Ex-franqueados da Cresci e Perdi falam sobre 'Mural da Feiura' e clima de medo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ex-franqueados da Cresci e Perdi, rede de brechós infantis, afirmam que eram expostos em canais internos da marca dedicados a associados por Elaine Alves, fundadora e ex-CEO, e Saulo Alves, atual CEO do grupo.

A ex-CEO teria apelidado o canal do Instagram que era dedicado aos lojistas da rede de “Mural da Feiura”, por reunir críticas a lojas que considerava mal administradas, com detalhes como a região da franquia, o que permitiria sua identificação. Ainda de acordo com ex-franqueados, conteúdos com teor semelhante passaram a ser compartilhados em listas de transmissão no WhatsApp por Saulo, primo de Elaine.

Ex-associados de diferentes regiões do país ouvidos pela reportagem, que pediram para manter o anonimato, citam clima de medo e desconfiança. A reportagem selecionou as queixas que foram relatadas em mais de uma entrevista. Também foram obtidas imagens de mensagens que, segundo os entrevistados, foram enviadas pelo comando da rede de desapegos para o grupo de WhatsApp.

Em agosto, foram divulgados vídeos de Elaine dizendo ter “vontade de dar na cara” de franqueado. A gravação, que segundo a empresa era do final do ano passado, havia sido publicada no canal interno para franqueados. “Eu queria fazer a CEO zen que vai trabalhar e falar eu amo meu trabalho. Mas não dá, velho. Eu fico aqui me descabelando para criar estratégia, evento […] E os franqueados… dá vontade de dar na cara”, diz.

O investimento inicial para abrir uma unidade da Cresci e Perdi, segundo informações do site da marca, começa em R$ 275 mil para cidades com até 60 mil habitantes (em lojas de 80 m²) e chega a R$ 495 mil para municípios acima de 120 mil habitantes, com área mínima de 150 m².

EMPRESA DIZ QUE MUDOU SUA ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO

À reportagem a Cresci e Perdi informa que sua estrutura de comunicação com os franqueados passou por um processo de revisão no último ano. “Antigos canais de relacionamento foram descontinuados, e o suporte à rede passou a seguir um modelo padronizado, sem contato direto entre franqueados e a direção da empresa.” O objetivo, afirma, é oferecer orientação técnica dentro de um ambiente de gestão profissional e transparente.

A rede reforça que todas as unidades devem seguir padrões operacionais definidos pela franqueadora. Não são permitidas práticas alheias às diretrizes da marca, como a venda de produtos não autorizados, promoções ou ações em redes sociais fora previsto no contrato de franquia.

A empresa também diz que eventuais divergências contratuais são tratadas exclusivamente na Justiça. A rede diz que parte dos relatos negativos tem origem em um grupo de ex-franqueados que passou a difamar a marca após ser processado por criar uma operação concorrente, em desacordo com o contrato.

FRANQUEADOS FALAM EM APELIDOS E EXPOSIÇÃO DE FATURAMENTO

Os vídeos de Elaine no canal do Instagram restrito aos franqueados, que eram vistos como um constrangimento, geralmente eram feitos quando lojistas fugiam do padrão de alguma ação promocional, segundo os relatos. Além de apontar os erros cometidos, era comum a exposição do faturamento das lojas sem consentimento, afirmam, comparando-os com os que haviam registrado lucro maior.

Há relatos de franqueados que receberam apelidos que eram repetidos em canais internos de comunicação e em encontros presenciais. No vídeo divulgado em agosto, por exemplo, uma franqueada é chamada de “bomboniere” por vender chocolates e doces na loja, o que contraria as regras da franquia estabelecidas em contrato.

Franqueados que deixaram o negócio dizem que, apesar do apelo comercial e do propósito sustentável de moda circular, faltam suporte operacional e canais institucionais para resolver problemas.

Alguns dos comerciantes relatam que tentativas de questionamento eram vistas como deslealdade e que aqueles que pediam orientações sobre dificuldades com as vendas ficavam marcados.

De acordo com os relatos, Elaine chegou a afirmar em vídeos nos stories que tinha ranço de determinados franqueados. Um dos entrevistados relatou ter perdido 12 quilos durante o período em que manteve a loja. Outros disseram que os conflitos afetaram a rotina familiar, já que passavam longos períodos tentando resolver problemas da franquia.

Parte dos franqueados afirma que precisou buscar atendimento psicológico e psiquiátrico após encerrar o contrato com a rede. Eles relatam o uso de medicamentos para controle de ansiedade e dizem que foi necessário sair para preservar a saúde mental após os episódios de exposição e conflito.

Segundo ex-franqueados, os conflitos com a direção costumavam começar principalmente quando as unidades tinham queda no faturamento. Eles afirmam que, nessas situações, a franqueadora transferia toda a responsabilidade para os lojistas, alegando que os empreendedores “não serviam para o negócio”.

Há casos em que, segundo os entrevistados, alguns lojistas recebiam autorização de um dos diretores para fazer promoções antecipadas, mas os demais responsáveis não eram informados, o que levaria às exposições nas redes sociais.

Os comerciantes também reclamam que havia controle constante da franqueadora sobre as redes sociais das lojas, o que teria causado prejuízos a unidades que haviam investido tempo e recursos na construção de suas páginas. Em alguns casos, as contas foram bloqueadas pela Meta depois que a franqueadora solicitou o selo de verificação apenas para parte das lojas, o que levou o sistema a interpretar os demais perfis como plágio.

Mensagens da direção alertando que franqueados poderiam “acordar sem redes sociais” eram, segundo eles, recorrentes e geravam apreensão, já que para muitos as plataformas digitais eram o principal canal de vendas e captação de clientes.

Fundada em 2014, a Cresci e Perdi está presente em quase 500 cidades de todos os estados do país. São 566 franquias em operação e outras 94 em fase de implementação. Em 10 de outubro, foi inaugurada a loja de Assunção, no Paraguai.

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