Lula apoia fim da escala 6x1 e leva bandeiras de 2026 à TV em pronunciamento de Natal

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu o fim da escala 6×1, sem redução de salário, no tradicional pronunciamento de Natal, nesta quarta-feira (24), e levou à rede nacional de rádio e televisão temas que devem compor o discurso da campanha petista para as eleições de 2026.

Em sua fala, que começou a ser transmitida às 20h30 e tem duração de 6 minutos e 39 segundos, Lula faz um balanço dos avanços obtidos pelo governo no ano, destacando a “vitória” obtida na negociação com o presidente Donald Trump sobre as tarifas impostas pelos Estados Unidos.

O chefe do Executivo também exaltará a ampliação da faixa de isenção do IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5.000 mensais, uma das principais bandeiras da campanha de Lula e aposta do governo para o pleito do próximo ano.

Outra bandeira que deve ser explorada na disputa eleitoral de 2026, o fim da escala 6×1 é uma pauta que tramita em mais de uma proposta no Congresso Nacional e tem apoio do Planalto. Uma PEC (proposta de emenda à Constituição) sobre o tema, do senador Paulo Paim (PT-RS), foi aprovada na CCJ (Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania) do Senado em dezembro, com o objetivo de reduzir gradualmente a escala de trabalho de 44 horas semanais para 36 horas.

No discurso de Natal, Lula defende que o direito ao tempo é urgente e que não é justo ter apenas um dia de descanso como tempo livre.

“Nenhum direito é tão urgente, hoje, quanto o direito ao tempo. Não é justo que uma pessoa seja obrigada a trabalhar duro durante seis dias e que tenha apenas um dia para descansar o corpo e a cabeça, passear com a família, cuidar da casa, se divertir e acompanhar de perto o crescimento dos filhos. O fim da escala 6×1, sem redução de salário, é uma demanda do povo que cabe a nós, representantes do povo, escutar e transformar em realidade”, disse.

Em conversa com jornalistas, em dezembro, o presidente já havia declarado que o país estava pronto para encurtar a jornada de trabalho. Além de Lula, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), também afirmou que o tema “com certeza” será discutido em 2026.

O presidente Lula também faz referência ao combate ao crime organizado em sua fala. O tema da segurança é uma das principais preocupações dos brasileiros, segundo o último Datafolha. A pauta promete ser central para as eleições de 2026 e se tornou alvo de embates políticos após a operação policial que deixou 121 mortos no Rio de Janeiro, em outubro deste ano, sendo a mais letal da história.

Lula destaca a operação Carbono Oculto, deflagrada em agosto, que mirou as relações entre o PCC (Primeiro Comando da Capital), postos de combustível e empresas da Faria Lima. A ação mirou cerca de 300 alvos e gerou ainda desdobramentos, em conjunto com órgãos estaduais e a Receita Federal.

“Nós sabemos que o crime e a violência são dois grandes desafios do nosso país. Neste ano, a Polícia Federal comandou a maior operação já feita contra o crime organizado. O combate às facções criminosas chegou pela primeira vez ao andar de cima, e nenhum dinheiro ou influência vai impedir a Polícia Federal de ir adiante”, disse.

Galeria Receita Federal deflagra a Operação Spare contra o crime organizado Nome da operação se refere ao boliche, simbolizando a continuidade da ação contra a organização criminosa após a ‘Carbono Oculto’ https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1844244145149975-receita-federal-deflagra-a-operacao-spare-contra-o-crime-organizado *** Sobre violência, Lula comenta também sobre os casos de feminicídio, que neste ano geraram protestos de mulheres em todo o país cobrando combate à violência contra a mulher. Na cidade de São Paulo, houve recorde de casos de feminicídio em 2025, com 53 ocorrências.

No pronunciamento, o presidente afirma que vai liderar um esforço envolvendo ministérios e outras instituições para combater a violência de gênero. “Nós que somos homens devemos fazer um compromisso de alma. Em nome de tudo que é mais sagrado, seja um aliado”, disse.

Lula também passa por temas que marcaram o país ao longo de 2025, como o tarifaço de Donald Trump. Em agosto, passou a vigorar uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros exportados aos EUA. Ao justificar a elevação das tarifas, o presidente americano criticou as decisões do STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), condenado por trama golpista.

Nos últimos meses, houve uma aproximação entre Trump e Lula depois de o republicano ter dito que havia tido “química” com o presidente brasileiro. Em novembro, o americano retirou tarifas de 40% sobre alguns produtos agrícolas vendidos pelo Brasil, como café e carne.

“Mostramos ao Brasil e ao mundo que somos do diálogo, da fraternidade e não fugimos da luta. Apostamos na diplomacia, protegemos nossas empresas, evitamos demissões. Negociamos o fim do tarifaço, e ultrapassamos, agora em dezembro, a marca de 500 novos mercados abertos aos nossos produtos. Nossa soberania e nossa democracia saíram vencedoras”, afirmou Lula no discurso.

Com as negociações, o percentual de produtos sobretaxados caiu de 60% do total de exportações para os atuais 22%, segundo cálculo do governo brasileiro.

Outro assunto abordado por Lula no discurso é a isenção do IR para quem ganha até R$ 5.000 mensais, sancionada pelo presidente no fim de novembro. No pronunciamento, Lula afirma que a medida era uma grande vitória.

“Para milhões de brasileiras e brasileiros, o último dia do ano também será o último dia com Imposto de Renda descontado no salário. A partir de janeiro, com o fim do IR, milhões de famílias terão um dinheiro extra todos os meses. Isso vai aliviar as contas, aquecer ainda mais a economia e beneficiar o país inteiro”, declarou.

O projeto prevê também um desconto progressivo no IR para quem recebe entre R$ 5.000 e R$ 7.350 por mês, que será reduzido para contribuintes nesta última faixa. Cálculos do Ministério da Fazenda estimam que cerca de 15 milhões de brasileiros devem deixar de pagar a alíquota com a nova regra.

Para compensar a perda de receita com a isenção, a proposta cria um imposto mínimo de 10% sobre os super-ricos, grupo de 140 mil contribuintes com ganhos acima de R$ 600 mil por ano -ou R$ 50 mil por mês.

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