Inflação é a menor para novembro desde 2018 e retorna para meta em 12 meses

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Crédito: Bruno Peres/Agência Brasil

RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A inflação oficial do Brasil, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), foi de 0,18% em novembro, a menor para o mês desde 2018, e desacelerou a 4,46% no acumulado de 12 meses, apontou nesta quarta (10) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Assim, o índice voltou a ficar abaixo do teto de 4,5% da meta perseguida pelo BC (Banco Central) em 12 meses, o que não acontecia desde setembro de 2024. A alta acumulada era de 4,68% até o último mês de outubro.

A inflação agora abaixo de 4,5% livra o presidente do BC, Gabriel Galípolo, de ter de escrever uma nova carta neste ano explicando os motivos de descumprimento do alvo.A divulgação do IPCA de novembro ocorre no mesmo dia em que o BC faz sua última reunião em 2025 para definir o patamar da taxa básica de juros, a Selic.

Em uma tentativa de conter a inflação, a instituição iniciou em setembro de 2024 um ciclo de aumento nos juros, levando a Selic para 15% ao ano. A taxa está nesse patamar desde o último mês de junho.

Com a trégua do IPCA nos 12 meses, integrantes do governo Lula (PT) e empresários reforçaram as cobranças por redução dos juros nas últimas semanas.

A expectativa de analistas para a reunião desta quarta, contudo, é de manutenção da taxa em 15%. As apostas para o início do ciclo de cortes estão divididas entre janeiro e março do próximo ano.

ALIMENTOS CONSUMIDOS EM CASA CAEM PELO 6º MÊS SEGUIDO

No recorte mensal, o IPCA de novembro (0,18%) até acelerou em relação a outubro, quando havia subido menos (0,09%).

A variação de 0,18%, contudo, é a menor para o 11º mês do calendário desde 2018 e ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, de 0,19%, conforme a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 0,16% a 0,26%.

Em novembro, 5 dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados no IPCA vieram com variação positiva.

Despesas pessoais (0,77%) e habitação (0,52%) apresentaram as maiores altas e o principal impacto no índice (0,08 ponto percentual cada).

Os demais grupos ficaram no campo negativo: artigos de residência (-1%), comunicação (-0,20%), saúde e cuidados pessoais (-0,04%) e alimentação e bebidas (-0,01%).

O grupo dos alimentos havia apresentado leve variação positiva de 0,01% em outubro, após uma sequência de quatro baixas consecutivas.

Dentro de alimentação e bebidas, o IBGE pesquisa a alimentação no domicílio, que mede o comportamento dos preços da comida consumida dentro de casa.

Em novembro, a alimentação no domicílio teve mais um mês de queda (-0,20%), o sexto consecutivo.

O IBGE destacou as reduções dos preços do tomate (-10,38%), do leite longa vida (-4,98%) e do arroz (-2,86%). Do lado das altas, citou o óleo de soja (2,95%) e as carnes (1,05%).

BLACK FRIDAY ALIVIA, PASSAGEM AÉREA PRESSIONA

Novembro foi marcado por eventos como a Black Friday. Com os descontos, o grupo de artigos de residência mostrou a maior queda para o mês em questão desde o início do Plano Real (-1%), apontou Fernando Gonçalves, gerente do IPCA.

Por outro lado, em um olhar individual, as passagens aéreas responderam pela maior pressão do lado das altas no índice (0,07 ponto percentual). Os preços das tarifas de avião aumentaram 11,9% em novembro.

Segundo Fernando, a carestia das passagens pode refletir uma procura mais acentuada no final do ano, além dos impactos de eventos como a COP30, a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que ocorreu em Belém.

A região metropolitana da capital do Pará registrou alta de 25,32% nas passagens aéreas. Um avanço ainda mais forte ocorreu na hospedagem na Grande Belém, que disparou 178,93% em novembro ante outubro, conforme o IPCA.

META CONTÍNUA E PROJEÇÕES

Em 2025, o BC passou a perseguir a meta de inflação de maneira contínua, abandonando o ano-calendário de janeiro a dezembro.

No novo modelo, o objetivo é considerado descumprido quando o IPCA acumulado permanece por seis meses seguidos de divulgação fora do intervalo de tolerância, que vai de 1,5% (piso) a 4,5% (teto). O centro do alvo é 3%.

O IPCA estourou a meta contínua pela primeira vez em junho. Por isso, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, teve de escrever uma carta explicando o descumprimento.

Em novembro, Galípolo disse que a instituição deveria perseguir o centro de 3%, e não o limite superior de 4,5%.

Ao levar a Selic para 15%, o BC buscou esfriar a demanda por bens e serviços, já que o crédito fica mais caro. Isso tende a reduzir a pressão sobre parte dos preços.

O efeito colateral é a desaceleração da economia, que já apareceu no PIB (Produto Interno Bruto) e que pode causar incômodo para o governo antes das eleições de 2026.

Segundo Fernando Gonçalves, gerente do IPCA, o índice fechará o acumulado de 2025 dentro do teto de 4,5% caso suba até 0,56% em dezembro.

Na mediana, as projeções do mercado financeiro indicam inflação de 4,40% para o acumulado dos 12 meses deste ano.

A estimativa consta no boletim Focus publicado pelo BC na segunda (8) –antes da divulgação dos novos dados do IBGE.

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