Falha em serviço de nuvem da Amazon derruba sites e aplicativos no mundo todo

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SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O serviço de computação em nuvem da Amazon, o AWS (Amazon Web Services), apresentou falhas nesta segunda-feira (20) e derrubou sites e aplicativos ao redor do mundo, na maior interrupção do tipo desde o apagão global do ano passado.

Os problemas começaram na madrugada, passaram por correções durante a manhã e ainda persistiam em menor grau no fim desta tarde. Às 19h53 (horário de Brasília), o site de monitoramento da plataforma disse que todos os serviços principais voltaram ao normal após correções, embora alguns módulos ainda passassem por ajustes.

Serviços como o AWS permitem que empresas e usuários armazenem dados, rodem aplicativos e acessem recursos de computação pela internet, sem a necessidade de manter servidores físicos próprios. Hoje, são três as principais plataformas: a da Amazon, líder do setor, a Azure (Microsoft) e Google Cloud.

Grandes empresas do mundo todo dependem de serviços de nuvem para operações internas e na relação com clientes. Procurada, a Amazon disse que o caso pode ser acompanhado em tempo real no AWS Health Dashboard.

Os problemas, segundo a empresa, tiveram origem no DNS, espécie de agenda telefônica da internet, que impediu os aplicativos dependentes do AWS de localizar o endereço correto de um banco de dados em nuvem (DynamoDB) usado para armazenar informações de usuários e outros dados essenciais. Isso gerou uma reação em cadeia que afetou outros recursos da plataforma.

O site de monitoramento da web Downdetector registrou um pico cerca de mil reclamações de usuários do AWS às 14h no Brasil. Nos EUA, o número chegou a 10 mil no mesmo horário e continuava acima de 5.000 por volta das 17h30. Os padrões se repetiram em países da América Latina, Europa e Ásia.

No Brasil, as instabilidades atingiram aplicativos como iFood, Duolingo, Mercado Livre, Roblox e plataformas financeiras como PicPay.

“Por volta das 10h30, percebemos uma instabilidade no sistema, que achamos que seria momentânea. Por via das dúvidas resolvemos imprimir os pedidos que já estavam previstos”, afirma Gustavo Crivelari, diretor de marketing da Frutifica, uma fábrica de marmitas congeladas na zona oeste de São Paulo.

A plataforma de ecommerce e o sistema de gestão usados pela empresa adotam o serviço da AWS, o que acabou impactando as atividades.

Se a lista não estivesse impressa, a empresa teria amargado um prejuízo por volta de R$ 80 mil, valor das marmitas vendidas no dia. Por volta das 20h, o sistema se estabilizou e o dono do negócio, Daniel Damasceno, contabilizava 200 pedidos a serem entregues nesta terça-feira (21). “Vamos entrar em contato um por um para saber quem já pagou ou quem vai pagar na hora”, afirma.

O susto foi igual para Wellington Ferreira Lucas, 38, dono do Aro26 Burger, na zona norte da capital. O caos iniciou às 11h30, quando o iFood aceitou o primeiro pedido para o seu restaurante, mesmo ele abrindo apenas ao meio-dia.

“Nós temos entregadores próprios para atender um raio de cinco quilômetros do restaurante. Recebi pedidos para a rua atrás do nosso endereço e o iFood mandou entregador próprio. Depois ficou pior. Deu bug no aplicativo também dos motoboys. Eu recebia pedidos e não era liberado para mandar para os clientes”, afirma ele.

Quando as reclamações começaram a chegar, ele foi às redes sociais explicar aos clientes o que estava acontecendo.

Serviços da própria Amazon como Prime Video e a assistente virtual Alexa também apresentaram falhas, bem como o app de IA Perplexity. Nos EUA, a falha afetou serviços como Lyft, Venmo e Snapchat.

No fim da tarde, 94 serviços do AWS ainda tinham problemas e 46 constavam como resolvidos no site da empresa. A Ookla, proprietária do Downdetector, disse que mais de 4 milhões de usuários relataram problemas devido ao incidente.

O AWS relatou o problema operacional no estado de Virgínia, nos Estados Unidos, um dos seus principais data centers globais. O local sofreu interrupções em 2020 e 2021. Segundo a companhia, cerca de 500 empresas hospedadas na nuvem da Amazon sofreram um apagão, em vários países.

De acordo com a documentação no site do AWS, a região US-EAST-1 é frequentemente a padrão para muitos serviços do AWS.

Usuários da Alexa eram informados do problema ao tentar acessar o serviço. “Desculpa, houve um erro”, respondia a assistente de voz.

Em nota, o Mercado Livre e Mercado Pago reconheceram que houve uma instabilidade em seus aplicativo provocada pela falha do AWS. “Nossas equipes estão trabalhando rapidamente para restabelecer o sistema”, afirma o comunicado oficial.

O PicPay afirmou que seus “serviços estão mais lentos que o comum”. “Como outras instituições financeiras e de entretenimento, o PicPay foi afetado pela instabilidade global nos serviços do AWS. Os serviços estão mais lentos que o comum. As empresas já estão trabalhando em conjunto para resolver o problema o mais rapidamente possível”, diz, em nota oficial.

Os usuários começaram a relatar problemas por volta das 3h30 (horário de Brasília) desta segunda. Às 7h35, a AWS informou que a “maioria das operações de serviços” voltou a funcionar, pediu aos usuários que limpassem o cache e reiniciassem os serviços impactados, mas alertou que falhas “pontuais” ainda estavam ocorrendo.

Às 9h48, a empresa divulgou que havia corrigido outro sistema que caiu, mas que alguns serviços ainda poderiam apresentar lentidão e que a AWS trabalhava para diminuir a fila de solicitações. Parte das empresas afetadas também disseram que os serviços foram restabelecidos. Mas, às 11h14, a AWS relatou nova falha.

A interrupção do AWS é a primeira grande perturbação da internet desde o problema ocasionado por uma atualização do software de segurança CrowdStrike no ano passado, que paralisou sistemas operacionais Windows presentes em hospitais, bancos e aeroportos.

O problema destaca como os serviços digitais se tornaram interconectados e dependentes de um pequeno número de provedores globais de nuvem, segundo especialistas.

“Essa interrupção mais uma vez destaca a dependência que temos de infraestruturas relativamente frágeis”, disse Jake Moore, consultor global de segurança cibernética da empresa europeia de segurança cibernética Eset.

O AWS é líder global em serviços do tipo e uma das principais fontes de receita da Amazon. Analistas estimam que a divisão deva render US$ 126 bilhões à empresa neste ano. O gigante do ecommercente também investe dezenas de bilhões de dólares na expansão de data centers para treinar e implementar aplicativos com inteligência artificial.

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