EUA mantêm silêncio em negociação, e governo brasileiro teme implementação de tarifas em agosto

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BRASÍLIA, DF E WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – A nove dias do final do prazo para o governo dos Estados Unidos aplicar sobretaxas de 50% sobre produtos importados do Brasil anunciada por Donald Trump, os canais de negociação formais entre o governo brasileiro e o americano seguem fechados.

Americanos sinalizaram ao governo Lula (PT) que as tratativas só devem caminhar a partir de uma autorização do presidente Donald Trump para a abertura de canal oficial de diálogo. Integrantes do Palácio do Planalto dizem ter a informação de que o caso está na Casa Branca e sem previsão de uma resposta às iniciativas do governo brasileiro.

Como esse diálogo é interditado nos canais formais, integrantes do governo começam a duvidar de um desfecho a tempo hábil de reverter a aplicação da sobretaxa em 1º de agosto.

Enquanto isso, autoridades brasileiras procuram estabelecer contatos extraoficiais com a equipe dos seus correspondentes nos Estados Unidos. Isso se deve justamente à dificuldade relatada por ministros de se comunicar diretamente com seus homólogos nos EUA.

No governo brasileiro, essa resistência é atribuída a um temor entre os americanos de serem desautorizados pelo presidente Trump. Integrantes do órgão responsável pela área comercial dos EUA, por exemplo, mantiveram conversas sobre tarifas com os brasileiros e foram surpreendidos pela decisão do presidente americano de sobretaxar o país.

A decisão, como o próprio republicano deixou claro, não se baseou em estudos econômicos, mas, sim, em uma questão política.

Um ministro brasileiro ainda cita como exemplo o caso do Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, desautorizado após defender o presidente do Fed (Federal Reserve), o banco central dos EUA.

Em outra frente, o governo, capitaneado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), também tenta sensibilizar o empresariado diretamente atingido pelas medidas para que auxiliem na procura por uma solução.

Entre aliados do presidente Lula, há um temor de que Trump pretenda transformar o caso brasileiro em exemplar para intimidar outros países nas negociações com os EUA.

Aliados do presidente lembram que os EUA não estão respondendo às correspondências enviadas pelos brasileiros. O próprio Alckmin tem repisado em suas falas que cartas foram enviadas ao governo americano desde o dia 16 de maio e não houve nenhuma resposta.

Americanos sinalizaram que a resposta a partir de agora não deve ser por meio de carta, mas de outra forma a ser definida. O governo Trump tem priorizado tratativas que considera mais importantes no momento. Nesta semana, anunciou acordos com a Indonésia e o Japão.

Desde abril, Trump tem dito que o governo está conduzindo negociações com mais de 200 países simultaneamente. Mas a conduta do presidente americano tem sido ele próprio definir suas prioridades.

Na noite de terça-feira (22), ministros se reuniram para discutir o cenário com a proximidade do prazo final das sobretaxas. Participaram Alckmin, Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda) e Sidônio Palmeira (Secom).

Aliados de Lula dizem que o governo não deixará a mesa de negociação e vai insistir no canal diplomático para discutir as tarifas. Eles apostam, no entanto, que hoje pode ter mais efeito até o prazo do dia 1º de agosto a via empresarial, com representantes dos setores produtivos afetados dialogando com seus correspondentes no país americano.

Eles dizem que o Brasil tem feito todos os esforços para negociar, mas que é preciso analisar as opções, caso o governo americano não destaque nenhuma autoridade para dialogar com o governo. Há uma avaliação de que, com essa via diplomática obstruída, os setores possam pressionar o governo Trump e isso possa mobilizar os EUA a negociarem, justamente pelos impactos que essa sobretaxa poderá causar na economia americana.

Também não descartam que outros setores possam reagir nos Estados Unidos, citando o caso da distribuidora de suco de laranja que acionou a Justiça americana contra a aplicação dessas tarifas. Como a Folha de S.Paulo mostrou, setores ligados a empresas gigantes nos EUA têm buscado interlocutores no Brasil para tentar evitar a sobretaxa. Companhias das áreas petrolífera, energética, farmacêutica e aérea também têm demonstrado preocupação com o impacto que esses tributos podem ter.

Um auxiliar do petista também defende que todos os passos sejam tomados com cautela, diante do que chama de uma intempestividade da gestão Trump, citando mais recentemente a decisão do governo americano de proibir a entrada de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) no país.

Negociadores ligados ao Itamaraty afirmam que há conversas reservadas envolvendo integrantes dos governos brasileiros e americanos, de forma discreta. A interlocução entre o setor privado dos dois países também é vista pelos diplomatas como uma ferramenta importante para buscar um desfecho para o impasse.

Ainda que não haja sinais definitivos sobre o adiamento da implementação da sobretaxa, o governo ainda considera essa possibilidade –mesmo que remota. Um diplomata cita, por exemplo, uma entrevista em que o Scott Bessent sugere que o timing do tarifaço é flexível, e que a prioridade de Trump é um acordo de qualidade.

A reavaliação dos cenários é feita a cada dia, segundo esses integrantes do governo, uma vez que circulam rumores de novas sanções aplicadas por Trump ao Brasil, em especial integrantes do STF -o que poderia contaminar o ambiente de negociações comerciais.

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