SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O governo dos Estados Unidos planeja a divisão da Faixa de Gaza sob um esquema de zonas e controle militar israelense e internacional, segundo informações do jornal britânico The Guardian.
Governo Trump propõe dividir Gaza entre zonas “verde” e “vermelha”. A primeira, onde uma reconstrução é planejada, estaria sob controle militar israelense e internacional. Já a segunda seria deixada em ruínas, segundo documentos de planejamento militar dos Estados Unidos acessados pela publicação britânica e fontes ligadas ao governo norte-americano.
O ideal seria reconstruir tudo, certo? Mas isso é apenas uma aspiração. Vai levar tempo. Não vai ser fácil.
Oficial norte-americano, sob condição de anonimato, ao The Guardian
Hoje, quase toda população de Gaza (mais de 2 milhões de pessoas) está concentrada na zona “vermelha” -faixa costeira sob destroços que cobre menos da metade da área total do enclave. Dessa população, cerca de 1,5 milhão de palestinos aguardam por itens de abrigo emergencial e centenas de milhares ainda vivem em tendas sem acesso a serviços básicos, como água potável.
Forças estrangeiras seriam inicialmente posicionadas ao lado de soldados israelenses no leste de Gaza. No plano da gestão Trump, as zonas verde -reconstruída- e vermelha -devastada- seriam divididas pela atual “linha amarela” controlada por Israel. O jornal britânico não informa se os documentos mencionam a desocupação do território onde seria delimitada a zona vermelha, caso o planejamento norte-americano entre em vigor.
Planos militares dos EUA levantam dúvidas sobre o compromisso de Washington em transformar cessar-fogo em acordo político duradouro com governo palestino em Gaza. Em outubro, a gestão Trump apresentou um “plano de paz” de 20 pontos que levou a um frágil cessar-fogo entre Israel e Hamas, impulsionado pelos Estados Unidos.
Criação de força internacional de “estabilização” é um dos principais pontos do “plano de paz” de Trump. Os EUA esperam que um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU, que confere um mandato formal à força internacional, seja aprovado no início da próxima semana. Outra expectativa do governo Trump é que detalhes concretos sobre o envio dessas tropas a Gaza sejam divulgados em seguida.
Mediadores internacionais alertaram para situação que “não é guerra, mas também não é paz” em uma Gaza dividida. Ao The Guardian, o diplomata Majed al-Ansari, assessor do primeiro-ministro do Catar e porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, alertou que Gaza corre o risco de deslizar para um “limbo mortal”, onde um cessar-fogo está nominalmente em vigor, mas as mortes continuam, com ataques israelenses regulares, uma ocupação consolidada, ausência de um autogoverno palestino e uma reconstrução limitada de casas e comunidades palestinas.