Joseph Couri, do Simpi: “Um país com uma empresa informal para cada formal é totalmente selvagem”

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Joseph Couri: “Nosso trabalho é tirar empresas da informalidade, mas sem punir o empreendedor”
(Marlene Bergamo/Folhapress)
  • Para Couri, juros altos e crédito restrito empurram empresas para a informalidade, que cresce sem parar e ameaça o ambiente de negócios
  • Ao lado de Afif, o fundador do Simpi é um dos nomes por trás do Simples Nacional, e alerta para falta de suporte do governo para essa classe
Por Bruno Cirillo

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
O Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi) estabeleceu uma meta ousada para o empreendedorismo brasileiro: formalizar 1 milhão de empresas até dezembro de 2026. O desafio nasce de um quadro ainda dominado pela informalidade – são 20 milhões de negócios informais contra 22 milhões de micro e pequenas empresas formais no país, segundo o presidente da entidade, Joseph Couri. Para ele, a formalização deixou de ser mera adequação legal para se tornar um caminho de sobrevivência, geração de renda e expansão do mercado interno. “O empresário precisa de resultado, não de discurso”, afirma. A estratégia do Simpi combina capilaridade nacional, presença em quatro países e uma rede crescente de atendimento direto ao empreendedor para levar serviços essenciais a quem mais precisa deles.

Americano radicado no Brasil, Joseph Couri é fundador do Simpi e um dos principais articuladores das políticas de simplificação tributária no país, tendo contribuído para a criação da lei da PLR (participação nos lucros e resultados), do Simples e do MEI, marcos que facilitaram a vida de milhões de pequenos empresários e ajudaram a ampliar a arrecadação formal. Hoje, integra a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do governo federal e transita pelo Conselhão, reforçando a presença da micro e pequena empresa no centro do debate econômico nacional. Segundo ele, o sindicato busca ocupar espaços em lugares em que a política pública ainda não alcança com eficiência, especialmente no apoio direto ao empreendedor informal. É esse trabalho de aproximação e orientação que o Simpi quer ampliar nos próximos anos.

Para ampliar o alcance dessas ações, o Simpi iniciou uma expansão acelerada da sua estrutura de atendimento. O número de delegacias, como chama os pontos físicos de suporte ao empresário, passou de apenas cinco unidades no Estado de São Paulo para 251 pontos espalhados pelo Brasil e em quatro países (EUA, China, Portugal e Japão), com a projeção de chegar a 600 até o fim de novembro. Essa rede, disse ele à AGÊNCIA DC NEWS, é reforçada por credenciados encarregados de visitar empresas e orientar a regularização: hoje o Simpi tem cerca de 1,1 mil associados, com meta de atingir 6 mil até 2026. “Nosso trabalho é tirar empresas da informalidade. Mas sem punir, mostrando a importância disso.” Confira a entrevista:

Escolhas do Editor

AGÊNCIA DC NEWS – Quais são as políticas públicas hoje voltadas à formalização?
JOSEPH COURI – A política pública não chega à ponta, àquele informal que precisa se formalizar. E por que que não chega? Por n motivos. Mas o importante é que ela passe a chegar. E mais do que isso: que esse empresário esteja se preparando todo dia para o que está havendo.

AGÊNCIA DC NEWS – O MEI foi a grande virada na expansão da formalização?
JOSEPH COURI – A criação do MEI, né? Quem foi o responsável pela criação do Simples no Brasil? Quem foi o responsável pela criação do MEI? Dois doidos: um foi o Guilherme Afif e o outro fomos nós do Simpi.

AGÊNCIA DC NEWS – E qual foi o seu papel especificamente na criação do MEI?
JOSEPH COURI – Negociação total no governo. A área econômica estava querendo um mecanismo e o Afif estava lá com um posicionamento importante. A grande parte cultural fomos nós. E aí te digo: fazemos mais e falamos menos. O empresário precisa de resultado. Ele não precisa de discurso. Ele está cansado de ouvir. Para o empresário foi bom por conta da simplificação dos impostos, redução dos impostos. Mas, na verdade, foi um movimento muito mais de tirar empresas da informalidade. Agora nós estamos assistindo a um movimento contrário, que querem acabar com isso.

AGÊNCIA DC NEWS – O que mudou para os pequenos negócios nos últimos dez anos?
JOSEPH COURI – Mudou Simples, mudou MEI, mudou uma série de legislações e regulações, incentivos de linhas de crédito com juros mais baratos, tanto entre governos estaduais como no âmbito geral. Um dos grandes problemas hoje é a taxa de juros, a falta de acesso ao crédito. Isso leva à informalidade, ilegalidade, inadimplência e insolvência. A informalidade continua crescendo, há uma empresa formal para cada informal – é absolutamente selvagem.

