SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dick Cheney, vice-presidente dos Estados Unidos em uma era marcada pelos capítulos mais obscuros da guerra ao terror e oponente vocal de Donald Trump, foi velado nesta quinta-feira (20) em um funeral que contou com uma mistura improvável de democratas e republicanos, mas excluiu o atual presidente e seu vice, J.D. Vance.
A trajetória de Chaney inclui uma passagem no Pentágono durante a Guerra do Golfo, entre 1989 e 1993, e na chapa de George W. Bush, de 2001 a 2009. Considerado o vice-presidente mais poderoso da história dos EUA, o líder divide opniões no país por sua política internacional agressiva ele foi, por exemplo, a força motriz por trás da invasão do Iraque em 2003 após os atentados de 11 de setembro.
Bush e o também ex-presidente democrata Joe Biden estiveram entre os mais de 1.000 convidados na Catedral Nacional de Washington para prestar homenagem ao político. Vários legisladores de diferentes espectros políticos também compareceram, incluindo Nancy Pelosi, uma de suas mais ferrenhas opositoras democratas.
Além deles, todos os ex-vice-presidentes vivos Kamala Harris, Mike Pence, Al Gore e Dan Quayle compareceram, junto com generais, dignitários estrangeiros e juízes da Suprema Corte. Mas Trump e Vance não foram convidados, segundo um funcionário da Casa Branca.
O presidente nunca se pronunciou sobre a morte do político no dia 3 de novembro, aos 84 anos. Posteriormente, a Casa Branca disse que estava ciente do falecimento e colocou suas bandeiras a meio mastro, conforme exigido por lei. Já Vance transmitiu condolências para a família em um evento do site de extrema direita Breitbart News nesta quinta. “Obviamente, existem algumas discordâncias políticas aí”, afirmou.
Para críticos, Cheney deixou profundas cicatrizes tanto no país quanto no exterior. Seu legado inclui a expansão do Poder Executivo, a guerra ao terror, a invasão do Iraque e o debate sobre o uso da tortura pelos EUA, hoje considerado infame.
O líder foi um firme defensor da invasão do Iraque em 2003. Em 2002, ele afirmou que não havia dúvidas de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, algo que marcou sua trajetória tal acusação nunca foi comprovada.
A postura linha dura o transformou em um herói para muitos republicanos que acreditavam em sua abordagem em relação à segurança nacional. Nos últimos anos, no entanto, ele acabou virando alvo por suas críticas à guinada populista do partido.
Cheney criticou as falsas alegações de vitória de Trump nas eleições presidenciais de 2020 e o ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021. Nas eleições de 2024, ele endossou a oponente de Trump, a democrata Kamala Harris. “Nos 248 anos de história da nossa nação, nunca houve um indivíduo que representasse uma ameaça maior à nossa república do que Donald Trump”, disse Cheney.
“O vice-presidente Dick Cheney foi um patriota americano que serviu a este país como poucos em nossa história, e sempre me inspirou com sua liderança tranquila e firme”, disse Pence à emissora MSNBC do lado de fora da catedral.
Em uma homenagem na catedral, o Bush elogiou seu parceiro. “Este foi um vice-presidente totalmente dedicado a proteger os EUA e seus interesses”, disse ele. “Nunca houve qualquer agenda ou intenção além disso. Você não conhecia Dick Cheney a menos que entendesse que suas maiores preocupações e ambições eram com o seu país.”
Nenhum dos oradores mencionou explicitamente Trump, mas, em sua homenagem, sua filha Liz, famosa por ter sido expulsa do Partido Republicano no Congresso devido à sua oposição ao presidente, aludiu à decisão dele de romper com os republicanos.
“Ele sabia que os laços partidários sempre devem ceder ao único laço que compartilhamos como americanos”, disse ela. “Para ele, escolher entre defender a Constituição e defender seu partido político não era escolha alguma.”