[AGÊNCIA DC NEWS]. O mercado de trabalho continua mostrando resiliência: a taxa de desocupação (desemprego) no trimestre encerrado em maio (6,2%) foi a menor para o período na série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Continua, do IBGE. O total de desempregados foi estimado em 6,8 milhões, retração de 8,6% no trimestre (ou menos 644 mil) e queda de 12,3% em 12 meses (955 mil a menos). A ocupação cresce 1,2% e 2,5%, respectivamente, com 103,9 milhões de pessoas. Segundo os dados da Pnad, o emprego com carteira assinada bateu recorde (39,8 milhões de pessoas, 1,4 milhão a mais em 12 meses) e a informalidade teve ligeiro recuo. O setor de comércio&reparação de veículos está no maior nível de ocupação, com 19,7 milhões. Os dados são positivos, mas analistas questionam o perfil do emprego (com expansão em setores de baixa produtividade, por exemplo) e a continuação desse movimento.
Jorge Kots, CEO da holding Grupo X, afirma que o nível registrado na taxa de desemprego expõe um mercado “que ainda carece de estímulos estruturais para fortalecer a empregabilidade de forma duradoura”. Segundo ele, muitos negócios continuam operando com cautela: “Postergando investimentos e novas contratações, especialmente em segmentos mais dependentes de crédito e planejamento”, afirmou. Para Kots, é fundamental que as empresas tenham acesso a ferramentas de gestão mais eficientes, assim como capacitação técnica e segurança regulatória para expandir com previsibilidade a fim de um avanço mais robusto no emprego. O executivo diz ainda que a produtividade – que no Brasil fica praticamente estagnada – “nasce de uma cultura organizacional sólida, e não apenas da geração de vagas numérica”.
Para Sidney Lima, analista CNPI da Ouro Preto Investimentos, o resultado de maio mostra economia resiliente, mas com “sinais claros” de desaceleração. Na visão dele, a “leve alta” frente ao trimestre anterior mostra um mercado cauteloso, especialmente em setores ligados à indústria e serviços. Lima sugere que, para um avanço mais consistente na geração de empregos, é essencial a estabilização da política fiscal, garantir a previsibilidade regulatória e estimular a confiança dos empresários. “O consumo segue pressionado pelo crédito caro, e o investimento privado demanda um ambiente macro mais estável, com previsibilidade”, disse. “Para voltar a crescer com vigor e de forma consistente.”
O CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, considera que o mercado de trabalho está “surpreendentemente” resiliente, “mesmo diante de juros elevados e crescimento econômico moderado”. Mas ele acrescenta que são necessárias iniciativas, na política econômica, “que promovam investimentos, facilitem o crédito produtivo e apostem em programas de qualificação profissional”, especialmente voltadas a novas demandas na área de serviços. Ele afirma que, sem isso, o nível de empregados pode se acomodar ao nível atual, “sem gerar saltos relevantes na renda ou inclusão de trabalhadores em posição mais segura no mercado.”
De acordo com a Pnad, o emprego no setor do comércio (que inclui reparação de veículos) cresceu 3,4% em relação a 2024, com 655 mil pessoas ocupadas a mais, totalizando 19,7 milhões. É o maior número de série histórica. Em relação a igual período de 2020 (durante a pandemia), a alta é de 21,3%, com acréscimo de 3,5 milhões de ocupados. A atividade se mantém acima dos 19 milhões há um ano. Ainda na comparação com 2024, a indústria (13,5 milhões) sobe 3,9%, a agricultura (7,7 milhões) cai 3,9% e a construção (7,5 milhões) fica estável. Entre os serviços, destaque para transporte/armazenagem/correio (+7%, para 6,1 milhões), administração pública/saúde/seguridade/educação (+3,4%, 19,1 milhões) e informação/comunicação/atividades financeiras (+3,7%, 13,3 milhões).
Embora elevada, a taxa de informalidade recuou para 37,8%, ante 38,1% no trimestre anterior e 38,6% há um ano. Isso corresponde a 39,3 milhões de trabalhadores informais no mercado. Os empregados sem carteira assinada no setor privado são 13,7 milhões, número estável nas comparações trimestral anual. Os com carteira (39,8 milhões) têm estabilidade em relação a fevereiro e crescem 3,7% ante 2024. E os trabalhadores autônomos, por conta própria, somam 26,2 milhões, com alta de 1,3% no trimestre e de 2,8% em 12 meses. O IBGE destaca ainda o número de desalentados (pessoas que desistiram de procurar trabalho): 2,9 milhões (-13,1% em um ano), o menor desde 2016. “Essa queda pode ser explicada pela melhoria consistente das condições do mercado de trabalho”, disse William Kratochwill, analista da pesquisa. “O aumento da ocupação gera mais oportunidades, percebidas pelas pessoas que estavam desmotivadas.”
O rendimento médio foi estimado em R$ 3.457, com estabilidade no trimestre e alta de 3,1% na comparação com igual período do ano passado. A massa de rendimentos somou R$ 354,6 bilhões, novo recorde da pesquisa (+1,8% no trimestre e +5,8% em 12 meses, o que corresponde a mais R$ 19,4 bilhões no ano). Segundo Kratochwill, a maior massa de rendimentos resultou majoritariamente da “expansão do volume de ocupados, e não de aumento do rendimento médio”.
Segundo o Sebrae, o resultado reforça a importância dos pequenos negócios na economia brasileira. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, por exemplo, mostra que 60% dos empregos formais criados de janeiro a abril são de microeempreendedores individuais (MEIs), microempresas (MEs) e empresas de pequeno porte (EPPs). De acordo com entidade, neste ano (até maio), foram abertos 2,2 milhões de novos pequenos negócios, 24,9% a mais do que em igual período de 2024.