BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após a confirmação por Donald Trump da sobretaxa de 50% às exportações brasileiras, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve tentar ampliar a lista de exceções para poupar mais empresas do tarifaço do republicano. Os negociadores esperam que as tratativas se arrastem por um longo período.
Uma das apostas é na abertura de um canal de diálogo do ministro Fernando Haddad (PT), da Fazenda, com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent.
A posição no governo Lula é que as discussões sobre os assuntos econômicos devem se manter e até se intensificar, independentemente das sanções financeiras impostas ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).
O diagnóstico de auxiliares de Lula é que Bessent é um conselheiro de Trump que foi acionado por outros países que fecharam acordos comerciais com os EUA. Ele é visto como alguém com maior influência do que o secretário de Comércio, Howard Lutnik -que tem mantido conversas com o vice-presidente Geraldo Alckmin.
O entendimento no governo Lula é que a lista de exceções de produtos brasileiros traz alívio para setores exportadores estratégicos, como o da aviação. Há preocupação, no entanto, em relação aos impactos sobre exportadores de médio e pequeno porte.
Uma agenda com o Bessent está sendo costurada pela equipe de Haddad. O ministro já teve um encontro pessoal com o secretário americano em maio, na Califórnia.
A realização do encontro teve a intermediação do ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. Bessent e Fraga trabalharam juntos, na década de 90, no fundo de investimento do magnata George Soros.
“Houve sensibilidade para algumas considerações que nós já havíamos feito mais de uma vez de que isso [a sobretaxa} não só ia afetar o trabalhador brasileiro como o consumidor americano. Algumas das nossas observações foram evidentemente apreciadas e contempladas, mas nós estamos longe do ponto de chegada”, sinalizou Haddad nesta quinta-feira (31).
O ministro também indicou apoio a conversas que levem a um aumento do comércio entre Brasil e EUA.
Nas tratativas com outros países, os americanos têm cobrado maior acesso para seus produtos e compromissos de investimentos nos EUA.
“O comércio do Brasil com os Estados Unidos representava, quando o presidente Lula tomou posse em 2003, 25% das nossas exportações. Hoje, ao invés de crescer, nós diminuímos. Então nós temos que buscar mais integração, não menos”, disse o ministro. “Essa semana é o começo de uma conversa mais racional, mais sóbria, menos apaixonada”, avaliou.
Embora o encontro ainda não esteja confirmado, entre auxiliares de Haddad a leitura é que há uma abertura para o diálogo. O governo não vê na equipe técnica do Tesouro um desejo de punir o Brasil.
Embora a possível abertura de um canal de diálogo com Bessent seja vista como algo positivo, o governo Lula ainda sofre com um bloqueio na Casa Branca -o centro de poder em Washington.
Como a Folha de S.Paulo mostrou, o governo Lula tentou nos últimos dias intensificar o diálogo com autoridades americanas para evitar ou adiar o tarifaço imposto por Trump ao Brasil, mas chocou-se com a falta de interlocução de alto nível na Casa Branca.