Mesmo com desaceleração, desemprego é o menor desde 2014. Comércio cresce, e renda bate recorde

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País tem 102,7 milhões de ocupados e 7,5 milhões de desempregados
(Marcelo Camargo/Agência Brasil)
  • Taxa subiu no trimestre, mas é a menor para o período. São 7,5 milhões de desempregados, 701 mil a mais no trimestre e 1,1 milhão a menos ante 2024
  • Emprego com carteira é recorde, o que segundo o IBGE se explica pela manutenção das contratações no comércio. Rendimento põe mais R$ 20 bilhões na economia
Por Vitor Nuzzi

[AGÊNCIA DC NEWS]. A taxa de desocupação (desemprego) foi a 6,8% no trimestre encerrado em fevereiro, segundo o IBGE. Cresceu em relação ao trimestre imediatamente anterior (6,1%), como ocorre em toda a série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, mas é a menor para o período, ao lado de 2014. O país tem agora estimados 102,7 milhões de ocupados (-1,2% no trimestre e +2,4% ante igual período de 2024, ou mais 2,4 milhões). E 7,5 milhões de desempregados (+10,4% e -12,5%, respectivamente, ou 700 mil a mais no trimestre e 1,1 milhão a menos em um ano). O emprego com carteira assinada é recorde: 39,6 milhões de pessoas. A renda também cresceu e atingiu seu maior valor. Analistas, no entanto, identificam sinais de desaceleração no mercado de trabalho.

“Esta alta [da taxa de desemprego] segue o padrão sazonal da Pnad Contínua, com a tendencia de expansão da busca por trabalho nos meses do primeiro trimestre de cada ano”, afirmou a coordenadora de pesquisas domiciliares do IBGE, Adriana Beringuy. Segundo ela, “a expansão do emprego com carteira está relacionada com a manutenção das contratações no comércio”. Entre as atividades do setor privado, o comércio (que inclui reparação de veículos) foi o que teve maior alta na ocupação em relação a 2024: 3,6%, o equivalente a mais 690 mil postos de trabalho. No trimestre, o emprego ficou estável (0,2%). Agora, o total de ocupados no comércio está em 19,7 milhões, o que representa 19,1% do total – essa participação era de 18,9% há um ano.

Na análise do CEO do Grupo Studio, Carlos Braga Monteiro, o resultado divulgado nesta sexta-feira (28) pelo IBGE reflete parcialmente um efeito sazonal. Mas pode indicar também tempos mais difíceis. “A política monetária mais restritiva, evidenciada pela elevação da Selic para 14,25% ao ano, também contribui para a desaceleração do mercado de trabalho, ao encarecer o crédito e desestimular investimentos e consumo”, afirmou. “Esse cenário sugere moderação no crescimento econômico nos próximos meses, com projeções do PIB reduzidas para 1,98% em 2025. Assim, espera-se um período de crescimento econômico mais lento, com impactos no emprego e na renda, enquanto a inflação permanece acima da meta estabelecida.” O CEO da MA7 Negócios, André Matos, acrescenta: “Sem uma recuperação consistente da demanda interna, o mercado de trabalho pode enfrentar um período prolongado de estagnação”.

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A desaceleração no trimestre era esperada, observa o CEO da Referência Capital, Pedro Ros. “A política monetária restritiva tem freado o ritmo de contratações, à medida que as empresas enfrentam custos financeiros mais altos e menor apetite para investimentos”, afirmou. “No entanto, a taxa ainda se mantém em um patamar historicamente baixo, sugerindo que o mercado de trabalho continua resiliente. O desafio agora é equilibrar a manutenção do emprego com a necessidade de controlar a inflação, sem comprometer o crescimento econômico no médio prazo.”

Ainda na comparação anual, o emprego com carteira no setor privado cresceu (4,1%, para 39,6 milhões) acima do emprego sem carteira (1,9%, 13,5 milhões) e do trabalho por conta própria (1,7%, 25,9 milhões). Com esses resultados, a taxa de informalidade recuou para 38,1% dos ocupados, ante 38,7% tanto no trimestre anterior como em igual período de 2024. Ainda assim, o mercado tem 39,1 milhões de trabalhadores informais.

Além do emprego com carteira, a Pnad Contínua registrou recorde no rendimento médio real (descontada a inflação), que chegou a R$ 3.378. É o valor mais elevado da série histórica, iniciada em 2012 – a alta foi de 1,3% no trimestre e 3,6% no ano. “A alta do rendimento no trimestre está relacionada à redução do contingente de trabalhadores informais em certos seguimentos das atividades econômicas, crescendo, portanto, a proporção de ocupações formais com maiores rendimentos”, disse Adriana Beringuy, do IBGE. A massa de rendimentos (RS$ 342 bilhões) também bateu recorde, com crescimento de 6,2% em 12 meses – R$ 20 bilhões a mais.

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