, a resposta lógica é dizer que sim. Se o comprador estrangeiro falhou, o produtor redireciona o estoque para o mercado interno.
Com mais de 211 milhões de habitantes, uma taxa de desemprego de 6,2% e inflação a 5,35% nos últimos 12 meses, o Brasil é um mercado a ser explorado.
O aumento da oferta poderia puxar os preços para baixo.
Sim, mas não é bem assim que a banda toca.
[1]O preço do café, que está nas alturas, pode cair nos próximos meses, mas não como efeito do tarifaço de Trump.
“A safra do ano que vem é estimada para ser recorde, o que será suficiente para recompor os estoques nos países produtores e consumidores”, diz Pavel Cardoso, presidente da Abic.
[2] o mercado de carnes também não depende dos Estados Unidos.
Do total da produção de carne bovina, apenas cerca de 30% é exportada.
Isto é, a oferta doméstica não vai aumentar muito e a mudança deve afetar pouco os preços.
[3] Para os produtores de suco de laranja, o buraco é mais embaixo. O mercado dos cítricos é estruturado para atender à exportação e os EUA são o maior comprador individual do néctar brasileiro (42%).
Os países da Europa também compram muito daqui (52%), mas os economistas não acreditam que as nações consigam absorver todo o excedente deixado pelos americanos, caso eles deixem de comprar o nosso suco.
↳ Como a logística para a distribuição nacional do produto é pequena, vai custar caro aumentar a capacidade de transporte, envase e estoque. Ou seja, ainda que sobre suco, outros custos continuarão sobrecarregando os preços.
**JÁ COMPROU SEU SUPERIATE**
Quantos andares de luxo dá para colocar em um iate sem que ele afunde no mar aberto? É a pergunta que os bilionários deste planetinha azul estão tentando responder.
O QUÊ?
Não existe definição oficial para o que é um superiate, mas, se você visse um por aí, se impressionaria.
São hotéis cinco estrelas flutuantes, descreve Paola Trifirò, que trabalha à frente de um escritório jurídico global e adquiriu mais de uma dúzia desse tipo de barco nos últimos anos.
O site e revista especializada Boat International define um superiate como “um luxuoso iate, de propriedade privada, com 24 metros ou mais de comprimento, e uma tripulação profissional”.
SÓ PARA QUEM PODE
As vendas globais deles dispararam depois da Covid-19. Na pandemia, os ricaços não podiam frequentar hotéis de luxo. Para solucionar essa questão incontornável da humanidade, isolaram os espaços no mar.
Como resultado, 1.024 superiates foram construídos ou encomendados no mundo em 2022, um aumento de 25% em relação a 2021, e um recorde até então.
Esse número aumentou ainda mais em 2023, chegando a 1.203 unidades, um novo recorde.
MENOS É MAIS
Embora haja uma expectativa de que o número total de superiates sendo construídos ou encomendados caia para 1.138 este ano, esses veículos estão ficando cada vez maiores, segundo dados da Boat International.
Até o momento, 61 barcos de 76 metros ou mais estão sendo construídos, um aumento em relação aos 55 registrados em 2024.
No grupo entre 46 e 60 metros de comprimento, o número subiu de 159 para 175. Enquanto isso, as vendas de superiates menores, entre 24 e 27 metros, caíram de 321 no ano passado para 286 este ano.
Tudo o que a mente é capaz de imaginar pode caber dentro de um casco. Cinemas, salões de beleza, academias e saunas estão entre as comodidades dos resorts flutuantes.
Quanto custa? 36 milhões de euros (R$ 230 milhões) por um barco novo menor e até 295 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão) por uma embarcação de 105 metros de comprimento com todos os opcionais incluídos.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Made In China 2025… é o nome do projeto que irritou Trump e moldou o avanço de empresas chinesas no Brasil.
Tarcísio na berlinda. O tarifaço colocou o governador de São Paulo em maus lençóis com os empresários.
Uma casa feita de arroz. Não é um delírio. A construção inusitada já é realidade no Quirguistão.