"Juros altos fazem efeito", diz economista da ACSP sobre o PIB. Consumo das famílias perde ritmo

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Consumo das famílias cresce mais que 5% em 2024. Agora está na faixa de 2%
(Evandro Leal/Folhapress)
  • Todas as comparações mostram redução de ritmo. Ruiz de Gamboa (IEGV-ACSP) projeta alta de 2% em 2025, ante 3,4% no ano anterior
  • Ritmo mais fraco deve continuar pelo menos até o primeiro trimestre de 2026. "Mesmo que o BC reduza a Selic, efeito demora"
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DE NOTÍCIAS DC NEWS]
Os dados do PIB brasileiro, divulgados pelo IBGE, mostram desaceleração em todas as comparações. No acumulado em 12 meses, por exemplo, o PIB subia 3,6% no primeiro trimestre, passou a 3,3% no segundo e agora soma 2,7%. Em relação a igual trimestre do ano passado, as altas foram de 3,1%, 2,4% e 1,8%, respectivamente. O mesmo acontece no PIB acumulado no ano (três trimestres) ante iguais períodos de 2024: 3,1%, 2,7% e 2,4%. O consumo das famílias – principal fator pelo lado da demanda – também cresce menos. O crescimento em quatro trimestres é de 2,1%. Em 2024, a alta foi de 5,1%.

Na passagem do segundo para o terceiro trimestre o PIB variou 0,1%, totalizando R$ 3,2 trilhões. Ficou abaixo da expectativa do mercado, que se situava em 0,2%. Na comparação com o terceiro período de 2024, o crescimento foi de 1,8%. No acumulado em 12 meses, sobe 2,7%. Para Ulisses Ruiz de Gamboa, do Instituto de Economia Gastão Vidigal, da Associação Comercial de São Paulo (IEGV-ACSP), a única surpresa foi a queda de ritmo mais forte em serviços. “Há uma evidente desaceleração da atividade econômica”, afirmou. “Ou seja, a política monetária – juros altos por tempo prolongado – está fazendo efeito.” Segundo ele, o resultado do PIB “confirma o que outros indicadores de atividade estavam dizendo”.

Caso da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), também do IBGE. No ano passado, até setembro, o volume de vendas cresceu 4,7%, na maior alta desde 2012. Neste ano, até o nono mês do ano, as vendas sobem 2,1% em 12 meses, patamar que deve se manter no resultado final de 2025, segundo o economista. Ele estima que o PIB deste ano ficará em torno de 2%, ante 3,4% em 2024 – a projeção fica abaixo da estimativa de mercado no boletim Focus desta semana (2,16%). “A desaceleração só não é maior pela contribuição do agro e do próprio setor externo. Apesar do tarifaço e das tempestades externas”, disse Ruiz de Gamboa. Segundo ele, o ritmo mais fraco da economia continuará no último trimestre de 2024 e no primeiro de 2025. “Mesmo que o Banco Central reduza a Selic em janeiro, o efeito sobre a atividade demora a se concretizar.”

Escolhas do Editor

Em relação ao resultado positivo da indústria, o economista observa que o setor “tem dois mundos”. A indústria de transformação cai (-0,6%) ante o terceiro trimestre do ano passado. A extrativa é que cresce (+11,9%), com alta da extração de petróleo e gás. “Isso tem a ver com as exportações, que também aumentaram”, afirmou Ruiz de Gamboa. A construção sobe 2% – nesse caso, o IBGE destaca aumento do emprego e da massa salarial. O comércio (atacadista e varejista) cresceu 0,9% no terceiro trimestre, ante igual período de 2024 (o PIB total do setor de serviços subiu 1,3%). Em quatro trimestres, sobe 2,2%. Ainda nesse acumulado, as exportações têm alta de 2,5% e as importações, de 8,6%.

Na variação trimestral (0,1%), o IBGE apurou resultados positivos na indústria (0,8%) e na agropecuária (0,4%). Os serviços, que representam quase 70% do total, não tiveram variação significativa, segundo o instituto (0,1%). Em relação ao terceiro trimestre do ano passado (1,8%), o principal avanço foi na agropecuária: 10,1%. A indústria teve alta de 1,7% e os serviços, de 1,3%. A taxa de investimento oscilou para baixo, de 17,4% (2024) para 17,3% do PIB. E a taxa de poupança manteve-se em 14,5%.

O IBGE também revisou, como faz periodicamente, os resultados de 2024. O crescimento do PIB do ano passado continuou em 3,4%, enquanto o de serviços foi de 3,7% para 3,8% e o da indústria, de 3,3% para 3,1% A agropecuária passou de -3,2% para -3,7%. O PIB do primeiro trimestre deste ano (sobre igual período de 2024) foi de 2,9% para 3,1% e o do segundo, de 2,2% para 2,4%.

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