Negociação fica mais forte agora, e assunto não está encerrado, diz Alckmin sobre tarifaço

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BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, afirmou nesta quinta-feira (31) que o plano de amparo a setores da economia brasileira afetados pela tarifa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está quase pronto e que as negociações entram em sua etapa mais forte a partir de agora.

“Aqueles 35,9% [das exportações] que foram atingidos de fato pela tarifa, nós vamos lutar pra diminuir. Não damos isso como assunto encerrado. A negociação começa mais forte agora”, disse Alckmin, em entrevista ao programa Mais Você.

Nesta última quarta (30), Trump assinou o decreto que formalizou a aplicação da tarifa de 50% aos produtos brasileiros que vão para os EUA, com exceção de quase 700 itens, entre eles suco e polpa de laranja, alguns minérios e equipamentos de tecnologia.

“Esse plano está praticamente pronto e foca no emprego, preservar o emprego e a produção. Agora, tivemos ontem o tarifaço, então o presidente Lula (PT) vai bater o martelo porque isso tem impacto de natureza financeira, tributária”, diz.

O percentual citado por Alckmin, de número de exportações afetadas pela tarifa americana, faz parte de um estudo feito pelo Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços), pasta na qual é ministro.

Em nota divulgada horas mais tarde, o Mdic informou que o cálculo considera que, da fatia poupada das exportações, 44,6% ficaram de fora da nova tarifa anunciada (o que inclui aeronaves, suco e outros itens), enquanto 19,5% estão abarcadas na seção 232, que contempla, por exemplo, os setores de aço e alumínio, já sobretaxados em 50% desde junho.

“Estão expressamente excluídas da cobertura da ordem executiva, assinada na quarta-feira, 45% das vendas brasileiras para o mercado americano (US$ 18 bilhões em 2024)”, disse o Mdic. “A maior parte das exportações brasileiras (64,1%) segue concorrendo com produtos de outras origens no mercado americano em condições semelhantes.”

O comunicado afirmou ainda que produtos em trânsito não serão afetados pelo tarifaço. Segundo o ministério, a decisão de Trump “exclui da majoração tarifária mercadorias que tenham sido embarcadas, no Brasil, até 7 dias após a data da ordem executiva, observadas as condições previstas”.

De acordo com o vice-presidente, a perspectiva é de que a inflação caia, mesmo com o aumento da tarifa, pois fatores como o preço do dólar e uma grande safra devem auxiliar a baixar preço de alimentos, por exemplo.

“Uma supersafra também ajuda a derrubar preço de comida. Então é importante um clima bom. A gente precisa ficar atento ao dólar, então não deixar escalar a crise para não subir o dólar, porque o dólar reflete muito rápido no processo inflacionado”, explica Alckmin. “Mas eu diria que a tendência da inflação é cair. Ela deve ser reduzida, Já começou por alimentos. [O setor de] serviços ainda resiste um pouco mais, mas estou otimista com a questão inflacionária.”

A aplicação da tarifa começa a valer a partir da semana que vem. Os 50% substituem os 10% que já haviam sido anunciados por Trump a diversos países, dentre eles o Brasil.

Desde o começo dos anúncios, Alckmin está representando o Brasil na negociação com os EUA. Ao mesmo tempo, por também estar à frente do Mdic, Alckmin vem se reunindo com empresários e representantes de setores da indústria, do agronegócio, da tecnologia e outros segmentos para tratar dos impactos da medida americana na economia brasileira.

Após as reuniões, o vice-presidente concede falas quase que diariamente a coletivas de imprensa, em que faz um balanço do que foi discutido com os representantes.

Com a escolha desta quinta por falar a um programa matinal, o governo mirou em um contato com um público mais amplo, adotando uma linguagem mais simplificada sobre o tema. O vice-presidente comeu coxinhas e mostrou meias com temática de café durante a conversa, em tom descontraído.

Na entrevista, Alckmin evitou detalhar medidas previstas no plano de amparo aos setores e de contingenciamento, além de ter respondido a perguntas de espectadores acerca do tarifaço enquanto tomava café da manhã, quadro tradicional conduzido pela apresentadora Ana Maria Braga.

De acordo com o governo, as tentativas de diálogo com os americanos já duram meses, o que incluiu o envio de duas cartas oficiais ao país, sem retornos.

O principal contato com os EUA, segundo o vice-presidente, tem sido com o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, com quem reiterou a disposição do governo brasileiro de negociar para evitar a sobretaxa.

Na carta em que antecipou o anúncio de 50%, Trump usou como justificativa para a sobretaxa o tratamento da justiça brasileira ao ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), acusando o Brasil de perseguição pelos processos enfrentados por ele no STF (Supremo Tribunal Federal).

Lula e a equipe do governo, no entanto, já afirmaram que as decisões do Judiciário e aspectos da política interna brasileira não estão abertos a negociação, e condenaram a contaminação política na relação econômica feita pelo americano.

Diferentes setores ainda avaliam o impacto das tarifas. A Abal (Associação Brasileira do Alumínio) afirmou que, em uma análise preliminar, a nova tarifa não será cumulativa à alíquota de 50% vigente desde junho. A entidade afirma que, apesar disso, “os impactos já são expressivos” pois os EUA são o terceiro principal destino das exportações da indústria brasileira de alumínio (atrás apenas de Canadá e Noruega).

De acordo com a entidade, os prejuízos totais ao setor poderão alcançar US$ 210 milhões (R$ 1,15 bilhão), considerando os efeitos diretos já contabilizados e as estimativas até o fim do ano.

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