GOIÂNIA, GO (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez novas críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e afirmou que o Brasil não recebeu resposta dos americanos desde que tentou contato após o primeiro anúncio de taxação feito pelos EUA.
“Estamos com muita tranquilidade, meu vice-presidente [Geraldo Alckmin] e o Mauro Vieira [ministro das Relações Exteriores] estão negociando há mais de dois meses, desde aquela primeira taxação. Temos uma equipe de negociação”, disse Lula durante discurso na abertura do 60º Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes), na UFG (Universidade Federal de Goiás), em Goiânia.
“Não recebemos nenhuma resposta”, afirmou o presidente. “A resposta que nós recebemos foi a matéria publicada no jornal dele, no zap dele, no portal dele. E a carta é o seguinte: ‘Ou dá ou desce. Essa é a lógica da carta.”
Desde o anúncio da sobretaxa, tanto o presidente quanto a equipe do governo têm reagido de forma contrária à medida. Em entrevistas, Lula tem confrontado as interferências de Trump, incluindo com ameaças de taxação recíproca.
Segundo integrantes do governo e representantes dos setores da indústria, uma resposta comercial da mesma dimensão daquela imposta por Trump poderia prejudicar ainda mais a economia brasileira.
Além disso, Lula tem criticado diretamente Jair Bolsonaro (PL) -citado na carta do presidente americano como um “perseguido” pela justiça brasileira- e Eduardo Bolsonaro (PL-SP), deputado federal e filho do ex-presidente, que tem apoiado as medidas do americano.
Também nesta quinta-feira, Bolsonaro se esquivou de qualquer responsabilidade pela decisão de Trump de sobretaxar o Brasil. O ex-presidente ainda agradeceu a Deus pela eleição do aliado nos EUA e culpou o governo Lula pelo entrave comercial e político com os americanos.
Lula também concedeu entrevista à CNN Internacional, que veiculada nesta quinta. À emissora, Lula afirmou que ainda não considera a ameaça da sobretaxa de 50% como uma “crise” com o país americano e defendeu que é preciso sentar à mesa e negociar com a gestão Trump.
Ele exaltou que sempre manteve bom diálogo com outros presidentes americanos e lembrou a relação de 200 anos entre os dois países, algo que ele tem também repetido nos últimos dias.
Ele disse que Trump foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos, “e não imperador do mundo”.
O presidente rejeitou que divergências ideológicas entre Trump e ele poderão atrapalhar as negociações e que não há o desejo de romper com o país americano, mas, por outro lado, afirmou que o Brasil não quer ser refém dos Estados Unidos.
Em outro momento, disse que o governo quer negociar, mas não aceitará nenhuma imposição. “O Brasil não aceitará nada que lhe for imposto”, disse. Trump, disse ele, precisa respeitar a soberania brasileira.
Lula também mencionou à CNN que o Brics, grupo de países de economia emergente que foi alvo de críticas recentes de Trump, não foi criado para “brigar com nenhum país”.