[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Com uma das menores taxas de vacância logística do país, de 5,5%, segundo a consultoria JLL, Santa Catarina enfrenta um gargalo crescente de armazenagem em meio à expansão do comércio exterior. Entre janeiro e novembro, as exportações do estado cresceram 3,5%, para US$ 11,05 bilhões, enquanto as importações avançaram 1,1%, somando US$ 31,34 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). É nesse contexto que o Grupo Saes avança com um investimento de R$ 700 milhões para implantar um novo complexo logístico próximo ao Porto de Navegantes (Portonave), na região de Itajaí. “O espaço em armazéns é hoje a maior carência logística do estado”, disse à AGÊNCIA DC NEWS o CEO do grupo, Erivelto Saes.
O complexo logístico Ciway 470, contratado em 2021 e que teve as obras iniciadas em 2024, deve ser entregue em março de 2026, de acordo com a empresa. O espaço terá ampla oferta para equipamentos de transporte e 26 escritórios comerciais no total, área de convivência para duas mil pessoas e capacidade para receber entre 1 mil e 1,5 mil caminhões por dia, numa área com 372,4 mil metros quadrados de armazenagem, localizada nas imediações da BR-101 e da segunda maior operação portuária catarinense. “Estamos numa área extremamente estratégica para o recebimento e a distribuição de cargas”, afirma o CEO do Grupo Saes, Erivelto Saes.
O empreendimento entra na categoria dos chamados galpões logísticos Triple A, caracterizados por altos padrões de tecnologia, espaço amplo e versatilidade tanto para armazenagem e distribuição, bem como relacionado a sistemas de prevenção a incêndio, pé-direito alto e critérios rigorosos de eficiência operacional. No caso do Ciway 470, segundo Saes, os armazéns estarão preparados para receber produtos como insumos agrícolas, produtos do varejo e matérias-primas da indústria. Apesar de serem transportadas em contêineres, as mercadorias serão armazenadas no piso, como é feito, por exemplo, nos centros de distribuição da Shopee.
O primeiro módulo do lançamento imobiliário em março, com 57 mil metros quadrados, já está contratado por uma empresa da área logística, e terá 31 armazéns com duas docas (área de embarque e desembarque) cada — a Saes não revela qual é a empresa, mas informa que o contrato está em licitação. Os outros módulos serão lançados em mais três etapas até a conclusão em 2029. A capacidade de armazenagem de cada cliente, segundo o executivo, vai depender se eles optarão por verticalizar os espaços com pallets, por exemplo. O CEO destaca que o novo terminal está “muito bem localizado”, a 7 quilômetros do Porto de Navegantes, 1,5 km da segunda rodovia mais extensa do Brasil (a 101), que vai do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, e a 6 km do Aeroporto de Itajaí.
Há cerca de 50 anos em atividade, o Grupo Saes trabalha atualmente com um portfólio de três empreendimentos no segmento de armazenagem. O primeiro deles é o de Navegantes. O próximo deverá ser lançado no ano que vem, numa área de 20 mil metros quadrados e investimento de R$ 20 milhões, também em Itajaí, e ainda um terceiro projeto, até o momento sem informações, com previsão de lançamento entre 2029 e 2030. É um negócio familiar sob comando da segunda geração dos Saes. O empresário, que não revela faturamento, disse apenas que a empresa tem conseguido dobrar o faturamento ano a ano. Atualmente são três sócios da mesma família, que começou com empreitas residenciais nas praias de Balneário Camboriú. A empresa também atua como incorporadora, ramo em que tem dois projetos hoje em dia e lançamento de mais dois em 2026, totalizando 10 lançamentos nos próximos anos. “Meu pai era um empreiteiro do litoral de Santa Catarina”, disse o sucessor.
GEOGRAFIA ÚNICA – Para Luiz Antonio Fayet, especialista em logística e membro do Movimento Pró-Paraná, a geografia de Santa Catarina impõe desafios estruturais ao transporte. O estado combina um litoral extenso com um interior estreito, característica que dificulta a logística rodoviária, mas é compensada pela presença de sete portos distribuídos ao longo da costa. Segundo ele, esse arranjo é suficiente para atender à demanda local e regional. Os principais portos da Região Sul estão concentrados em Paranaguá (PR), na Baía de Babitonga (SC) e no Rio Itajaí, enquanto o Rio Grande do Sul, por estar mais distante, fica fora do principal eixo logístico dos estados vizinhos. “Tudo o que vem do Mato Grosso do Sul, Paraguai, Paraná, Santa Catarina e do nordeste da Argentina flui por esses portos”, afirma. Nesse contexto, Fayet destaca que terminais logísticos como o projeto do Grupo Saes cumprem um papel essencial ao organizar e racionalizar a saída das mercadorias. “A função é fazer a arrumação dos contêineres”, disse.
A Portonave, terminal portuário privado de contêineres em Navegantes, é um dos pilares da logística regional. Em operação desde 2007 como o primeiro terminal desse tipo no país, já movimentou mais de 14 milhões de TEUs (sigla em inglês para Twenty-foot Equivalent Unit, unidade de medida para calcular a capacidade de contêineres) e mais de 10 mil escalas de navios ao longo de 18 anos de atividades. Hoje, a operação registra cerca de 1,2 milhão de TEUs por ano, com participação de 48% no mercado catarinense e 13% no nacional, segundo a administração portuária. Há, atualmente, média de 118 movimentos por hora, e o acesso terrestre recebe cerca de 2 mil caminhões diariamente, com tempo médio de permanência de 26 minutos.
O aumento da movimentação portuária acompanha a expansão do comércio exterior catarinense. Entre janeiro e novembro, as exportações do estado somaram US$ 11,05 bilhões, alta de 3,5% em relação ao mesmo período do ano anterior, enquanto as importações alcançaram US$ 31,34 bilhões, avanço de 1,1%, segundo dados do Comex Stat, do Mdic. O perfil é fortemente concentrado em cargas conteinerizadas, modelo predominante no Portonave, que sustenta boa parte do fluxo de embarques e desembarques do estado, e motivou a empreitada de Saes. “Estamos numa área muito estratégica para o recebimento de cargas de contêineres”, disse o CEO do Grupo Saes. Segundo ele, outro fator que atrai empresas a armazenar na região são incentivos fiscais, como a exoneração do ICMS.
Em 25 de novembro, a Coamo, uma das maiores cooperativas agroindustriais do Brasil, com sede em Campo Mourão (PR), anunciou um aporte de R$ 3 bilhões para construir um novo porto em Itapoá, ao norte do estado, próximo aos portos de Paranaguá e de São Francisco do Sul. O local terá 430 mil metros quadrados, três berços de atracação e deve movimentar 11 milhões de toneladas de produtos agrícolas por ano, de acordo com as informações do governo catarinense. No Paranaguá, segundo maior porto público do país, a cooperativa já exporta cinco milhões de toneladas de grãos anualmente.