Fictor propõe compra do Banco Master, de Daniel Vorcaro

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SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Pouco conhecida no mundo financeiro, a Fictor Holding Financeira fez uma proposta nesta segunda-feira (17) para comprar o Banco Master, instituição controlada por Daniel Vorcaro que vem enfrentando dificuldades.

Segundo um comunicado, a Fictor pretende comprar o Master em conjunto com um consórcio formado por investidores dos Emirados Árabes Unidos que somam mais de US$ 100 bilhões em ativos sob gestão. Os nomes desses investidores não foram revelados.

A operação, ainda sujeita à aprovação do Banco Central e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), inclui um aporte de R$ 3 bilhões, quantia que, segundo a Fictor, será destinada ao fortalecimento da estrutura de capital do banco.

A Fictor faz parte de um conglomerado que possui negócios em setores como alimentos, gestão de recursos, pagamentos, energia e imóveis. O grupo, que patrocina o Palmeiras com R$ 30 milhões por ano, diz que tem cerca de 30 empreendimentos que somam mais de US$ 1 bilhão (R$ 5,2 bilhões).

O anúncio da transação chega em um momento em que Vorcaro corre contra o relógio para salvar o banco. Em março, o Master tinha cerca de R$ 60 bilhões em depósitos a pagar.

Enquanto o Master não é vendido, os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) vendidos pelo banco precisam continuar a ser honrados pelo banco. Caso não tenha recursos para dar aos depositantes, o BC deve optar pela liquidação.

Segundo pessoas a par das tratativas, a Fictor não tinha apresentado ao BC o pedido de compra do Master antes de fazer o anúncio publicamente, algo incomum no setor financeira. Aquisições de instituições financeiras precisam passar pelo crivo do regulador, um processo que costuma ser criterioso e demorado. Tampouco tinha discutido com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC) o futuro de uma linha de liquidez bilionária concedida.

Se o negócio for concluído, a holding terá 100% das ações que estavam com Daniel Vorcaro, controlador do Banco Master. Como parte do acordo, Vorcaro deixará o negócio, um novo conselho será formado, um presidente eleito e a instituição passará a se chamar Banco Fictor.

O processo não contempla o Will Bank e o Banco Master de Investimentos.

“A operação representa o passo de entrada da Fictor no mercado financeiro brasileiro”, diz Rafael Góis, sócio da Fictor Holding Financeira, em nota.

No mesmo comunicado, Vorcaro disse que a transação provou “a força e a resiliência” da instituição, sem detalhar se receberá algum valor pela venda do banco. O banqueiro tem vendido uma série de ativos para injetar recursos no Banco Master e recorreu em maio a uma linha de mais de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) para honrar resgates de depósitos.

COMPRA FRUSTRADA

Em setembro, o Banco Central rejeitou uma tentativa do BRB (Banco de Brasília) de adquirir o Master, num acordo que previa a compra de R$ 23 bilhões em ativos do banco de Vorcaro. A autoridade monetária apontou risco de sucessão ao vetar a operação, já que o BRB teria que assumir todas ou grande parte das operações não conhecidas do Master.

O veto deixou em aberto dúvidas sobre o futuro do banco, a solvência do Master para o pagamento dos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários) emitidos pelo banco e a possibilidade de o BC anunciar uma intervenção ou até mesmo uma liquidação da instituição de Daniel Vorcaro com o acionamento do FGC (Fundo Garantidor de Créditos).

O fundo garante depósitos à vista e a prazo até o limite de R$ 250 mil por investidor em caso de quebra de bancos e é abastecido por diferentes instituições financeiras.

O Master vinha demonstrando dificuldades financeiras desde pelo menos o fim do ano passado. O banco executou uma estratégia de crescimento baseada em grande parte em ativos sem muita liquidez, como precatórios, enquanto se comprometeu a pagar uma remuneração elevada a investidores por meio principalmente de CDBs (Certificados de Depósito Bancário), garantidos pelo FGC.

Vorcaro já vendeu bens pessoais e tentou fechar outros negócios para injetar dinheiro no Master. Em maio, fechou uma negociação com o BTG para venda de R$ 1,5 bilhão em ativos, incluindo ações de empresas (dentre elas a Light), precatórios e imóveis como o prédio do Hotel Fasano em São Paulo.

Após a rejeição da operação com o BRB, o banqueiro se desfez de mais precatórios, direitos creditórios de ações judiciais e da seguradora Kovr.

PRESENÇA NA BOLSA

A Fictor Alimentos, uma das empresas do conglomerado que anunciou a compra do Master, tem ações negociadas na Bolsa brasileira. No ano passado, a empresa comprou a Atom Participações, liderada pela influenciadora de educação financeira Carol Paiffer, também jurada do programa Shark Tank Brasil.

O negócio, feito em parceria com a Conquest, facilitou a entrada da Fictor na B3. A operação é conhecida como “IPO reverso”, na qual, em vez de uma empresa passar pelo processo de oferta pública de ações, usa a “casca” de uma companhia listada para operar na Bolsa.

Depois da compra, a Atom foi renomeada para Fictor Alimentos, braço da holding no agronegócio.

A compra do Banco Master foi anunciada com o mercado de ações ainda aberto. No final do pregão, a Fictor Alimentos, de ticker FICT3, avançou 2,3%, tendo valor de mercado de R$ 138,165 milhões.

A FictorPay, uma empresa de pagamentos do grupo, sofreu um furto de R$ 24 milhões no mês passado, a partir de um ataque cibernético. A empresa usa tecnologia da Diletta, startup que teve o sistema invadido.

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