AGÊNCIA DC NEWS – A taxa Selic a 15% ainda é um entrave ao crescimento?
JOSEPH COURI – Acho mortal. As empresas começam trabalhando com prejuízo. Você acreditou no país? Tomou empréstimo quando a Selic estava 2%? Então, na correção, ela pula para 15%. O próprio sistema financeiro está reclamando, do quê? Da inflação. Vai bater em quem? Neles, também. O excesso de juros, a partir de um certo momento, ele só é prejudicial. E a taxa de juros não é 15%, isso é a base. Se você pegar a média do Banco Central é de 50% a 60% ao ano. Os juros em cartão a 450% ao ano. Então o que que nós estamos vendo? Um cenário que não é tão sadio assim.

AGÊNCIA DC NEWS – O Simpi vinha alertando os empresários sobre o tarifaço. O que mudou nesse cenário?
JOSEPH COURI – Num primeiro momento, pegou 100% todo mundo (sic). Em seguida, teve alterações e afetou menos empresas. Hoje, esse número é bem menor. Por quê? Porque alguns empresários já fizeram acordos com os seus fornecedores e clientes. Quando houve a negociação, o cliente paga parte da tarifa ou a tarifa inteira. Outros fornecedores, que tiveram seus negócios cancelados, estão colocando produto em outros lugares ou vendendo indiretamente: o pequeno vende para o grande, e o grande exporta. Mudou o cenário.

AGÊNCIA DC NEWS – Além de juros e tarifas, o que mais prejudica o ambiente de negócios?
JOSEPH COURI – Criminalidade. Tem afetado muito as empresas. Vou te dar um exemplo: se você falar de cyber ataque – do que se fala muito pouco, mas vão começar a ouvir mais –, o custo médio da empresa que sofre o cyber ataque é em torno de US$ 4,4 milhões. Quando bate na pequena empresa, 60% delas quebram. Simples assim. Então veja, o que me afeta mais? Não sei, depende de onde eu estou. Depende do ramo.

AGÊNCIA DC NEWS – Quais são as principais demandas atuais dos micro e pequenos empresários?
JOSEPH COURI – Taxa de juros alta, falta de acesso ao crédito, inadimplência, informalidade que cresce sem parar. Hoje, o empresário está lutando para sobreviver com custos maiores, regras complexas e pouca proteção.

AGÊNCIA DC NEWS – Em contrapartida, quais oportunidades existem para quem empreende hoje no Brasil?
JOSEPH COURI – Eu tenho certeza que você já ouviu a frase: crise é sinônimo de oportunidade. Tem oportunidades no mercado. Agora, o que o empresário precisa ter? Mudança tecnológica e introduzir um diferencial do seu produto. Para todos que tiverem mecanismos alternativos ao que está aí hoje, há grandes oportunidades. Mais do mesmo e esperar um resultado diferente é sandice. O Einstein já dizia isso.

AGÊNCIA DC NEWS – Como o sindicato está presente no país hoje?
JOSEPH COURI – Nós estamos hoje em todo o território nacional. Temos isso que chamo de delegacias – o que tradicionalmente você chamaria de sedes. E também em quatro países: Estados Unidos, Japão, Portugal e China. Há mais de uma delegacia em alguns lugares, mas no mínimo uma por estado, de um total com 251 delegacias. 252, para não mentir: abriu uma hoje (23/10) de manhã em São Paulo. Até o final do mês que vem, teremos 600 delegacias no Brasil, 300 em São Paulo e 300 no resto do país.

AGÊNCIA DC NEWS – Quem são os credenciados e como eles atuam?
JOSEPH COURI – São as pessoas ligadas às delegacias que vão visitar as empresas todo dia e pegar o empresário pelo braço e fazer a seguinte pergunta: “Qual é o seu problema hoje?”. Para a gente mostrar os caminhos e as soluções que estão na plataforma. Todos aqueles serviços, para uma série de demandas e necessidades do empresário.

AGÊNCIA DC NEWS – Qual é a diferença entre o Sindicato e a Associação Nacional do Simpi?
JOSEPH COURI – A Associação Nacional deu um impulso. Até novembro do ano passado, nós tínhamos cinco pontos no Brasil. De lá pra cá, isso explodiu. O sindicato tem uma finalidade, que é o micro e pequeno industrial, e era só São Paulo, continua sendo. Quando você vem para a associação, é o Brasil inteiro, exterior e para qualquer atividade empresarial, indústria, comércio, serviço, agricultura, quem quiser usar o serviço.

AGÊNCIA DC NEWS – Quais são os principais serviços oferecidos ao empreendedor?
JOSEPH COURI – Todos. De empresa para empresa, sua necessidade é diferente. Consequentemente, o serviço é essencial dependendo do problema de cada um. A empresa é um órgão vivo e os problemas mudam de acordo com o porte, atividade, localização etc.

AGÊNCIA DC NEWS – Além do MEI, quais foram os outros marcos de sua atuação?
JOSEPH COURI – A criação do Simples e do PLR (participação nos lucros ou resultados). Algumas empresas transformaram isso num 14º salário.

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